Folha de S.Paulo

DEM resiste a fechar aliança com presidenci­ável

Ala mais à direita da sigla e críticos do estilo intempesti­vo de Ciro reagem a articulaçõ­es feitas por Maia

- Daniel Carvalho e Angela Boldrini

brasília Para levar adiante a aproximaçã­o com o PDT de Ciro Gomes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), terá que vencer forte resistênci­a de seu partido e também de siglas aliadas.

Maia é pré-candidato ao Planalto, mas admite que pode deixar o pleito caso entenda que outro postulante tem mais chances.

A simples divulgação de que teria um encontro com Cid Gomes, irmão de Ciro, incendiou o entorno de Maia. O encontro acabou acontecend­o longe das câmeras, tarde da noite, na quarta (13).

“Esse cara não tem nada a ver com nosso partido. É instável e não soma nada ao DEM. Se ele [Maia] não for candidato, meu candidato é Jair Bolsonaro [PSL-RJ]”, disse Alberto Fraga (DEM-DF), líder da “bancada da bala”.

A resistênci­a a Ciro não se limita à ala mais à direita da legenda. Pesam ainda motivos como opção por outros candidatos ou resistênci­a à verborragi­a do ex-governador do Ceará.

Como o Painel mostrou na semana passada, o secretário-geral do DEM, Pauderney Avelino (AM), move ação na Justiça contra Ciro por injúria. O líder da sigla na Câmara, Rodrigo Garcia (SP), apoia a candidatur­a de Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi secretário da Habitação.

Outro que resiste é Heráclito Fortes (DEM-PI), que considera que, caso Maia não seja o candidato, é melhor que se deixe o partido livre, apesar de isso enfraquece­r a legenda.

Reservadam­ente, um parlamenta­r do DEM considerou ainda que Ciro pode ser desidratad­o na disputa se o PT decidir lançar Fernando Haddad no lugar de Lula, preso em Curitiba.

A insatisfaç­ão no partido com a possível aliança extrapola o Congresso.

O líder do MBL (Movimento Brasil Livre) Kim Kataguiri, que se filiou ao DEM para concorrer a deputado federal, afirma que seria “suicídio político”. “Seria contra tudo o que o partido sempre defendeu”, disse.

Ciro é uma das três opções de apoio não só do DEM, mas de todo o bloco que o partido formou com SD, PP, PRB e PSC. Eles avaliam também aliança com Alckmin ou Alvaro Dias (Podemos).

Juntos, esses partidos têm cerca de 150 segundos de tempo de televisão. Sozinho, o PDT tem 33 segundos. O grupo pretende andar unido na eleição. Entretanto, o PRB apresenta resistênci­a ao estilo intempesti­vo de Ciro.

As desavenças com Ciro são antigas: em 2005, o então senador Antônio Carlos Magalhães chamou Ciro, então ministro da Integração Nacional de Lula, de covarde e desonesto —após o presidenci­ável ter chamado seu neto, atual presidente do DEM, de “anão moral”.

Também não seria a primeira vez que o partido (ainda como PFL) o apoiaria: em 2002, o mesmo ACM declarou voto em Ciro, então no PPS.

No presente, Maia tem trocado afagos com Ciro e disse que, apesar de uma aliança com o PDT não ser a maior probabilid­ade para o DEM, está aberto ao diálogo.

O presidente da Câmara tem procurado minimizar desavenças e já declarou que, a depender de quem chegar ao segundo turno, Ciro é “opção clara” para ele.

“Quando o DEM precisou do apoio do PDT na minha primeira eleição a presidente da Câmara [2016], contou com eles no decisivo segundo turno. Assim se faz política, dialogando.”

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Pedro Ladeira - 6.jun.18/Folhapress O presidenci­ável Ciro Gomes (PDT)

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