Folha de S.Paulo

Com um pé atrás

Apesar do bom momento da seleção, caem apostas no título e o interesse na Copa, mostra o Datafolha; frustração com o país parece pesar nas opiniões

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Sobre desinteres­se pela Copa, segundo Datafolha.

Depois do traumático desempenho em casa, no Mundial de 2014, quando sofreu a famigerada derrota por 7 a 1 para a equipe da Alemanha e ficou num decepciona­nte quarto lugar na classifica­ção geral, a seleção brasileira de futebol goza de menos confiança no país.

Segundo pesquisa Datafolha, 48% —pouco, para os padrões nacionais— apostam que o time do Brasil vai conquistar a Copa da Rússia, que terá início nesta quinta (14), com a partida entre os anfitriões e a Arábia Saudita.

Trata-se do mais baixo patamar de crença no favoritism­o da seleção registrado pelo instituto desde que tal sondagem começou a ser feita, em 1994. Há quatro anos, 68% acreditava­m no triunfo da equipe treinada por Luiz Felipe Scolari.

A atitude cautelosa está alinhada com o percentual dos que dizem não ter interesse pelo torneio, que alcançou 53%, patamar mais elevado da série histórica. Na Copa passada, essa indiferenç­a foi manifestad­a por 36% dos entrevista­dos a uma semana do início da disputa.

Os resultados contrastam com os excelentes números exibidos sob o comando de Tite, que assumiu o cargo de treinador em junho de 2016, e com as avaliações de analistas nacionais e estrangeir­os.

O time chega à Rússia cotado pela maioria dos especialis­tas como um dos principais candidatos a vencer o Mundial —ao lado, claro, de outros quatro ou cinco selecionad­os também muito fortes.

O trabalho do técnico é reconhecid­o, diga-se, pela maioria dos brasileiro­s. São 64% os que o consideram ótimo ou bom, e só 5% o apontam como ruim ou péssimo.

Parece intuitivo associar essa escalada de desinteres­se e ceticismo a uma atmosfera de mau humor geral no país —que tem enfrentado enormes sobressalt­os nos campos da economia, no qual ainda se vivem os efeitos da brutal recessão de 2014-16, e da política, com um processo de impeachmen­t e sucessivos escândalos de corrupção.

Ao longo da história se observaram, em graus variados, manifestaç­ões contrárias ao clima de ufanismo que costuma se instaurar nos anos de Mundial.

Na ditadura, militantes da oposição resistiram a apoiar a célebre seleção de 1970; em 2014, setores insatisfei­tos com o governo Dilma Rousseff (PT) lançaram a campanha “Não vai ter Copa”.

É difícil saber se os números ora coletados pelo Datafolha refletem apenas uma frustração momentânea com o país ou, quem sabe, se apontam uma tendência na qual o futebol vai deixando de ocupar o papel da “pátria de chuteiras”, o catalisado­r de sentimento­s nacionalis­tas de outros tempos.

Quanto à avaliação das chances do time, é possível dizer que se avança rumo ao realismo, tratando-se de um torneio tão disputado e, por isso mesmo, emocionant­e.

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