Dança em museu na Itália melhora a vida de quem tem parkinson
Um palco está montado em um dos salões de exposição do Museu Cívico de Bassano del Grappa, perto de Vicenza, na Itália, durante a mostra de arte contemporânea “In Colore”, com peças do artista italiano Daniele Marcon.
A inspiração para a dança são os quadros com padrões geométricos, muitos em cores escuras, com contrastes fortes e linhas definidas. E os dançarinos são parte de uma iniciativa chamada Dance Bem, que usa a dança como técnica de terapia e integração para pessoas que sofrem do mal de Parkinson.
Em uma segunda-feira de abril, durante uma aula realizada no salão no qual estão expostos os trabalhos de Marcon, o professor e coreógrafo convida os participantes a percorrer um caminho imaginário no espaço, seguindo linhas que os quadros exibidos na sala pareçam sugerir.
Os dançarinos se movimentam para a frente e para trás, da esquerda para a direita; outros estão deitados no chão. Alguns buscam espaços próprios, enquanto outros criam trajetórias que cruzam os percursos de outros dançarinos, resultando em um contato físico que pode ser terapêutico.
“Tudo começou com a ideia, mais tarde confirmada por pesquisas, de que a dança contemporânea também pode ajudar as pessoas que sofrem de parkinson a melhorar sua capacidade de movimento e sua qualidade de vida”, diz Daniele Volpe, diretor do Centro de Reabilitação Neurológica da Villa Margherita, em Arcugnano, um dos seis centros de tratamento do Fresco Parkinson Institute na Itália.
O mal de Parkinson é uma doença degenerativa do cérebro que causa problemas cada vez maiores de movimento e equilíbrio.
Especialistas dizem que em 2015 havia 6,9 milhões de pacientes de mal de Parkinson no mundo, e esse número pode dobrar até 2040, com consequências econômicas graves para os serviços de saúde.
“Precisamos achar novos modelos de tratamento e reabilitação, para além dos métodos convencionais que foram usados até agora”, diz Volpe.
A Iniciativa Dance Bem foi lançada em 2013 em Bassano del Grappa, por Roberto Casarotto, diretor artístico do Operaestate Festival Veneto. “O projeto foi inspirado por uma reunião que tivemos com uma organização holandesa chamada Dance for Health”, explica Casarotto. “Mas se desenvolveu independentemente, com foco especial no aspecto artístico.”
No caso do Dance Bem, as pessoas dançam em museus, tentando traduzir obras modernas e clássicas de arte em forma de movimento.
Eva, 48, tem mal de Parkinson há 15 anos. “Nos últimos quatro anos, a dança realmente mudou muita coisa na minha vida, e pude retomar coisas que fazia antes da doença”, ela diz. “Acima de tudo, superei o estigma associado à doença. Já não me sinto julgada, e minha autoestima cresceu”.
Pesquisas científicas demonstram que o aspecto mais importante é continuar se movendo, diz Volpe, porque o movimento pode ativar mecanismos neuroprotetores no cérebro, encorajar a neuroplasticidade e resultar na criação de novas sinapses, diz.
“Nossas aulas também estão abertas a refugiados que estão em busca de asilo”, disse Casarotto. “Acreditamos que essa iniciativa possa fomentar a integração na comunidade, a despeito das objeções apresentadas por certos políticos”.
Em julho, alguns participantes estarão diante de uma nova audiência no Festival Veneto Operaestate Bassano. Os chamados dançarinos de parkinson subirão ao palco para uma apresentação curta, com o objetivo de mostrar à audiência o que eles vêm praticando, e provar que uma doença nem sempre é um obstáculo.