Escândalo leva papa a aceitar saída de 3 bispos no Chile
O papa Francisco aceitou a renúncia de três bispos chilenos, anunciou o Vaticano nesta segunda (11). Entre os religiosos dispensados está Juan Barros, 61, responsável pela diocese de Osorno, que está no centro do escândalo de acobertamento de crimes sexuais que atingiu a igreja no país.
Além de Barros, o papa aceitou as renúncias de Cristian Caro Cordero, bispo de Puerto Montt, e de Gonzalo Duarte García de Cortázar, bispo de Valparaíso —estes dois já tinham atingido os 75 anos, idade em que têm de apresentar a renúncia voluntária.
Em uma decisão sem precedentes, 34 bispos do Chile ofereceram uma renúncia conjunta em 18 de maio depois de uma série de reuniões com o pontífice no Vaticano.
Uma autoridade da Santa Sé afirmou que as mudanças representam um primeiro passo na reorganização da Igreja Católica no Chile. De acordo com ele, o papa ainda estava estudando o rumo dos outros bispos.
“Não podemos descartar a possibilidade de novas medidas”, afirmou Jaime Coiro, secretário-geral da Igreja Católica no Chile, ressaltando que o papa já mencionou que serão necessárias sanções de curto, médio e longo prazos.
A renúncia de Barros foi aplaudida por grupos que representam as vítimas, os quais disseram, no entanto, que ela não significa que a responsabilidade criminal dos religiosos tenha se encerrado.
“Eles não devem deixar seus postos e ir para a casa. Alguns deles devem ir para a prisão”, afirmou Juan Carlos Claret, porta-voz de um grupo de católicos leigos de Osorno que se opunham frontalmente a Barros.
A vítima que liderou as acusações, Juan Carlos Cruz, escreveu em rede social que era o começo de um novo dia para a igreja no país e que tratava-se de um momento emocionante para todos os que haviam lutado por essa decisão.
“O bando de bispos delinquentes começou hoje a se desintegrar”, disse Cruz.
Vários membros da hierarquia da Igreja Católica chilena são acusados de terem ignorado ou acobertado os abusos do padre chileno Fernando Karadima entre os anos 1970 e 1990 —ele foi condenado por pedofilia em 2011 por um tribunal da Santa Sé.
Karadima é considerado o mentor de Barros, que foi indicado em 2015 pelo próprio Francisco como bispo de Osorno (cidade com 160 mil habitantes).
A nomeação rendeu críticas ao pontífice, que chegou a fazer uma defesa do bispo em janeiro, quando visitou o Chile. Francisco, porém, decidiu rever sua posição após sofrer críticas e ver a popularidade da Igreja Católica despencar no país.
O pontífice ordenou o início de uma investigação dos casos de abuso no Chile e, no início do mês passado, encontrou-se no Vaticano com vítimas de Karadima.
O papa pediu desculpas às vítimas e admitiu uma “série de erros” no caso após a conclusão da investigação, que resultou em um relatório de 2.300 páginas.
Ele prometeu, durante o encontro, que “nunca mais” a Igreja Católica vai ignorar ou tentar encobrir casos de abuso no país.