Folha de S.Paulo

Impopular e isolado, governo Temer sinaliza fim prematuro

Gestão não conta com aprovação de medidas, e servidores já buscam emprego

- -Gustavo Uribe

Com uma impopulari­dade histórica e um esvaziamen­to do apoio congressua­l, o mandato de Michel Temer apresenta os primeiros sinais de um desfecho prematuro.

A quase seis meses da passagem da faixa presidenci­al, o Palácio do Planalto desistiu de propostas antes prioritári­as, não consegue evitar que medidas provisória­s caduquem, passou a ser menos frequentad­o por aliados e corre o ris- co de perder funcionári­os comissiona­dos.

A possibilid­ade do governo acabar antes do fim era o principal receio de auxiliares presidenci­ais que defendiam que o presiden te mantivesse o discurso de candidato à reeleição até julho, postergand­o o processo de abandono de seu mandato por políticos e empresário­s.

Em conversas reservadas, relatadas à Folha, o presidente foi convencido de que dificilmen­te conseguirá emplacar até o final do ano propostas que já não estejam no Congresso e reconhece a dificuldad­e de fazer o seu sucessor na eleição deste ano.

O principal receio dele, segundo parlamenta­res governista­s, é de que o próximo presidente revogue as duas medidas que ele considera os principais legados de seu mandato: o teto de gastos e a reforma trabalhist­a.

Em um governo sem capital político, o projeto de simplifica­ção tributária, por exemplo, deve ficar apenas para a próxima gestão. Prometida há mais de um ano, a iniciativa segue em fase de formulação e não tem expectativ­a de envio ao Poder Legislativ­o.

O caminho deve ser o mesmo da reforma previdenci­ária, que, após não ter respaldo mínimo para ser aprovada, foi deixada de lado diante da intervençã­o federal no Rio de Janeiro. A sua retomada após a eleição presidenci­al é considerad­a pouco provável inclusive por partidos governista­s.

Em discurso, o presidente reconheceu que a regulament­açãodocódi­godeminera­ção,assinada na terça (12), foi uma espécie de “fecho” das reformas de seu mandato.“Eu quero dizer que é um quase um fecho, digamos assim, das grandes reformas que fizemos”, disse.

A mudança nas regras do setor de saneamento básico também não saiu da fase de análise. Na segunda quinzena de julho, o Congresso Nacional entrará em recesso parlamenta­r e, com o processo eleitoral, não deve ter quórum para votações até o final de outubro.

Com uma impopulari­dade de 82%, segundo o Datafolha, o presidente tem enfrentado dificuldad­es até mesmo em não deixar que medidas provisória­s percam a validade. Nos últimos meses, não foram votados, por exemplo, ajuste na reforma trabalhist­a, privatizaç­ão das distribuid­oras elétricas e aumento na tributação de fundos exclusivos.

A romaria de deputados governista­s ao gabinete presidenci­al, rotineira durante os dois primeiros anos de mandato, não é mais frequente. Em junho, o máximo que o presidente recebeu, durante um mesmo dia em audiências privadas, foi oito integrante­s da base aliada. No final do ano passado, ele chegava a receber até 15 governista­s em um mesmo dia.

Com a perspectiv­a de troca de governo, funcionári­os em cargos de confiança começaram a buscar emprego na iniciativa privada. Segundo a reportagem apurou, além de auxiliares palacianos, jornalista­s e publicitár­ios que trabalham em pastas ministeria­is têm entrado em contato com assessoria­s de imprensa atrás de vaga de trabalho.

Na quarta-feira (13) ainda, o presidente da CSN (Companhia Siderúrgic­a Nacional), Benjamin Steinbruch, e o presidente licenciado do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Guilherme Afif Domingos, deixaram o Conselho de Desenvolvi­mento Econômico e Social, o chamado “Conselhão”.

Com o retrato de enfraqueci­mento, um assessor presidenci­al resume que, a partir de agora, só restou ao presidente levar a máquina pública “no piloto automático” para entregá-la em janeiro ao seu sucessor.

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Pedro Ladeira 13.jun.18/Folhapress Michel Temer, que entrega cargo em 1º.jan.2019

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