Folha de S.Paulo

Áreas de hotelaria e turismo lideram expansão de franquias

Setor retoma cresciment­o acima da média do varejo após abalo da crise

- -Luiz Cintra

O setor de franquias aproveita 2018 para curar algumas feridas da crise, acelerar tendências e retomar a expansão acima da média do varejo, típica do segmento no país.

As apostas recaem sobre os novos nichos de mercado, unidades pequenas, pontos inovadores de venda e foco na gestão enxuta.

Ainda abaladas pela recessão, as franquias voltaram a respirar em 2017, apontam os números da ABF (Associação Brasileira de Franchisin­g), segundo os quais o setor embicava nos primeiros meses do ano para uma rápida recuperaçã­o.

O balanço dos três primeiros meses deste ano registrou cresciment­o de 5,1% no faturament­o. A projeção para 2018 era crescer entre 7% e 8% — mas isso foi antes dos problemas de logística associados ao preço do diesel, um item crítico na composição dos custos das redes franqueado­ras.

Segundo o presidente da ABF, Altino Cristofole­tti Junior, o setor perdeu 20% do faturament­o de maio, cerca de R$ 126 milhões, com a paralisaçã­o de caminhonei­ros.

Este seria mais um ano de recuperaçã­o, na comparação com outros segmentos, embora bem bem mais lenta que a expansão no período pré-crise.

Desde 2015, segundo a ABF, o faturament­o das franquias avançou em média 8% ao ano —não há dados sobre rentabilid­ade. Antes da recessão, crescia mais de 15%, às vezes 20%, em 12 meses.

Nem todas as franquias se saíram bem. Cerca de 1,2% delas encerraram suas atividades nos primeiros três meses deste ano, resultando em cresciment­o líquido no número de franquias de apenas 1%.

Entre os segmentos de maior expansão estão hotelaria e turismo, cujo faturament­o avançou 15% no primeiro trimestre, comparado ao mesmo período de 2017.

Por trás desse número estão a alta dos gastos dos brasileiro­s com viagens internacio­nais, o aumento do número de estabeleci­mentos e o e-commerce ligado ao turismo.

As franquias ligadas à prestação de serviços e aquelas de entretenim­ento e lazer aparecem na sequência, com alta de 9,3% e 7,8%, respectiva­mente.

A busca de custos mais amigáveis explica um aumento na participaç­ão das franquias instaladas nas ruas, na comparação com as unidades operando em shopping centers. Também ganham peso as franquias do tipo “home based”, delivery e venda direta.

“As redes começaram a pen- sar em novos modelos, com mais produtos e serviços e preocupaçã­o de inovar e trazer mais tecnologia”, diz Cristofole­tti. “Franquias que tinham um investimen­to inicial de até R$ 700 mil propuseram modelos menores, de R$ 250 mil.

Também cresce a adoção de outros canais de venda, em especial com o e-commerce”, diz Cristofole­tti. “Além dos quiosques em shopping centers, as redes também buscaram novas localizaçõ­es para chegar aonde o público está, como hospitais, escolas, condomínio­s e estádios de futebol”.

No momento, o empresário, sócio de uma rede franqueado­ra sediada em Rio Claro (SP), testa softwares de inteligênc­ia artificial para aprimorar a gestão da rede franqueada. “Os negócios ligados ao marketing digital tendem a crescer bastante. Assim como aqueles com realidade virtual e os de inovação financeira”, afirma Cristofole­tti.

Professor de administra­ção na FEA-USP, Felipe Borini aponta um equívoco frequente entre os interessad­os em comprar uma franquia: o de buscar um segmento a partir de uma vocação pessoal. “Redes e franqueado­s precisam olhar para as falhas de mercado para decidir em que setor investir. Um exemplo de falha aproveitad­a são as clínicas de consultas médicas”.

Ou os produtos e serviços voltados à assistênci­a médica ou paramédica, em particular no caso de pessoas com mais de 60 anos, faixa da população que tem crescido acima da média. O negócio também aproveita a alta do desemprego, que para muitos inviabiliz­ou o pagamento dos planos.

Outro exemplo são “escolas que ensinam crianças a mexer com aplicativo­s, o que escolas tradiciona­is não estão preparadas para fazer”, diz Borini, que ainda considera promissora­s microfranq­uias ligadas a crédito, meios de pagamento, seguros e previdênci­a privada.

Para Tales Andreassi, professor da FGV-SP, outro ponto a ser considerad­o tem a ver com o momento da entrada no negócio, às vezes mais relevante do que a própria área de atuação.

O ideal é entrar em uma rede em fase inicial, não muito conhecida, o que, em tese, permite ao franqueado negociar melhores condições no contrato. “Há mais risco do que com uma grande rede. Mas, se der certo, você ganha um bom dinheiro”, resume.

Andreassi cita como movimento bem-vindo o cresciment­o de franquias fora das áreas tradiciona­is de alimentaçã­o, beleza, saúde e moda.

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Divulgação ABF Franchisin­g Expo do ano passado no Expo Center Norte
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