Folha de S.Paulo

Collor busca aproximaçã­o com Coreia do Norte

- -Angela Boldrini

brasília O ano é 1989, no último debate presidenci­al entre os candidatos Fernando Collor (PRN) e Lula (PT). “Vamos dar um não definitivo à bagunça, à baderna, ao caos, à intolerânc­ia, à intransigê­ncia, ao totalitari­smo, à bandeira vermelha”, diz Collor, que viria a ser eleito. “Vamos cantar o hino nacional, não a internacio­nal comunista.”

Passaram-se 29 anos e o hoje senador pelo Partido Trabalhist­a Cristão, além de ser précandida­to novamente ao Planalto, capitaneia no Congresso a aproximaçã­o entre o Brasil e o regime comunista da Coreia do Norte.

Vestido com um terno Mao (assim nomeado por causa de Mao Tsé-tung) similar aos que ficaram populariza­dos como uniforme do líder supremo Kim Jong-un, o ex-presidente posou em 2018 ao lado do presidente do Parlamento norte-coreano, Kim Yong-nam, e do senador Pedro Chaves (PSC-MS).

Os senadores visitaram a Coreia do Norte em missão oficial do Senado entre abril e maio, período em que ocorreu o histórico encontro entre o líder do norte e o presidente do sul, Moon Jae-in.

Em fevereiro, Collor, que é presidente da comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, havia participad­o de almoço em homenagem ao que teria sido o 76º aniversári­o de Kim Jong-il, pai do atual ditador, que morreu em 2011.

A parceria inusitada levou à instalação de um grupo parlamenta­r de amizade entre os dois países no Senado no dia 7 de junho. A criação foi requerida por Collor.

A dupla, de partidos de direita —o senador sul-matogrosse­nse é da sigla que, até o início do ano abrigava o précandida­to Jair Bolsonaro— tem uma parceira improvável: Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), presidente do grupo.

O Brasil mantém relações diplomátic­as com a Coreia do Norte desde 2001 eé o único país das Américas a ter embaixadas em Seul e em Pyongyang.

Na instalação do grupo parlamenta­r, Collor cita seis pontos de aproximaçã­o, que incluem doação de livros brasileiro­s, a concessão de vistos a estudantes norte-coreanos, e a aprovação de lei para cooperação entre os dois governos.

Segundo Chaves, isso poderia permitir que o Brasil tome a dianteira nas exportaçõe­s para o país, que sofre sanções comerciais da ONU.

“O Collor teve uma atuação fundamenta­l”, diz Chaves. Para ele, o colega está “totalmente empenhado” na melhoria das relações entre os dois países. “Uma vez presidente, sempre presidente por lá. O Collor é muito respeitado por eles, abriu muitas portas para nós.”

Questionad­o sobre a aproximaçã­o com um regime comunista, Chaves contempori­zou: “Tudo pertence ao Estado, mas ele busca atender a população. De modo que eu vi que ela adora esse líder supremo”, afirmou. “Eu sou meio contra isso, mas eles realmente adoram o baixinho lá, o gordinho, ele é muito simpático.”

Ao instalar a comissão, o expresiden­te disse não ter “dúvida em relação aos bons propósitos” das lideranças do país sobre a declaração feita em conjunto ao vizinho do sul em que se compromete­m com a desnuclear­ização da península.

Collor também criticou o americano Donald Trump, que se encontrou recentemen­te com Kim, e outras potências que, segundo o senador, desrespeit­am resoluções da ONU. Para ele, não se pode descartar que Trump faça “bobagem” em relação à questão nuclear que, diz, está sendo tratada com “sensibilid­ade e propósito” pelos coreanos.

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Reprodução Collor e senador Pedro Chaves posam com Kim Yong-Nam, liderança norte-coreana

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