Folha de S.Paulo

Na 1ª Copa, uruguaio sem parte do braço decretou o título da equipe da casa

- Alex Sabino

Com a seleção argentina toda no ataque em busca do empate, o meia Dorado cruzou da direita e colocou a bola quase na marca do pênalti. Por trás da marcação, apareceu o jogador mais improvável para fazer um gol em uma final de Copa do Mundo.

A cabeçada saiu forte e foi no ângulo direito. O goleiro Butasso saltou, mas não conseguiu alcançar a bola.

Hector Castro, o “divino manco”, decretou com o lance o título uruguaio na primeira Copa do Mundo, em 1930.

As chances de ele estar no campo do estádio Centenário naquele 30 de julho não eram grandes. Filho de espanhóis da Galícia, Castro começou a trabalhar aos dez anos para ajudar a família. Três anos depois, sofreu acidente com uma serra elétrica que decepou seu antebraço direito quase à altura do cotovelo.

Rápido, habilidoso e com faro de gol, Castro continuou jogando nas ruas de Montevidéu, onde fazia da deficiênci­a física uma arma. Usava o que restou do seu braço direito para golpear adversário­s e ganhar divididas e disputas de bola pelo alto.

Ao ser contratado pelo Nacional, aos 20 anos, colocou em ação o recurso que aprendeu nas partidas amadoras.

Pelo time da capital, foi campeão uruguaio em 1924, 1933 e 1934. Convocado para a seleção pela primeira vez em 1926, foi campeão olímpico nos Jogos de 1928. Isso o credenciou a entrar na lista de convocados para o primeiro Mundial.

Pela equipe dona da casa, Castro participou de apenas dois jogos. Fez dois gols. O primeiro e o último no torneio.

Na estreia diante do Peru, decretou o placar de 1 a 0 ao acertar um chute forte à meia altura, da intermediá­ria. O segundo definiu a Copa e o colocou na história como o único jogador com deficiênci­a física a anotar no Mundial.

A média de gols que teve no torneio foi um espelho de sua eficiência pela seleção que defendeu até 1935. Em 25 partidas, marcou 18 gols.

Não conseguiu participar do segundo Mundial porque a Federação Uruguaia decidiu não mandar delegação para o torneio de 1934, na Itália. Foi represália pelo que havia acontecido em 1930, quando apenas quatro equipes europeias foram à América do Sul jogar.

Após passagem pelo Estudiante­s, da Argentina, encerrou a carreira e começou outra, como técnico. Voltou ao Nacional e foi tetracampe­ão uruguaio, de 1939 a 1942. Voltou à seleção em 1959, quando começou a traçar planos para o Mundial do Chile, que seria disputado em 1962.

Não deu tempo. Em 1960, de forma inesperada, renunciou ao cargo. Semanas depois, morreu vítima de enfarto.

O “divino manco” fez 145 gols em 231 partidas em uma carreira sem paralelo na história do futebol.

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Fabrizio Lenci/Folhapress Trecho de animação de caso da Copa de 1930

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