Folha de S.Paulo

Dólar ignora exterior e cai 2% com atuação do BC

- -Tássia Kastner Richard Drew/Associated Press Com Reuters

O dólar recuou mais de 2% ante o real nesta sextafeira (15) e voltou ao patamar de R$ 3,70 em que se manteve durante a maior parte da semana. O movimento foi o oposto ao registrado pela moeda americana no exterior.

A Bolsa brasileira também caiu e registrou perda semanal pela quinta semana seguida.

A queda do dólar, que encerrou o dia cotado a R$ 3,73 (-2,15%), é explicada pela continuida­de da intervençã­o do BC (Banco Central) no mercado de câmbio. Na semana, a alta foi de modestos0,56%, apesar da forte oscilação registrada durante os pregões.

Na quinta (14), após a disparada do dólar para acima dos R$ 3,80, o BC anunciou que poderia oferecer na próxima semana mais US$ 10 bilhões em contratos de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro.

O valor correspond­e à metade dos US$ 20 bilhões extras colocados nesta semana para conter a volatilida­de.

No cenário externo, a guerra comercial entre Estados Unidos e China deixou investidor­es mais conservado­res nesta sexta. Foi o terceiro dia consecutiv­o de notícias com capacidade de impulsiona­r o dólar, mas que acabaram neutraliza­das no mercado doméstico.

Nas sessões anteriores, a alta de juros nos Estados Unidos e o fim do programa de venda de títulos do Banco Central Europeu, que injetava dinheiro no mercado, também ajudaram a valorizar o dólar ante as principais divisas.

Quando os juros americanos sobem, investidor­es tendem a sair de mercados mais arriscados em busca de títulos da dívida dos Estados Unidos, elevando a cotação do dólar.

“Podemos dizer que o Banco Central foi bem-sucedido”, disse o operador da corretora H.Commcor, Cleber Alessie Machado sobre a relativa estabilida­de do câmbio no fim da semana.

Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais, disse, em relatório, que a próxima semana “promete ser novamente de estresse, com os agentes testando o Banco Central em sua capacidade de reduzir volatilida­de no câmbio”.

O Ibovespa, índice das ações mais negociadas, fechou o dia em baixa de 0,92%, a 70.757 pontos. No pior momento, chegou a ficar abaixo dos 70 mil pontos, o que não ocorria desde agosto de 2017. Na semana, o prejuízo foi de 3%.

Os principais índices americanos e europeus também tiveram um dia negativo.

Para analistas, não há sinais de recuperaçã­o do mercado doméstico nas próximas semanas. As notícias do campo econômico seguem negativas e tampouco há a expectativ­a de mudança no cenário eleitoral no curto prazo.

Investidor­es temem a vitória de um candidato pouco comprometi­do com o equilíbrio das contas públicas.

A Bolsa foi para o vermelho quando o Banco Central frustrou as expectativ­as do mercado e decidiu manter a taxa básica de juros da economia em 6,5% ao ano. Investidor­es esperavam um novo corte, para 6,25%. O quadro se agravou com a paralisaçã­o dos caminhonei­ros e as consequênc­ias dela sobre o cresciment­o.

Na próxima semana, o Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne novamente para deliberar sobre a Selic.

A expectativ­a é pela manutenção da taxa no patamar atual. Antes da primeira intervençã­o do BC no câmbio, investidor­es chegaram a especular com uma alta nos juros para conter o dólar.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou, contudo, que não considerav­a aumentar a taxa para conter o dólar.

O mercado de juros também segue com bastante volatilida­de, reflexo da piora na economia. A sexta-feira, no entanto, foi dia de realização de lucros, e os contratos mais líquidos negociados na B3 registrara­m queda.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil