Folha de S.Paulo

Rússia acusa EUA de equipar rebeldes sírios para ataque

Porta-voz da Defesa diz que militares americanos ajudaram grupo que combate Assad a obter gás de cloro

- -Igor Gielow

A três dias do começo da Copa na Rússia, o país anfitrião acusou os Estados Unidos de estarem preparando um ataque contra a Síria, ditadura aliada de Moscou.

O alerta veio do general Igor Konashenko­v, porta-voz da Defesa, e é quase idêntico a outro desse militar, em março.

Na ocasião, ele disse que rebeldes contrários a Bashar alAssad tinham obtido gás de cloro para simular um ataque em um bastião de resistênci­a.

O objetivo seria incriminar Assad e justificar uma retaliação americana. Se foi de fato uma armação ou maquiaveli­smo extremo por parte de Assad e do Kremlin, não se sabe, mas o fato é que o roteiro se cumpriu quase que exatamente um mês depois.

Houve um suposto ataque químico, e os EUA lideraram uma retaliação com ajuda de franceses e britânicos.

Nada que tenha mudado o rumo da guerra civil de sete anos, mas taticament­e os EUA sinalizara­m à Rússia que sua força instalada desde 2015 no país árabe não tem como impedir uma ação ocidental.

Nesta segunda (11), Konashenko­v afirmou ter informaçõe­s de órgãos de inteligênc­ia de que forças especiais americanas ajudaram o Exército Sírio Livre a obter três cilindros de gás de cloro, material que seria usado na região de Deir ez-Zor, para desencadea­r uma situação como a de abril.

A diferença é o momento. A Copa está para começar, e Vladimir Putin quer entregar um espetáculo impecável. Nenhum evento esportivo no mundo tem tanta audiência quanto o campeonato.

A Folha mostrou, em março, que a Defesa russa tinha preocupaçã­o com incidentes na Ucrânia ou na Armênia. A evolução do cenário mostrou que a Síria é campo mais fértil para tal especulaçã­o.

Existe uma verdadeira paranoia entre autoridade­s russas acerca das intenções do Ocidente. Mesmo entre os críticos a Putin, ninguém se convenceu da explicação ocidental para o caso do espião envenenado com a filha no Reino Unido, em março.

Londres acusou Moscou de armar o ataque, embora houvesse dúvidas sobre o que o Kremlin ganharia com ele. O episódio levou a uma inédita expulsão mútua de diplomatas entre Ocidente e Rússia.

Os britânicos decretaram boicote político à Copa, e a única expectativ­a de presença de peso recai sobre a chanceler alemã, Angela Merkel.

Para complicar, o encontro do clube de nações ricas G7 na semana passada jogou mais água fria na diplomacia russa. A reunião acabou com um rompimento por parte dos EUA de Trump, mas viu críticas à Rússia se acumularem.

A ideia de um boicote geral à Copa, como sugeriu o pirotécnic­o chanceler britânico, Boris Johnson, não prosperou. Mas o clima diplomátic­o está horrendo para o Kremlin, e qualquer faísca que possa unir o nome de Putin a um evento como um ataque químico supostamen­te patrocinad­o por seu protegido Assad é capaz de iniciar um incêndio.

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Ludovic Marin/Associated Press O presidente francês, Emmanuel Macron, participa de cerimônia militar em Paris FAÇA CHUVA OU FAÇA SOL

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