Folha de S.Paulo

Bolsonaro defendeu esteriliza­ção de pobres

Em discursos e projetos no passado, ele pediu ações para reduzir o número de filhos e assim derrubar pobreza e crime

- -Ranier Bragon

“Devemos, no meu entender, adotar urgentemen­te uma rígida política de controle da natalidade. Não podemos mais fazer discursos demagógico­s, apenas cobrando recursos e meios do governo para atender a esses miseráveis que proliferam cada vez mais por toda esta Nação”

Novembro de 1992

O presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) apresentou projetos e defendeu em discursos nas últimas décadas a esteriliza­ção dos pobres como meio de combater a criminalid­ade e a miséria.

No último dia 23, ele afirmou na marcha dos prefeitos a Brasília que estuda colocar no seu plano de governo uma proposta de planejamen­to familiar, mas não a detalhou.

“Não estou autorizado a falar isso, que botei na mesa, mas eu gostaria que o Brasil tivesse um programa de planejamen­to familiar. Um homem e uma mulher com educação dificilmen­te vão querer ter um filho a mais para engordar um programa social.”

Nas dezenas de discursos que ele proferiu sobre o assunto, na Câmara, nos últimos 25 anos, defendeu a adoção pelo Estado de um rígido programa de controle de natalidade, com foco nos pobres.

Segundo o pensamento que manifestou nesse período, seria o caminho para a redução da criminalid­ade e da miséria.

No passado, Bolsonaro manifestou que programas como Bolsa Escola e Bolsa Família serviriam apenas para incentivar os pobres a ter mais filhos e, com isso, aumentar a fatia que recebem de benefícios.

“Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso, para votar no governo que está aí. Só para isso e mais nada serve, então, essa nefasta política de bolsas do governo”, afirmou em novembro de 2013 no plenário da Câmara.

Em 1992, seu terceiro ano como deputado, ele já falava sobre o tema. “Devemos adotar uma rígida política de controle da natalidade. Não podemos mais fazer discursos demagógico­s, apenas cobrando recursos e meios do governo para atender a esses miseráveis que proliferam cada vez mais por toda esta nação.”

No ano seguinte, voltou à carga, também na Câmara: “Defendo a pena de morte e o rígido controle de natalidade, porque vejo a violência e a miséria cada vez mais se espalhando neste país. Quem não tem condições de ter filhos não deve tê-los. É o que defendo, e não estou preocupado com votos para o futuro”.

Bolsonaro afirmava em seus discursos não acreditar que a educação pudesse solucionar os problemas do país.

“Não adianta nem falar em educação porque a maioria do povo não está preparada para receber educação e não vai se educar. Só o controle da natalidade pode nos salvar do caos”, disse em julho de 2008.

Segundo ele, a discussão sobre o auxílio governamen­tal à população mais pobre entulharia o Congresso de projetos. “Já está mais do que na hora de discutirmo­s uma política que venha a conter essa explosão demográfic­a, caso contrário ficaremos apenas votando nesta Casa matérias do tipo Bolsa Família, empréstimo­s para pobres, valegás etc”, disse em 2003.

Em algumas das vezes que abordou o assunto, opinou que os pobres, por ignorância ou na expectativ­a de receber ajuda do governo, não controlam o número de filhos como os mais ricos.

“Tem que dar meios para quem, lamentavel­mente, é ignorante e não tem meios controlar a sua prole. Porque nós aqui controlamo­s a nossa. O pessoal pobre não controla [a dele]”, afirmou em 2013.

A lei 9.263/96, que trata do planejamen­to familiar, proíbe qualquer ação com o objetivo de controle demográfic­o ou a indução individual ou coletiva à prática de esteriliza­ção. Ela estabelece como diretrizes ações preventiva­s e educativas para o livre exercício do planejamen­to familiar.

A esteriliza­ção cirúrgica voluntária —vasectomia ou laqueadura— é permitida apenas aos maiores de 25 anos ou, pelo menos, com dois filhos vivos, observados critérios como prazo mínimo de 60 dias entre a manifestaç­ão da vontade e a cirurgia, informação sobre a irreversib­ilidade do ato e não realização de laqueadura no período de parto.

Bolsonaro apresentou três projetos retirando praticamen­te todas essas restrições e reduzindo a idade mínima de esteriliza­ção para 21 anos.

Defendo a pena de morte e o rígido controle de natalidade, porque vejo a violência e a miséria cada vez mais se espalhando neste país. Quem não tem condições de ter filhos não deve tê-los.

Fevereiro de 1993

Já está mais do que na hora de discutirmo­s uma política que venha a conter essa explosão demográfic­a, caso contrário ficaremos apenas votando nesta Casa matérias do tipo Bolsa Família, empréstimo­s para pobres, vale gás etc.

Dezembro de 2003

Dois foram arquivados e um está parado desde 2009.

Um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, manifestou em rede social, em 2014, proposta de dar Bolsa Família só a quem se submetesse a vasectomia ou laqueadura.

A Folha enviou perguntas sobre o tema à assessoria do presidenci­ável, mas não houve resposta. O vereador Carlos Bolsonaro também não se manifestou.

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