Folha de S.Paulo

Europa precisa de nova política migratória, diz premiê italiano

Conte se reúne com Macron após polêmica sobre navio e diz que deseja mudar lei

- Ludovic Marin/AFP Associated Press e Reuters

Depois de uma semana tensa, com troca de acusações, o primeiro ministro da Itália, Giuseppe Conte, e o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniram nesta sexta-feira (15) para debater a política imigratóri­a da União Europeia.

Após o encontro em Paris, o italiano anunciou que vai propor no segundo semestre uma alteração na lei que regula a concessão de asilos e a migração no bloco.

Ele não deu detalhes do projeto, mas afirmou que haverá uma “mudança radical no paradigma” de como a questão é resolvida.

Conte afirmou ainda que seu projeto prevê que o assunto seja resolvido de um modo mais integrado.

Os italianos reclamam que o país é a principal rota de imigração do norte da África e que o resto do continente não tem ajudado Roma a resolver a questão.

Conte também afirmou que a reunião serviu para ele e Macron deixarem mais clara suas visões do assunto e disse que Paris e Roma agora estão “perfeitame­nte de acordo”.

Em seu discurso, o presidente francês fez um aceno ao premiê e afirmou que a União Europeia não tem sido solidária com a Itália na questão da imigração.

“A resposta correta [para a imigração] é a Europa, mas a atual resposta da Europa não é correta”, disse ele.

A tensão entre os dois aliados começou no domingo (10), quando o novo governo italiano comandado por Conti se recusou a receber um barco com 629 imigrantes, a maioria africanos, que estava à deriva após deixar a Líbia.

O governo de Malta também se recusou a receber o grupo, afirmando que estava sob jurisdição italiana, e a situação só se resolveu na segunda (11), quando a Espanha aceitou os imigrantes —a previsão é que eles cheguem em Valência neste sábado (16).

O caso, porém, irritou o governo francês, que afirmou que a Itália precisa cumprir as atuais regras da União Europeia e deveria ter aceito os imigrantes que estavam em perigo —para Macron, a decisão poderia gerar precedente.

Macron disse que a medida era um “ato de cinismo e irresponsa­bilidade”, o que fez Roma convocar o embaixador da França na quarta (13) e exigir desculpas.

Na quinta, porém, o francês baixou o tom em uma ligação para Conte, na qual disse que não teve a intenção de ofender “a Itália e o povo italiano”, de acordo com uma nota.

Pela legislação internacio­nal, o país responsáve­l pelas operações da área tem a responsabi­lidade principal de aceitar a entrada do navio.

Sem experiênci­a política anterior, Conte assumiu apenas em 1º de junho como primeiro-ministro, após ser indicado ao cargo pela coalizão entre o Movimento 5 Estrelas (crítico ao sistema político) e a Liga, partido de direita nacionalis­ta que tem como principal proposta exatamente o combate à imigração.

O líder da Liga e ministro de Interior da Itália, Matteo Salvini, foi o principal crítico francês no episódio e anunciou na quarta-feira a criação de um eixo ao lado de Áustria e Alemanha para combater a imigração ilegal.

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O francês Emmanuel Macron (à esq.) e o italiano Giuseppe Conte em Paris

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