Hooligan russo se irrita com veto a sua presença no Mundial
Torcedor mais poderoso do futebol da Rússia faz alerta a homossexuais que forem ao país para assistir ao torneio
Brawler’s Pub, o Pub do Brigão, em português. Foi nessa instituição tipicamente britânica —decorada com bandeiras de diversos clubes ingleses— e com um nome bem sugestivo que um dos homens mais polêmicos do futebol russo e banido de entrar em estádios na Copa do Mundo por causa de histórico de violência recebeu a reportagem da Folha em Moscou.
Aleksandr Shprigin é presidente da União de Torcedores Russos, entidade com mais de 100 mil associados que reúne as principais torcidas organizadas do país da Copa.
Ele ficou famoso mundialmente em 2016 ao ser expulso da França junto de outros hooligans russos após uma briga com ingleses na cidade de Marselha, durante a Eurocopa. Antes, passou alguns dias em um centro de detenção.
“A polícia de Marselha é a culpada por tudo. Ficaram apenas olhando o que acontecia e não faziam nada”, afirmou sobre o episódio de selvageria nas ruas da cidade francesa, que levaram a entidade que comanda a ser desfiliada da União Russa de Futebol (a federação local). Com isso, deixou de receber ingressos e outros privilégios.
Ter a imagem associada a um homem como Shprigin não cairia bem para a federação do país que organiza a Copa do Mundo de 2018.
“Não sou mais um hooligan. Minha última briga foi em 2005, quando 200 torcedores do meu time, o Dínamo de Moscou, enfrentaram 200 torcedores do Dínamo de Kiev, lá em Kiev”, diz Shprigin, que atribui a uma “invenção dos ingleses” a alcunha de hooligan mais famoso da Rússia.
“Quando eu era jovem, é verdade. Muitas vezes participei de brigas, algo normal. Um tipo de vida saudável. Os hooligans russos vão para a academia, fazem esporte, cuidam do corpo. Não usam drogas e também não bebem muito. Sabem que é péssimo para saúde”, afirmou.
Ele já foi colocado como um homem próximo ao presidente Vladimir Putin. No entanto, nega ter recebido ajuda do governo em qualquer época.
“Não sou amigo dele [Putin]. É verdade que já nos en- contramos, mas isso de amizade é outra invenção”, disse.
Em 2017, ele recebeu o Fan ID (identidade o fã), documento necessário para entrar nos estádios durante a Copa das Confederações. A credencial, porém, foi cancelada momentos antes da abertura. Antes do Mundial, foi avisado de que não obteria o documento.
Shprigin não aparece na lista do Ministério do Interior da Rússia de pessoas proibidas de irem a eventos esportivos no país, que conta com 456 nomes. Tanto é que segue indo aos jogos do Dínamo e esteve no amistoso entre Rússia e Turquia, no dia 5 de junho.
Shprigin reconhece que na Rússia há hooligans e que brigas não são raras. Entretanto, não vê isso como problema.
“Nunca fomos desqualificados de nenhuma competição europeia por causa de brigas de torcedores. Os ingleses já [clubes ingleses foram suspensos de competições europeias por cinco anos, em 1985, após 38 pessoas morrerem em uma briga entre torcedores do Liverpool e da Juventus]. Eles tornam tudo um tema político pois ainda não aceitam terem perdido a [organização da] Copa para nós”, disse.
O ex-hooligan acredita em uma Copa do Mundo sem brigas. Ele diz que a polícia russa apertou o cerco contra os torcedores brigões após a briga em Marselha de 2016.
“Se só uma garrafa voar, já serão vários policiais cercando o cidadão. Garanto que os hooligans russos não vão fazer nada, pois sabem que terão muitos problemas”, disse.
Shprigin, que já apareceu em fotos fazendo saudações nazistas e é filiado ao LDPR —um partido de extrema direita da Rússia—, faz um alerta a turistas homossexuais.
“Temos homossexualismo, como existe em todos os países, mas não é algo normal e que agrade. Se você for para a Arábia Saudita, as mulheres não podem usar saia por causa da tradição de se cobrir toda. Se uma mulher sair de saia lá, vai ter problemas. E acho que o mesmo acontece com os homossexuais aqui”, afirma.
“Se você for gay, vier para Rússia na Copa do Mundo e reservar um quarto para dormir com outro homem no hotel, você não terá problema. Mas não precisa fazer isso em público. Não tem que sair de rosa, de mãos dadas, ficar se beijando na praça Vermelha. Aí sim podem ter problemas”, alertou.
Na Rússia, existe a chamada lei da “propaganda gay”. Em vigor desde junho de 2013, ela proíbe manifestações LGBT em locais públicos em que crianças possam estar presentes.
Entre os banimentos estão paradas de orgulho gay e distribuição de material que trate de relações entre pessoas do mesmo sexo.
Pesquisa de 2013 conduzida pelo Centro Russo de Estudo de Opinião Pública apontou que 90% dos entrevistados eram favoráveis à lei.
Shprigin esteve no Brasil para acompanhar a Rússia na Copa do Mundo de 2014 e gostou do país. Ele diz ter vontade de retornar.
“Os brasileiros não terão problemas aqui. Há quatro anos nos demos muito bem com eles lá”, disse.
“Quando eu era jovem, é verdade. Muitas vezes participei de brigas, algo normal. Um tipo de vida saudável