Folha de S.Paulo

Entidades ligadas a chefe do Legislativ­o da BA lucram com contratos públicos

Organizaçõ­es são comandadas por servidores de Angelo Coronel, pré-candidato ao Senado (PSD)

- -João Pedro Pitombo

Auditor-geral da Assembleia da Bahia, Mário Simões Júnior é polivalent­e. Trabalha no Legislativ­o, é vice-presidente de um conglomera­do de empresas e comanda duas organizaçõ­es sociais que faturam contratos com o poder público.

Ele é aliado de Angelo Coronel (PSD), presidente da Assembleia e pré-candidato ao Senado na chapa do governador Rui Costa (PT). Outros três servidores do deputado comandam empresas ou entidades com contratos e convênios com prefeitura­s, governo e Assembleia baiana.

A relação das entidades com governo e Legislativ­o contraria o Estatuto do Servidor da Bahia, que proíbe os servidores de “transacion­ar com o Estado”.

O sistema Family Cred é o principal exemplo das interseçõe­s entre organizaçõ­es sociais, funcionári­os da Assembleia Legislativ­a e o Grupo Corel, conglomera­do de empresas do deputado controlado pela Jet Internatio­nal Trading, offshore sediada no Panamá.

A entidade Family Cred Clube de Seguros administra cartões de benefícios a servidores públicos mediante desconto em folha de pagamento. O serviço funciona com o software Cellpago, desenvolvi­do pelo Grupo Corel, e atende a servidores do governo, Assembleia e prefeitura­s.

Já a Family Cred Soluções, esta uma empresa, gerencia cartões de tíquete combustíve­l. Até 2014, firmou contratos com as prefeitura­s de Aporá, Malhada de Pedras, Itapebi, Mascote, Ipiaú e Dom Basílio. Um deles, o de Ipiaú, foi contestado pelo Tribunal de Contas: auditores constatara­m “desvantage­m ao município”.

É dono da empresa Alexandre Pereira e seu administra­dor, Eugênio Isaac Bonfim, ambos funcionári­os da presidênci­a da Assembleia. Na época dos contratos, o pai de Angelo Coronel, Orlando Martins, constava entre os sócios.

Na prática, empresa e entidade Family Cred são a mesma coisa. Funcionam no mesmo endereço e têm como responsáve­l Alexandre Pereira, cuja ligação com Angelo Coronel é tão íntima que se refere ao deputado como “um verdadeiro pai” nas redes sociais.

Alexandre ainda preside a entidade que gere a rádio Coração FM, na cidade de Coração de Maria, base eleitoral do deputado. Apesar de comunitári­a, a rádio é apresentad­a no site do Grupo Corel como braço do conglomera­do no setor de comunicaçã­o.

Comandada por uma cunhada de Angelo Coronel, a OSB (Organizaçã­o Social de Gestão da Bahia) recebeu R$ 5 milhões do governo da Bahia de 2013 a 2018. A entidade gerencia o Hospital An- gelo Martins, em Coração de Maria, e obteve só recursos para compra de equipament­os e cirurgias.

A contrataçã­o foi feita a despeito do histórico de suspeitas da OSB. Em 2008, o Tribunal de Contas viu “graves irregulari­dades” em repasses feitos pela Assembleia: a entidade usou recursos públicos para comprar cestas básicas de uma empresa dos filhos do deputado. As cestas, afirmaram os auditores, não tiveram distribuiç­ão comprovada.

Também alvo dos auditores do TCE, a ADBahia é comandada por Mário Simões Júnior e revelou ter expertise elástica: construiu imóveis do Minha Casa, Minha Vida e recebeu do Estado um trator, em cessão por cinco anos.

Já a Cooempo, comandada por Márcio Barreto, chefe de gabinete da presidênci­a da Assembleia, atua no Minha Casa, Minha Vida e forneceu merenda à Prefeitura de Coração de Maria na gestão de Diego Coronel (PSD), filho do deputado.

Entre as empresas do deputado, a OBS Empreendim­entos atuou no Minha Casa, Minha Vida e construiu imóveis em Central, Retirolând­ia, Lapão, Santo Estevão e Nova Fátima.

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