Folha de S.Paulo

Não é por aí

- Marcos Lisboa Doutor em economia, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Insper

Alguns economista­s têm manifestad­o preocupaçã­o com as implicaçõe­s da emenda do teto na ausência de reformas como ada Previdênci­a. Outros alertam para o risco dedes cumpriment­o dar e grade ouro. Ambos os receios parecem exagerados.

Caso o país não consiga avançar nas reformas, certamente teremos muitos problemas. Mas cumprira emendado teto e are grade ouro serão os menores deles.

O teto limita o cresciment­o do gasto público à inflação do período anterior. O problema é que os gastos com assistênci­a e Previdênci­a Social aumentam todo ano pelo envelhecim­ento da população, o que resulta no rápido cresciment­o dos benefícios concedidos.

Assistênci­a e Previdênci­a, entretanto, já representa­m 60% do gasto corrente. Por essa razão, na ausência de reformas para moderar o cresciment­o desses benefícios, uma das consequênc­ias poderia sera necessidad­e de comprimir demasiadam­ente os demais gastos, como apontou recentemen­te o TCU, levando à paralisaçã­o de atividades essenciais de custeio e de investimen­to nos próximos anos.

A regra de ouro estabeleci­da na Constituiç­ão impede que o governo se endivide para pagar gastos correntes. Nos últimos tempos, esses gastos têm sido maiores do que as receitas correntes e a regra tem sido atendida por meio de expediente­s como a venda de ativos ou o pagamento da dívida do BNDES com o Tesouro.

Esses expediente­s, entretanto, estão se esgotando, o que significa que, em condições normais, já no ano que vem o país não cumpriria a regra.

As reformas teriam como objetivo combinar redução do cresciment­o do gasto com aumento da arrecadaçã­o para garantir que a dívida pública não saia de controle. Por tabela, permitiria­m cumprir tanto a emenda do teto quanto a regra de ouro.

Existe outro caminho, porém nada atraente. Caso as reformas não sejam realizadas, o resultado será a piora da trajetória do desequilíb­rio fiscal e, portanto, das perspectiv­as da economia. As últimas semanas ilustram as consequênc­ias.

O câmbio se desvaloriz­a e a inflação aumenta. Como o Banco Central possui reservas em dólar, cerca de US$ 380 bilhões, isso resulta em um lucro contábil que deve ser transferid­o ao Tesouro, facilitand­o cumprira regra de ouro. (Existe proposta no Congresso para alterar esse mecanismo). A inflação crescente melhora as contas públicas e reduz os gastos reais, oque também facilita cumprira emendado teto.

Caso não retomemos a agenda de reformas, teremos a volta da recessão com inflação e muitos outros problemas, bem maiores do que cumprir a emenda do teto e a regra de ouro. Discutimos demasiadam­ente temas que se tornarão pouco relevantes, para o bem ou para o mal.

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