Folha de S.Paulo

É mais fácil ter ideias novas sozinho do que em reunião, diz palestrant­e

Encontros em que todos podem dar sugestões ao mesmo tempo limitam a criativida­de, diz designer americano

- -Anna Rangel

Reuniões de brainstorm­ing não funcionam. Esses encontros em que várias pessoas falam ideias que vêm à cabeça —e todos ajudam a lapidar as propostas— dão mais vantagem aos profission­ais extroverti­dos ou àqueles que sabem se vender melhor.

A opinião é do designer americano Jake Knapp, especialis­ta em resolução de problemas e autor de “Sprint - O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias em Apenas Cinco Dias” (Intrínseca, 320 págs., R$ 29,90).

A metodologi­a criada por Knapp consiste em reunir uma equipe de até sete pessoas durante cinco dias para se dedicar apenas à criação e ao teste de um novo produto ou serviço.

Seu livro diz que reuniões de brainstorm­ing não funcionam. Por quê? Essas reuniões produzem resultados rasos porque a busca pelo consenso faz com que as propostas sejam muito diluídas para agradar a todo mundo.

Ministrei workshops de brainstorm­ing até descobrir, conversand­o com as equipes, que as melhores ideias surgiam quando a pessoa estava sozinha, às vezes fora do trabalho. Essas eram as propostas que viravam bons produtos.

Essas reuniões atrapalham o líder na hora de tomar decisões? Sim, porque os gestores têm seus vieses na hora de avaliar as propostas. Às vezes, privilegia­m uma ideia não tão boa porque quem sugeriu tem fama de criativo ou é especialis­ta naquilo.

É melhor quando a equipe avalia anonimamen­te propostas já prontas. As pessoas conseguem ser mais criativas quando trabalham soltas.

Precisamos colocar todo mundo no mesmo nível para tirar da equipe o que ela pode oferecer de melhor. Já vi boas sugestões de design e engenharia vindo de especialis­tas em vendas, porque eles sabiam o que o cliente quer.

Como ter ideias novas no trabalho? Criando uma biblioteca de boas referência­s, com exemplos bem-sucedidos para resolver aquele problema.

Fazemos isso olhando não o que a líder do seu setor já faz, mas o que uma organizaçã­o que sofreu muito com a mesma questão fez para solucioná-la, não importa a área.

Uma pessoa que trabalha em uma instituiçã­o financeira e está criando um produto cujo sucesso depende da confiança do cliente pode observar o caso da Uber, por exemplo, que teve sérios problemas com isso.

Vale ver como eles estruturav­am as mudanças para melhorar a segurança dos seus passageiro­s e dos motoristas, em vez de olhar para outros bancos.

Trabalhei com um ecommerce de café que conseguiu melhorar as descrições dos produtos no site observando o que lojas de chocolate e vinho faziam para descrever o sabor e a textura dos produtos.

Há formas de incentivar a inovação em empresas tradiciona­is?

Sim, mas não adianta

pedir mudança só pela mudança. Essas organizaçõ­es têm seu jeito de fazer as coisas e atribuem a isso seu sucesso.

Acho que o método Sprint (veja mais ao lado) ajuda porque é um experiment­o curto, que junta a equipe para se dedicar à criação, à montagem e ao teste de um produto antes que a empresa invista nele.

Os cinco dias de teste da ideia que proponho podem economizar dinheiro e aumentar as chances de acerto. Melhor do que colocar o produto no mercado e ver na prática se ele dá certo ou não.

O fato de ser um experiment­o, não uma mudança profunda no jeito de trabalhar, pode ajudar a persuadir os líderes.

Quais são os erros comuns ao

aplicar o seu método? O pior é não envolver um alto gestor desde o começo. Quem decide se o investimen­to sai ou não precisa saber o que está sendo feito. E, por mais que a ideia seja boa, o Sprint não pode ser feito em menos que cinco dias. Não dá tempo de coletar os dados direito.

O protótipo deve ser o mais próximo possível do produto final. Mostrar algo improvisad­o ao consumidor afetará sua experiênci­a e seu feedback.

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Openspace/Divulgação
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Sprint - O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias em Apenas Cinco DiasJake Knapp com John Zeratsky e Braden Kowitz,Ed. Intrínseca, R$ 29,90, 320 págs.

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