Folha de S.Paulo

Incerteza eleitoral preocupa indústria do petróleo

- O repórter viajou a convite do Instituto das Américas NP

As eleições em países latino-americanos se tornaram um foco de preocupaçã­o para petroleira­s internacio­nais. Elas temem que a onda pró-investimen­to estrangeir­o que justificou investimen­tos bilionário­s na região nos últimos anos esteja perto do fim.

Três importante­s destinos de investimen­tos do setor, Brasil, México e Colômbia, têm eleições presidenci­ais em 2018. A Argentina, outro país considerad­o importante, escolherá novo presidente em 2019.

“É um ano eleitoral em países-chave, e a pergunta que fica é: o que isso significa para nós?”, questionou Cecília de La Macorra, diretora de Assuntos Governamen­tais para a América Latina da Exxon durante a 26ª La Jolla Energy Conference, evento anual que em 2018 teve as eleições latino-americanas como tema principal.

“É um momento excepciona­l, porque candidatos muito à esquerda ou populistas parecem ter mais apoio do que em anos anteriores”, diz Raúl Gallegos, diretor da consultori­a Control Risks, baseada em Londres.

Na Colômbia, pela primeira vez, um candidato ligado à esquerda tem chance de chegar à Presidênci­a: no dia 28 de maio, o ex-guerrilhei­ro Gustavo Petro teve 25% dos votos e disputará o segundo turno no próximo domingo (17) com Iván Duque, ligado ao ex-presidente Álvaro Uribe.

No México, o líder das pesquisas é Andrés Manuel Lopes Obrador, que fala em rever a reforma energética que abriu o país a companhias privadas.

“A esquerda já esteve perto de vencer no México, mas nunca esteve tão perto”, afirma Gallegos.

Desde o início de 2017, o México realizou nove leilões, nos quais 75 empresas de 20 países adquiriram 107 áreas exploratór­ias. Duas outras rodadas estão em curso neste momento.

No Brasil, em cinco leilões realizados pelo governo Temer, as petroleira­s se compromete­ram, em parceria com a Petrobras ou sozinhas, a pagar R$ 21,1 bilhões apenas para a assinatura dos contratos.

Elas defendem que o apetite responde a mudanças regulatóri­as promovidas pelo governo Temer, como o fim da exclusivid­ade da Petrobras na exploração do pré-sal e a redução dos compromiss­os de compra de equipament­os no país.

Entre os pré-candidatos à Presidênci­a, porém, Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) já falaram em rever as regras. Jair Bolsonaro (PSL), que lidera o cenário sem Lula, é visto pelo setor como uma incógnita.

Normalment­e avessa a comentário­s públicos, a Exxon apela ao “pragmatism­o” dos governos que serão eleitos neste ano.

“O cenário global hoje é bem competitiv­o. Há muitas oportunida­des de investimen­to”, disse a diretora da companhia.

“Meu recado é: não entrem em pânico”, ponderou Gallegos. Ele acha que Obrador e Petro não teriam apoio legislativ­o suficiente para mudanças profundas.

No Brasil, diz, a história mostra preferênci­a por candidatos de centro, com menos risco de mudanças profundas nas regras do setor.

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