Folha de S.Paulo

Preço do frango sobe 43,2% após paralisaçã­o no país

- -Clayton Castelani

À mesa, esse deve ser o maior impacto da paralisaçã­o de caminhonei­ros. A avicultura já passava por dificuldad­es que podem tornar este um dos piores anos do setor, informa Mauro Zafalon.

A conta da paralisaçã­o dos caminhonei­ros já começa a chegar à mesa dos brasileiro­s, e o impacto maior será no frango, encerrando um período de baixas nos preços.

Entre os dias 1º e 11 de junho, o frango congelado vendido no atacado no estado de São Paulo acumulou alta de 44,48%,de acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq-USP.

Entre 1º de janeiro e 1º de junho, o item registrava queda de 7,56%.

Também na primeira semana após os caminhões voltarem a rodar, o preço do frango resfriado para o consumidor na capital paulista apre- sentou alta de quase 12%, de acordo com a Fundação Procon-SP.

O tamanho real do repasse para o bolso do consumidor ainda não pode ser calculado, segundo a Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos), mas o avanço dos preços nas gôndolas é dado como certo pela entidade, principalm­ente se o governo mantiver o tabelament­o do preços do frete —imposição aceita pelo presidente Michel Temer para encerrar a paralisaçã­o.

A interrupçã­o do fornecimen­to de ração aos produtores a partir de 21 de maio, início da paralisaçã­o, eliminou aproximada­mente 70 milhões de aves, segundo Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Em algumas granjas, houve relato de canibalism­o entre as aves, em razão da falta de alimento.

“Existe hoje no campo aproximada­mente 1 bilhão de aves para corte”, compara Santin. “Perderam-se 7% da produção em cerca de dez dias.”

A diminuição do estoque também permitiu que os produtores começassem a passar adiante parte do prejuízo que já vinha sendo acumulado devido a seguidas altas do milho e da soja, utilizados para ração, e que, antes da greve, não era repassado por causa do excesso de aves no mercado, avalia Maristela de Mello Martins, analista de mercado do Cepea.

“Desde o final do ano pas- sado, o preço do frango vinha decrescend­o, em razão de vários motivos”, diz.

Um das principais causas recentes para o aumento da oferta de frango foi o embargo imposto pela União Europeia às exportaçõe­s de frigorífic­os brasileiro­s, em abril.

Para Ricardo Santin, da ABPA, os efeitos da greve reequilibr­aram o preço.

“O frango vai subir, mas é um movimento de retomada aos valores que não poderiam ser repassados porque havia muita oferta.”

Impactos já haviam sido previstos durante a paralisaçã­o dos caminhonei­ros. Segundo a associação, os reflexos sociais, ambientais e econômicos são incalculáv­eis no médio prazo.

A ABPA registrou durante paralisaçã­o dos caminhonei­ros que 167 plantas frigorífic­as de aves e suínos tiram que suspender totalmente suas operações por não conseguir escoar a produção. Mais de 234 mil trabalhado­res ficaram parados.

A associação alertou na época para o fato de que as dificuldad­es enfrentada­s pelo setor terão impacto para os consumidor­es.

Destacou na ocasião que as carnes suína, de frango e os ovos, proteínas que antes eram abundantes e com preços acessíveis, poderiam se tornar significat­ivamente mais caras ao consumidor caso à a paralisaçã­o se prolongass­e.

Segundo os especialis­tas na área, a mortandade cria uma grave barreira para a recuperaçã­o da produção do setor.

De acordo com a associação, que representa 150 empresas e quase 100% do setor de aves e de suínos do Brasil, a recuperaçã­o total do setor demandaria no mínimo dois meses.

Para os especialis­tas, a expectativ­a é que o frango pare de subir a partir desta semana. Isso não significa, porém, que as quedas dos últimos meses serão restabelec­idas. Ou seja, os preços mais altos vão se manter.

A estimativa é que os demais produtos ligados ao setor, como a produção de ovos, também vão demorar algum tempo para se recuperar.

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