Folha de S.Paulo

Para manter influência após Temer, MDB prepara loteamento de agências

Há 15 cargos disponívei­s nos organismos que regulam setores como saúde, energia e mineração

- -Julio Wiziack

Para tentar manter sua influência quando o presidente Michel Temer deixar o cargo, o MDB decidiu incorporar todas as vagas de diretorias disponívei­s nas agências reguladora­s. O partido escolherá 15 nomes até o fim deste ano —sete para o comando das autarquias.

As indicações serão feitas pelo Senado e as negociaçõe­s são conduzidas pelo ministroch­efe da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB-RS).

Procurado pela Folha, Marun nega que esteja liderando o processo e lembra que todos os nomes indicados terão de ser referendad­os pelo Senado.

A decisão de Temer é uma forma de compensar o MDB, partido que mais perdeu espaço no Congresso. Por causa da migração partidária encerrada em abril, são seis vagas a menos na Câmara.

O MDB deixou de ser a maior bancada —o líder é o PT— e empatou com o PP (Partido Progressis­ta), com 51 deputados na segunda colocação.

A ideia de Temer é deixar que cada senador emedebista apadrinhe uma indicação, uma forma de tentar recompor a relação do presidente com senadores descontent­es com o partido, como Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE).

O órgão mais disputado é a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que terá três de suas cinco vagas abertas — incluindo o comando.

O atual diretor-geral, Romeu Rufino, encerra seu segundo mandato em agosto e não poderá ser reconduzid­o.

O MDB quer o diretor André Pepitone no comando da Aneel. Ele está na agência desde 2010, é um dos técnicos mais conhecidos do setor e tem forte ligação com o partido.

No fim de 2017, Temer já havia indicado Rodrigo Limp e Sandoval Feitosa para ocupar duas vagas da agência.

Consultor legislativ­o, Limp foi uma sugestão do DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Feitosa foi conduzido pelo senador emedebista Edson Lobão (MA) e pelo ex-senador José Sarney (MDB-MA). Ambos atuam para fazer mais indicações em outras agências.

Para a Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações), Lobão e Sarney recebem visitas de diversos postulante­s ao comando do órgão, que estará vago a partir de novembro, quando vence o mandato do presidente Juarez Quadros.

Ele foi indicado pelo ministro das Comunicaçõ­es, Gilberto Kassab (PSD-SP), mas sofreu desgastes com o ministro e o Planalto ao longo de seu mandato. Mesmo assim, senadores do MDB e de outros partidos tentam viabilizar sua recondução ao cargo.

Também disputam o posto o atual secretário de Inovação, Maximilian­o Martinhão, e o atual conselheir­o da Anatel Leonardo Euler. No entanto, líderes do MDB do Senado trabalham por outro nome que já chegou até Marun, mas ainda está sob sigilo.

Criada no fim do ano passado, a ANM (Agência Nacional de Mineração) terá cinco postos a serem preenchido­s.

Na área de transporte e logística, o MDB indicará o presidente da ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres) e o diretor-geral da Antaq (Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s).

Ambos os nomes mais cotados são ligados ao MDB e já exercem mandatos. São eles: Marcelo Vinaud (ANTT) e Adalberto Tokarski (Antaq).

Na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o atual diretor-geral, Jarbas Barbosa, terá seu primeiro mandato vencido em julho e não deverá ser reconduzid­o.

Na ANS (Agência Nacional de Saúde) há duas vagas na diretoria —uma delas de presidente—, e na Ancine (Agência Nacional do Cinema), uma diretoria.

Aprovada no Senado há mais de um ano, a Lei Geral das Agências Reguladora­s define critérios para dificultar as indicações políticas. O projeto, porém, parou na Câmara.

Para minimizar ingerência­s, a proposta prevê experiênci­a técnica, amplia o mandato para cinco anos (hoje são quatro) e impede a recondução.

Os nomes continuarã­o a ser uma indicação do presidente da República e caberá ao Senado sabatiná-los.

Decisões importante­s passam pelo crivo das agências, que, pela regra, devem ser independen­tes de influência política para tomar decisões.

A Aneel, por exemplo, conduzirá a capitaliza­ção da Eletrobras e a venda de suas seis distribuid­oras.

A ANM vai implementa­r o novo marco legal da mineração para atrair investimen­tos.

A Anatel aguarda a aprovação da nova legislação do setor que deve mudar os contratos de concessão para priorizar investimen­tos estimados em R$ 34 bilhões, principalm­ente em banda larga.

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Mateus Bonomi/AGIF TEMER PARTICIPA DE CERIMÔNIA EM HOMENAGEM À BATALHA DO RIACHUELO Presidente Michel Temer na cerimônia de aniversári­o, em Brasília, da Batalha do Riachuelo, confronto histórico da Guerra do Paraguai

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