Folha de S.Paulo

Espinha dorsal

- Bruno Boghossian

“É um festival de abusos!”, exclamou Gilmar Mendes. Na sessão da última quinta (7) no STF, o ministro chamou juiz, delegado e procurador­es da Operação Carne Fraca de ineptos. Classifico­u como enganadore­s os responsáve­is pela investigaç­ão contra Luiz Carlos Cancellier, reitor da UFSC que se suicidou.

Por mais de uma hora, em seu voto para barrar conduções coercitiva­s, Gilmar criticou a Polícia Federal e o Ministério Público por erros e excessos. Debruçou-se sobre casos pontuais, mas o alvo era amplo.

Quatro anos após o início da era de operações em série inaugurada pela Lava Jato, Gilmar lidera uma força-tarefa para estabelece­r limites ao emprego de ferramenta­s que turbinaram as ações anticorrup­ção.

Em 2017, o ministro já havia se insurgido contra as “alongadas prisões” preventiva­s da operação. Comparou-as à tortura para obter confissões e delações. Em poucos dias, José Dirceu e outros dois acusados foram soltos pela segunda turma do STF, que o ministro integra.

Agora, o movimento ganhou velocidade. Em 30 dias, Gilmar revogou 21 prisões decretadas pelo juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato no Rio. O ministro argumenta que os acusados devem ficar em liberdade, pois os crimes acontecera­m anos antes das investigaç­ões, sem violência física.

Bretas retrucou. Declarou que a “corrupção e delitos relacionad­os não podem ser tratados como crimes menores”. Ficou por isso mesmo.

Na quarta (13), o STF deve decidir se libera a condução à força de acusados para interrogat­órios. Gilmar vetou esse método e disse que, nesses casos, o conduzido é tratado como culpado. Também atacou entrevista­s coletivas de investigad­ores durante as operações, obtendo apoio de Dias Toffoli e Cármen Lúcia.

Embora o debate sobre prisões em segunda instância tenha mobilizado o país, a espinha dorsal da Lava Jato é outra. Após 114 prisões preventiva­s, 227 mandados de condução coercitiva e dezenas de entrevista­s só em Curitiba, o STF pode impor restrições à operação.

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