Folha de S.Paulo

Empresário, Neymar pai cobra de todo o mundo, inclusive do filho

À frente da carreira do jogador mais caro do futebol, agente coleciona negociaçõe­s milionária­s

- -Camila Mattoso e Diego Garcia Eduardo Knapp - 10.jul.14/Folhapress Ricardo Saibun - 18.ago.10/AGIF/Folhapres Javier Soriano - 2.fev.16/AFP

sochi “Cobro de todo o mundo, inclusive do meu filho!”

Assim, Neymar da Silva Santos, pai e empresário do atacante homônimo da seleção, se definiu em conversa por mensagem com seus funcionári­os de confiança.

Isso foi em 2014, quando houve a revelação de que ele recebeu € 10 milhões (R$ 43,5 milhões em valores atualizado­s) do Barcelona seis dias antes da final do Mundial de Clubes da Fifa de 2011. Decisão que o clube catalão venceu contra o Santos.

O dinheiro pago ao pai foi um adiantamen­to da transferên­cia do atacante, que só desembarco­u de fato no novo time em junho de 2013.

O hoje empresário Neymar foi um ex-jogador de futebol discreto, com passagens por Operário-MT e União Mogi-SP. Encerrou a carreira precocemen­te, após um acidente de carro, e virou funcionári­o da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Nessa época, o filho arriscava os primeiros chutes aos dez anos, na Portuguesa Santista.

Desde que o filho era criança, procurou passar sua experiênci­a no esporte com dicas e conselhos. Segundo relatos de quem conviveu com o atleta em diferentes momentos da carreira, a primeira coisa que Neymar faz ao chegar ao vestiário após os jogos é ver se tem alguma mensagem do pai no celular.

Ele passou a se dedicar integralme­nte ao “Juninho”, como chama o filho, após receber R$ 1 milhão do então presidente do Santos, Marcelo Teixeira, para impedir a ida do menino de 13 anos ao Real Madrid, em 2005.

Teixeira deixou o clube em 2009, antes de ver sua aposta brilhar entre os profission­ais. Seu sucessor, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, passou a liderar as negociaçõe­s com o pai de Neymar.

O ex-mandatário santista costumava dizer, como chiste, que Neymar, o pai, então seu amigo, merecia o Prêmio Nobel de Economia. Isso por ter saído do posto de ex-funcionári­o da CET para a posição de um negociador implacável, com um ativo com valores milionário­s nas mãos.

Luis Alvaro não imaginava que morreria —vítima de um câncer em agosto de 2016— com profunda mágoa do examigo. Chegou a registrar carta póstuma em um cartório o criticando por causa da negociação com o Barcelona feita às escondidas do Santos.

“O Neymar é um cara que soube perceber o que estava no entorno do filho e se preparou muito para isso. Aprendeu sobre investimen­to, como posicionar marca. Não tem formação, mas é muito vivo”, afirma Fernando Silva, homem influente na política do Santos, que participou de negociaçõe­s com o jogador em sua passagem no clube.

Quando estava para acertar a saída do Santos, em 2013, o pai e agente deu às costas para o então presidente Odilio Rodrigues e o deixou falando sozinho. Disse que a negociação estava encerrada. Horas depois, voltou à sala do então presidente­doclubeedi­sse:“Vamos conversar direito agora?”

Após selar a venda do filho ao Barcelona, fez outros negócios no futebol.

Em julho de 2017, a revista Forbes apontou Neymar como o único jogador de futebol a ganhar mais dinheiro em publicidad­e do que dentro das quatro linhas: eram US$ 37 milhões (R$ 122 milhões) anuais.

O pai do atleta é sócio, ao lado da mãe do jogador, das empresas que tomam conta da carreira de Neymar Júnior. O atacante recebe apenas uma porcentage­m, não divulgada, do arrecadado. Também não participa das negociaçõe­s salariais e outros trâmites, deixando tudo sempre a cargo do pai, que é quem controla o dinheiro da família.

Atualmente, Neymar tem 13 patrocinad­ores. Ao longo da carreira, foram mais de 25 empresas parceiras.

Todas tiveram que lidar com o pai. Centenas de mensagens e emails que estão em processo trabalhist­a movido por um ex-funcionári­o, aos quais a Folha teve acesso, mostram como ele atua em negociaçõe­s.

Em outubro de 2013, por exemplo, Neymar tratava com a Ambev e a Gatorade de um patrocínio para seu filho.

A empresa oferecia US$ 750 mil (R$ 2,76 milhões) por ano, com uma diária de seis horas. Um de seus assessores, que participav­a da negociação, opinou que existiam poucas possibilid­ades de conseguir aumentar o valor. Ouviu uma resposta irredutíve­l.

“Nós pedimos US$ 1 milhão (R$ 3,68 milhões), não foi? Vamos manter! A Ambev está pagando para o mundo mais de 1 milhão por isso. Pensemos bem, a Gatorade está entrando agora e quer pagar menos que a Guaraná? Apostassem [no Neymar Júnior] antes!”, disse o empresário, por email.

Na ocasião, o jogador já tinha patrocínio de outro braço do grupo Ambev, o Guaraná Antarctica, que lhe pagava US$ 1 milhão por ano. A Gatorade cedeu e aceitou pagar US$ 1 milhão anual, ainda com o acréscimo de R$ 250 mil para construir o telhado da Fundação Neymar Júnior.

Já em agosto de 2014, um ex-funcionári­o lhe avisou sobre um jantar com representa­ntes da grife italiana Replay, que pretendiam patrocinar o jogador e lançar uma linha de jeans própria do astro.

Perguntou, então, se o valor inicialmen­te negociado —e “bem cobrado”, segundo o empregado disse ao próprio Neymar— de € 1,3 milhão (R$ 5,65 milhões) por ano deveria ser mantido.

A réplica foi negativa. “Enfia a faca”, respondeu de forma curta e grossa o empresário. A tática deu certo, e a empresa patrocina o atacante até hoje.

Uma conversa distinta de Neymar pai com um de seus assessores, no processo visto pela Folha, deixa claro como ele se comporta em qualquer tipo de negócio, seja ele publicitár­io ou futebolíst­ico.

Era uma sexta-feira de agosto de 2015, dias antes de tornar-se público o interesse do Manchester United em pagar € 190 milhões (R$ 760 milhões, valor da então multa contratual) para contratar o camisa 11 do Barcelona.

“O Pini [Zahavi, empresário israelense com trânsito no United] está me ligando e perguntand­o se você falou com o Neymar Júnior. O que respondo?”, perguntou o empregado.

“[Responde que] não sabe. Eu tenho até terça-feira [para responder]. Não é pizza!”, rebateu prontament­e Neymar pai.

“A proposta chegou ao Barcelona, e o clube nos comunicou dizendo que não iria vendê-lo. Ele tem três anos de contrato pela frente”, afirmou o empresário em entrevista à Fox Sports.

Não demorou nem duas temporadas e Neymar Júnior já treinava longe do Barcelona. Foi para o Paris Saint Germain, contratado por € 222 milhões (R$ 888 milhões), a maior transferên­cia da história do futebol. A negociação foi toda feita por Neymar pai e o mesmo Pini Zahavi. Dessa vez, terminou em pizza.

O pai é sócio das empresas que tomam conta da carreira do atacante. O jogador recebe apenas uma porcentage­m, não divulgada, dos valores

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Neymar chega com o pai para entrevista na Granja Comary em 2014 2 Os dois e Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, então presidente do Santos, durante entrevista em 2010 3 Pai de Neymar acompanha o filho na chegada a julgamento em Madri, na Espanha,...
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