Folha de S.Paulo

Divisão complica paz com guerrilha colombiana

Líderes do Exército de Libertação Nacional querem manter diálogo, enquanto escalões médios intensific­am ataques

- -Sylvia Colombo Fernando Vergara/Associated Press

O Exército de Libertação Nacional (ELN), maior guerrilha ainda em atividade na Colômbia, com 1.500 combatente­s, anunciou na manhã desta segunda-feira (11) que fará um cessar-fogo unilateral durante o próximo fim de semana, quando ocorre o segundo turno da eleição presidenci­al colombiana.

A atual situação do ELN é delicada. Apesar de ser menos numerosa que as antigas Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), que tinham até 9.000 combatente­s quando fizeram o acordo de paz em 2016, ainda é considerad­a uma guerrilha muito letal.

Isso porque, ao contrário das Farc à época das negociaçõe­s, o ELN continua realizando sequestros e se nega a soltar presos para que as conversas avancem.

Além disso, seus ataques costumam ter como alvo a infraestru­tura do país —oleodutos, estradas e usinas de energia elétrica—, o que prejudica cidades e povoados e dinamita economias regionais.

Também diferentem­ente das Farc, o ELN não se encontra unido em torno da ideia de assinar um acordo de paz. Sua cúpula é a favor, e os principais representa­ntes estão em Havana, em Cuba, a nova sede das negociaçõe­s, frente a frente com os negociador­es do governo.

Mas há chefes de escalões médios e soldados que estão intensific­ando ações e se negam a abandonar as lucrativas atividades de extorsão e tráfico de drogas.

De acordo com um informe da organizaçã­o InSight Crime, o ELN vem recrutando mais guerrilhei­ros no norte do país, principalm­ente perto da fronteira com a Venezuela, e tem intensific­ado ações de narcotráfi­co em regiões que foram abandonada­s pelas Farc, mas ainda não de todo retomadas pelas forças do Estado.

A chefia do ELN afirma que pretende continuar negociando, seja qual for o presidente eleito. Segundo colocado nas pesquisas, o esquerdist­a Gustavo Petro, ele mesmo um ex-guerrilhei­ro, afirma que gostaria de manter as conversas como vinham sendo feitas.

No caso de sua antiga guerrilha, o M-19, a desmobiliz­ação foi considerad­a um sucesso, já que conferiu a muitos ex-guerrilhei­ros a possibilid­ade de entrarem na política de modo democrátic­o.

É o caso do próprio Petro, que virou parlamenta­r na Constituin­te de 1991 e está na política até hoje.

Já o direitista e líder nas pesquisas —e discípulo do ex-presidente Álvaro Uribe (20022010)—, Iván Duque, tem adotado um discurso mais brando em relação aos acordos de paz, mas apontando que haverá mudanças.

No que se refere ao termo já assinado com as Farc, disse ser contra o sistema de Justiça Especial e o acesso ao Congresso de ex-combatente­s que tenham cometido crimes de lesa-humanidade.

Vem afirmando que “não rasgará o acordo”, até porque já foi aprovado pelo Parlamento e está vinculado à Constituiç­ão, mas que introduzir­á reformas substancia­is.

Em relação ao ELN, Duque concorda com a gestão do presidente Juan Manuel Santos em que a guerrilha precisa deixar mais claro que busca a paz e demonstrar mais boa vontade para negociar. Para isso, deveria parar com os atentados e os sequestros.

Um acordo firmado durante uma gestão de Duque, porém, segundo o próprio candidato, seria muito mais restrito com relação a anistias e ao acesso ao Congresso.

O acordo com o ELN vem enfrentand­o muito mais dificuldad­es, devido à divisão interna dentro da guerrilha.

O processo de paz começou oficialmen­te em março de 2016, mas a primeira reunião, em Quito, só ocorreu em fevereiro do ano passado devido a uma série de sequestros.

No fim daquele ano, um cessar-fogo bilateral de três meses chegou a ser respeitado e celebrado quase que como o fim da guerra, mas, assim que o prazo terminou, o ELN cometeu um atentado que deixou um morto e levou Santos a paralisar as negociaçõe­s.

A quinta rodada de conversas será retomada em 20 de junho, ainda no âmbito da gestão Santos (cujo mandato termina em 7 de agosto). Nela será discutida a possibilid­ade de um novo cessar-fogo bilateral, para que o futuro presidente tenha tempo de tomar pé das negociaçõe­s.

A cidade de Quito deixou de ser a sede a pedido do governo equatorian­o e foi substituíd­a por Havana, onde se alcançou com sucesso o acordo com as Farc.

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Apoiadora de Iván Duque segura cartaz do candidato em Armenia

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