Divisão complica paz com guerrilha colombiana
Líderes do Exército de Libertação Nacional querem manter diálogo, enquanto escalões médios intensificam ataques
O Exército de Libertação Nacional (ELN), maior guerrilha ainda em atividade na Colômbia, com 1.500 combatentes, anunciou na manhã desta segunda-feira (11) que fará um cessar-fogo unilateral durante o próximo fim de semana, quando ocorre o segundo turno da eleição presidencial colombiana.
A atual situação do ELN é delicada. Apesar de ser menos numerosa que as antigas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que tinham até 9.000 combatentes quando fizeram o acordo de paz em 2016, ainda é considerada uma guerrilha muito letal.
Isso porque, ao contrário das Farc à época das negociações, o ELN continua realizando sequestros e se nega a soltar presos para que as conversas avancem.
Além disso, seus ataques costumam ter como alvo a infraestrutura do país —oleodutos, estradas e usinas de energia elétrica—, o que prejudica cidades e povoados e dinamita economias regionais.
Também diferentemente das Farc, o ELN não se encontra unido em torno da ideia de assinar um acordo de paz. Sua cúpula é a favor, e os principais representantes estão em Havana, em Cuba, a nova sede das negociações, frente a frente com os negociadores do governo.
Mas há chefes de escalões médios e soldados que estão intensificando ações e se negam a abandonar as lucrativas atividades de extorsão e tráfico de drogas.
De acordo com um informe da organização InSight Crime, o ELN vem recrutando mais guerrilheiros no norte do país, principalmente perto da fronteira com a Venezuela, e tem intensificado ações de narcotráfico em regiões que foram abandonadas pelas Farc, mas ainda não de todo retomadas pelas forças do Estado.
A chefia do ELN afirma que pretende continuar negociando, seja qual for o presidente eleito. Segundo colocado nas pesquisas, o esquerdista Gustavo Petro, ele mesmo um ex-guerrilheiro, afirma que gostaria de manter as conversas como vinham sendo feitas.
No caso de sua antiga guerrilha, o M-19, a desmobilização foi considerada um sucesso, já que conferiu a muitos ex-guerrilheiros a possibilidade de entrarem na política de modo democrático.
É o caso do próprio Petro, que virou parlamentar na Constituinte de 1991 e está na política até hoje.
Já o direitista e líder nas pesquisas —e discípulo do ex-presidente Álvaro Uribe (20022010)—, Iván Duque, tem adotado um discurso mais brando em relação aos acordos de paz, mas apontando que haverá mudanças.
No que se refere ao termo já assinado com as Farc, disse ser contra o sistema de Justiça Especial e o acesso ao Congresso de ex-combatentes que tenham cometido crimes de lesa-humanidade.
Vem afirmando que “não rasgará o acordo”, até porque já foi aprovado pelo Parlamento e está vinculado à Constituição, mas que introduzirá reformas substanciais.
Em relação ao ELN, Duque concorda com a gestão do presidente Juan Manuel Santos em que a guerrilha precisa deixar mais claro que busca a paz e demonstrar mais boa vontade para negociar. Para isso, deveria parar com os atentados e os sequestros.
Um acordo firmado durante uma gestão de Duque, porém, segundo o próprio candidato, seria muito mais restrito com relação a anistias e ao acesso ao Congresso.
O acordo com o ELN vem enfrentando muito mais dificuldades, devido à divisão interna dentro da guerrilha.
O processo de paz começou oficialmente em março de 2016, mas a primeira reunião, em Quito, só ocorreu em fevereiro do ano passado devido a uma série de sequestros.
No fim daquele ano, um cessar-fogo bilateral de três meses chegou a ser respeitado e celebrado quase que como o fim da guerra, mas, assim que o prazo terminou, o ELN cometeu um atentado que deixou um morto e levou Santos a paralisar as negociações.
A quinta rodada de conversas será retomada em 20 de junho, ainda no âmbito da gestão Santos (cujo mandato termina em 7 de agosto). Nela será discutida a possibilidade de um novo cessar-fogo bilateral, para que o futuro presidente tenha tempo de tomar pé das negociações.
A cidade de Quito deixou de ser a sede a pedido do governo equatoriano e foi substituída por Havana, onde se alcançou com sucesso o acordo com as Farc.