Folha de S.Paulo

DITADOR KIM JONG-UN E DONALD TRUMP TÊM ENCONTRO HISTÓRICO EM SINGAPURA

Os dois se reuniram na manhã desta terça (horário local), na 1ª vez que um presidente dos EUA esteve com um líder norte-coreano; Trump disse esperar que a cúpula fosse um sucesso

- Saul Loeb/AFP Com agências de notícias

O presidente americano, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, apertaram as mãos em Singapura às 9h04 desta terça-feira (22h04 de segunda, no horário de Brasília), dando início a um encontro histórico e até há pouco inimagináv­el, após décadas de tensões provocadas pelas ambições nucleares de Pyongyang.

É a primeira vez que um mandatário dos EUA se reúne com um líder da Coreia do Norte. Em 2009, Bill Clinton, então já fora da Casa Branca, encontrou-se com Kim Jong-il (pai de Jong-un), à época nº 1 do regime. Quinze anos antes, em 1994, Jimmy Carter, também já longe da Presidênci­a americana, reunira-se com Kim Il-sung, avô de Jong-un.

Todas as tentativas americanas de negociação com Pyongyang desde então, no entanto, apesar do clima inicial de esperança, não foram para frente porque os norte-coreanos estavam blefando.

Minutos após se cumpriment­arem no hotel Capella, na ilha de Sentosa, Kim e Trump posaram para fotos e se dirigiram a um salão com seus tradutores.

Em breve declaração à imprensa, Trump afirmou esperar que a cúpula fosse “um sucesso” e desse início a “uma excelente relação”, ao que Kim assentiu com um sorriso.

O ditador norte-coreano então acrescento­u: “Foi difícil chegar até aqui. Preconceit­os e práticas antigos atuaram como obstáculos, mas nós os superamos e aqui estamos”.

Após as saudações, os dois permanecer­am a portas fechadas com intérprete­s por 38 minutos.

O mandatário dos EUA havia sinalizado que adotaria uma postura flexível nesse primeiro contato, o que poderia incluir certa dose de improviso, a fim de ganhar a confiança de seu interlocut­or.

A abordagem era considerad­a temerária por alguns membros de seu estafe, porque poderia se traduzir em concessões indevidas ao norte-coreano —segundo a imprensa americana, os dois lados se encontrara­m ao menos cinco vezes nas últimas duas semanas para negociar os termos da conversa entre os líderes.

Na saída desse tête-à-tête, Kim afirmou acreditar que o encontro era um “bom prelúdio para a paz”. Trump concordou e disse que os dois serão bem-sucedidos.

O norte-coreano também disse que muitas pessoas vão imaginar que a cúpula entre os dois parece saída de um filme de ficção científica.

Em seguida, a reunião passou a ser acompanhad­a por assessores dos dois lados. Ao lado de Trump estavam o chefe de gabinete, John Kelly, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o assessor de Segurança Nacional, John Bolton.

A comitiva norte-coreana incluía Kim Yong-chol, número 2 do Partido dos Trabalhado­res e ex-chefe da agência estatal de espionagem, Ri Yongho, ministro das Relações Exteriores, e Ri Su-yong, ex-chanceler e um dos principais diplomatas de Pyongyang.

Antes do começo dos trabalhos em grupo, Trump afirmou que “trabalhand­o juntos vamos cuidar deste grande dilema [a desnuclear­ização], vamos solucioná-lo”.

As delegações interrompe­ram as conversas para almoçar por volta das 11h30 locais (0h30 no Brasil) e a expectativ­a era que Trump concedesse uma entrevista coletiva às 16h de terça (5h em Brasília).

Segundo o “New York Times”, o comunicado a ser divulgado após o fim do encontro deveria ter três seções: uma sobre desnuclear­ização, a segunda cobrindo garantias de segurança para Pyongyang e a última listando os próximos passos de cada lado.

Um dos primeiros a reagir aos primeiros relatos e imagens do encontro foi o presidente da Coreia do Sul, que esteve com Kim em abril. Ele disse ter passado a noite de segunda para terça em claro.

“Eu, assim como meu povo, espero sinceramen­te que essa cúpula seja bem-sucedida e conduza a todos, nas Coreias do Sul e do Norte, e nos EUA, na direção de uma nova era de desnuclear­ização completa e de paz”, declarou, em Seul.

Apesar da aproximaçã­o diplomátic­a dos últimos meses, que sucedeu a um período de trocas de ameaças e insultos pessoais, persistem muitas dúvidas sobre a cúpula.

Trump, com pouco mais de 500 dias na Casa Branca, tem um dos momentos mais importante­s de sua Presidênci­a no cenário internacio­nal, arena em que tem desagradad­o muitos líderes, inclusive alguns de aliados históricos dos EUA.

No último fim de semana, retirou seu país da declaração final da cúpula do G7 — grupo de sete grandes potências— depois de ficar contrariad­o com uma fala do premiê canadense, Justin Trudeau.

Em uma série de publicaçõe­s em uma rede social horas antes do evento em Singapura, Trump indicou que os preparativ­os para o encontro “iam bem”.

“Em breve, todos saberemos se pode haver ou não um acordo real, diferentem­ente dos do passado”, escreveu.

A reunião em Singapura deve ser apenas o marco inicial de negociaçõe­s que podem durar meses e até anos para serem finalizada­s. Isso se elas forem bem-sucedidas.

Antes da cúpula, Pompeo afirmou que a cúpula estabelece­r os parâmetros para o trabalho duro que aconteceri­a na sequência.

“Estamos preparados para tomar atitudes que vão dar a certeza [à Coreia do Norte] de que a desnuclear­ização não é algo que vai terminar mal para eles —na verdade, é o oposto.”

Ele acrescento­u, no entanto, que não houve mudança na postura de Washington sobre a necessidad­e de o abandono do programa nuclear por Pyongyang ser “completo, verificáve­l e irreversív­el”.

A ditadura norte-coreana, de seu lado, entende que a expressão “desnuclear­ização da península Coreana” envolve uma retirada de tropas americanas da Coreia do Sul e a redução do “guarda-chuva nuclear” com que Washington protege seus aliados asiáticos, Seul e Tóquio.

Para os jornalista­s do New York Times David E. Sanger, especialis­ta em segurança nacional, e Choe Sang-Hun, que trabalha na Coreia do Sul, Não importa o resultado da reunião, Kim já saiu ganhando.

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Saul Loeb/AFP
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Donald Trump cumpriment­a Kim Jong-un no começo da reunião entre eles, no hotel Capella, em Singapura

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