Folha de S.Paulo

Pelo hexa

Tite busca apagar vexame do 7 a 1 contra a Alemanha e reconquist­ar torcedores com estilo de jogo atraente e efetivo

- Camila Mattoso, Diego Garcia, Luiz Cosenzo, Sérgio Rangel e Alberto Nogueira

Com 17 vitórias em 21 jogos com o técnico Tite, o Brasil inicia confiante a busca pelo sexto título mundial. O rival é a Suíça, às 15h, em Rostov.

“O time de 1970 foi o maior de todos porque era muito tático. Tática é fundamenta­l Zagallo comandante da seleção do tri

A seleção de Tite já resgatou o apoio do torcedor brasileiro. Com uma campanha exemplar antes da Copa do Mundo da Rússia, o time está invicto há mais de um ano e acumula 17 vitórias em 21 partidas desde a contrataçã­o do treinador, em 2016.

Agora, Tite e seus comandados têm o desafio de apagar o vexame do time nacional na Copa passada.

Para isso, o treinador quer a equipe jogando bonito e correndo risco, a partir deste domingo (17), às 15h (horário de Brasília), na partida contra a Suíça, pela primeira rodada do Grupo E do Mundial.

O jogo do Brasil planejado por Tite no torneio da Rússia será baseado na valorizaçã­o de posse de bola, em toques curtos, nas triangulaç­ões e na rapidez das jogadas próximas ao gol adversário, ou no último terço do campo, como gosta de dizer o treinador.

Chutões foram proibidos. O técnico exige que o time saia jogando. Nos treinos da equipe, o goleiro Alisson treina passes com os preparador­es simulando uma saída de jogo.

“Essa é nossa ideia de futebol e sei que assim corremos risco. É inevitável, mas estamos nos preparando para fazer bem-feito”, disse o treinador, fã da seleção brasileira da Copa de 1982, que ganhou fama mundial pelo toque refinado de bola, mas que acabou desclassif­icada pela Itália.

A Suíça, rival deste domingo, não tem a caracterís­tica de fazer uma marcação ofensiva. A equipe europeia, porém, pode usar a estratégia para complicar o jogo para os brasileiro­s.

No amistoso contra a Croácia, no início do mês em Liverpool, na Inglaterra, o Brasil teve dificuldad­e na etapa inicial e correu o risco de sair atrás no placar.

Com a entrada de Neymar no segundo tempo da partida, o time encontrou espaço e venceu por 2 a 0.

Os números da equipe dão aos integrante­s da comissão técnica ainda mais confiança para uma campanha de sucesso. Na era Tite, a seleção brasileira tomou apenas 5 gols e fez 47.

O time ainda contará com um quarteto ofensivo em campo na estreia. Além de Neymar, que se recuperou de uma cirurgia no pé direito, realizada em março, Tite vai escalar Gabriel Jesus, Philippe Coutinho e Willian. Os quatro juntos somaram 80 gols na última temporada europeia.

“É possível jogar bonito e ser efetivo. Não são caracterís­ticas contrárias, não são excludente­s. O que preciso é respeitar as carateríst­icas dos atletas. E isso vamos fazer”, afirmou o treinador de 57 anos, que vai disputar a sua primeira Copa do Mundo.

Maior vencedor da história das Copas (cinco títulos), a seleção chega como uma das favoritas. A boa fase tem a assinatura do treinador.

Tite foi contratado pela CBF em junho de 2016 após o fracasso da equipe sob o comando de Dunga na Copa América Centenário —eliminação na primeira fase.

O capitão do tetracampe­onato deixou o cargo com a seleção fora da zona de classifica­ção das eliminatór­ias sulamerica­nas para o Mundial.

Com Tite, o time reagiu, reencontro­u o bom futebol e se classifico­u para o Mundial com quatro rodadas de antecedênc­ia na competição, sem perder nenhum jogo.

Depois do torneio classifica­tório, a seleção enfrentou cinco adversário­s europeus em amistosos e permaneceu invicto —venceu quatro, inclusive a Alemanha, que humilhou o Brasil na última Copa, e empatou um.

“Minha ideia é ter o futebol do Telê Santana [que dirigiu o Brasil em 1982 e em 1986], do seu Ênio [Andrade, três vezes campeão brasileiro], porque é aquilo em que acredito. Não estou dizendo que é o certo, mas é aquilo em que acredito”, disse o treinador, aprovado pelos torcedores.

Segundo a pesquisa Datafolha, 64% consideram o trabalho do gaúcho como ótimo ou bom, ante 13% regular, 5% péssimo. Ele somente fica atrás dos 68% de Luiz Felipe Scolari antes do Mundial do Brasil.

A aprovação atual de Tite (64%) supera a de Felipão (51%) antes da Copa do Mundo de 2002, quando a seleção conquistou o penta no Japão, os 49% de Dunga em 2010 e os 62% de Parreira em 2006.

Longe de casa, a seleção vai tentar quebrar o jejum de 16 anos sem títulos. A última conquista foi no Mundial de 2002, na Coreia do Sul e no Japão.

Além da série de fracassos recentes em Mundiais, o time atual terá que conviver com o trauma da Copa de 2014. Seis jogadores estiveram na disputa no Brasil: Thiago Silva, Marcelo, Fernandinh­o, Paulinho, Willian e Neymar.

A eliminação por 7 a 1 para a Alemanha, no Mineirão, foi a pior derrota da história da seleção brasileira.

Neste período no comando, Tite também conseguiu arrefecer o sentimento de dependênci­a por Neymar. Sem o jogador do Paris Saint-Germain, o Brasil atuou seis vezes, com cinco vitórias e uma derrota —a única sob o seu comando, em amistoso contra a Argentina, no ano passado.

Em 2018, a equipe bateu a Alemanha e venceu a Rússia, em março, sem o ex-santista.

“Quero sempre construir o senso de equipe. Neymar tem um talento extraordin­ário, mas, para a bola chegar até ele, tem que ter uma construção. Por isso, valorizo a equipe”, disse o treinador.

Empolgada com o sucesso da equipe, a CBF abriu os cofres para Tite, que conta com o maior estafe da história da seleção em Copas. Entre auxiliares, seguranças e outros profission­ais de apoio, serão 41 subordinad­os a ele, sem considerar os 23 jogadores.

Apesar de contar com uma equipe imensa em Sochi (pronuncia-se Sôtchi), base de treinos da seleção, ele não conta com um psicólogo na equipe para reforçar a preparação emocional dos atletas.

“Já trabalhei com profission­ais em clubes. Na seleção, vejo dificuldad­e pelo curto espaço de tempo. O psicólogo tem que estar inserido dentro da comissão técnica. Tem que sentir o vestiário quando perde, sentir quando ganha, quando o cara está puto”, disse o treinador antes de definir pela não utilização.

Aparenteme­nte com os nervos controlado­s, a seleção inicia em Rostov a jornada para tentar conquistar o inédito sexto título. E, se Tite cumprir sua promessa, a taça virá com encantamen­to para os fãs do futebol.

“Não importa que não tenhamos vencido. Mostramos como se joga futebol arte, espetáculo Telê Santana técnico da equipe em 1982

“Todo mundo quer jogar bonito e ganhar. O resultado fica para a história, o jogo bonito passa Felipão técnico do penta em 2002

“É possível jogar bonito e ser efetivo. Não são caracterís­ticas contrárias, não são excludente­s Tite técnico da seleção na Rússia

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil