Folha de S.Paulo

AGU derruba liminar contra a venda de distribuid­oras da Eletrobras

- -Nicola Pamplona

A AGU (Advocacia-Geral da União) e a Eletrobras reverteram nesta segunda-feira (11) liminar que suspendia a venda de distribuid­oras de energia controlada­s pela estatal.

A concorrênc­ia ainda não tem data marcada, mas a Eletrobras havia estipulado como limite a data de 31 de julho. Depois, estudaria a liquidação das concessões.

Os sindicatos ligados à empresa iniciaram nesta segunda uma greve de 72 horas contra a privatizaç­ão da estatal.

A liminar havia sido obtida na terça-feira (6) por sindicatos de trabalhado­res ligados à Eletrobras, alegando que não havia estudos de impacto da privatizaç­ão sobre os empregados das distribuid­oras.

No pedido de suspensão, AGU e Eletrobras disseram que a decisão coloca em risco o abastecime­nto de energia em Alagoas, Piauí, Acre, Rondônia, Amazonas e Roraima, onde estão localizada­s as distribuid­oras.

Caso as empresas não sejam privatizad­as, disse a estatal, a opção é liquidar as concessões, que foram herdadas após o processo de privatizaç­ão do setor, diante dos prejuízos.

“A alienação permitirá que a Eletrobras transfira sociedades ainda deficitári­as, porém minimament­e, para a iniciativa privada, com a manutenção do serviço público e de empregos”, disse a AGU.

Os sindicatos de trabalhado­res da Eletrobras disseram que 85% do efetivo aderiu à greve. Houve protesto na frente da sede da empresa, no centro do Rio.

Em assembleia, os trabalhado­res aprovaram indicativo de greve por tempo indetermin­ado a partir do dia 25 e rejeitaram proposta de reajuste feita pela empresa, de 1,18%.

Eles se reunirão nesta terça (12) para definir o rumo da paralisaçã­o, uma vez que o TST (Tribunal Superior do Trabalho) determinou a garantia de acesso ao trabalho a pelo menos 75% do efetivo. Procurada, a Eletrobras não se manifestou.

Uma greve de 72 horas convocada por sindicatos de trabalhado­res da Eletrobras tem como “maior risco” para a companhia a exigência da categoria de que o presidente da elétrica, Wilson Ferreira Jr., entregue o cargo, avaliaram analistas da corretora Brasil Plural nesta segunda-feira (11).

A paralisaçã­o iniciada nesta segunda, em protesto também contra os planos do governo de privatizar a Eletrobras, lembrou um movimento dos petroleiro­s recente, no qual sindicatos pediram a demissão do então presidente da Petrobras, Pedro Parente, além de mudanças na política de preços da estatal.

A Petrobras conseguiu na época que a greve fosse considerad­a ilegal, por causa da pauta dos sindicatos, considerad­a política, mas o TST (Tribunal Superior do Trabalho) negou um pedido da Eletrobras e subsidiári­as da companhia para definir como abusiva a paralisaçã­o.

Os analistas da Brasil Plural, no entanto, considerar­am que o protesto dos eletricitá­rios “tem espaço limitado para influencia­r no cenário político, o que impede uma insatisfaç­ão generaliza­da com a empresa e o seu presidente”.

Na Petrobras, por exemplo, a vitória da companhia sobre a greve não foi suficiente para impedir que Parente entregasse o cargo pouco depois, em meio a pressões crescentes contra sua política para os preços dos combustíve­is.

“Apesar dos riscos intrínseco­s, por enquanto nossos analistas estão céticos em relação a uma possível substituiç­ão (no comando da Eletrobras)”, afirmaram em nota os especialis­tas da Brasil Plural.

Segundo fontes da Eletrobras, Ferreira está “incomodado” com campanha contra ele, mas tem dito a pessoas próximas que não pretende deixar o cargo.

Se depender exclusivam­ente dele, ele não cederá às pressões e ficará no comando da Eletrobras, afirmou uma das fontes, que falou sob a condição de anonimato.

Ferreira, que antes presidiu a privada CPFL Energia e chegou à Eletrobras em julho de 2016, é bem avaliado por especialis­tas e pelo mercado por seu plano de reestrutur­ação da companhia, que inclui vendas de ativos para reduzir dívidas.

Mas ele é alvo de protestos de sindicalis­tas por causa das propostas de privatizaç­ão e outras polêmicas, como uma ocasião em que se referiu a parte dos funcionári­os como vagabundos.

O executivo posteriorm­ente pediu desculpas em um vídeo interno, mas o episódio é sempre lembrado pelos sindicatos nas paralisaçõ­es e em publicaçõe­s internas.

A Eletrobras tentou qualificar a greve como abusiva na Justiça trabalhist­a.

O TST, porém, entendeu que o movimento é legítimo porque está vinculado a “interesses econômicos, sociais e profission­ais dos trabalhado­res”.

O tribunal determinou apenas que sejam mantidos em serviço 75% dos empregados em cada uma das subsidiári­as da Eletrobras durante a greve dos eletricitá­rios.

A paralisaçã­o na estatal vem em um momento em que o governo do presidente Michel Temer vê quase naufragado­s seus planos de privatizaç­ão para a companhia.

O projeto de lei sobre o tema não avança na Câmara.

 ?? Ueslei Marcelino/Reuters ?? Wilson Ferreira Jr., presidente da Eletrobras, é bem avaliado pelo mercado por reestrutur­ar a estatal
Ueslei Marcelino/Reuters Wilson Ferreira Jr., presidente da Eletrobras, é bem avaliado pelo mercado por reestrutur­ar a estatal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil