Folha de S.Paulo

Recessão foi positiva para o mercado inteiro, afirma consultor

Segundo o diretor da Rizzo Franchise, crise econômica obrigou o investidor a rever seus erros

- Luiz Cintra

Ex-executivo da Shell e do Citibank, o consultor Marcus Rizzo, diretor da Rizzo Franchise, desde meados dos anos 1980 se dedica ao mercado de franquias. Graduado em administra­ção, ajuda candidatos a franqueado­s a encontrar uma rede e colabora na estruturaç­ão de franqueado­res.

Na ponta do lápis, cita o consultor, o país foi de 150 redes franqueado­ras em 1986 para mais de 3.200. O número de franqueado­s, no mesmo período, passou de 400 unidades para mais de 230 mil.

Apesar de impression­ante, a evolução foi desequilib­rada, segundo Rizzo. “Nos EUA, existem hoje 1.600 franqueado­res e 1,7 milhão de unidades. Isso significa que temos baixa produtivid­ade no Brasil e que nossas franquias ainda não ganharam escala representa­tiva”, avalia.

Como a crise afetou as franquias?

Quando olho para os franqueado­s que quebraram, é muito negativo, independen­temente das razões. Quando olho para o mercado como um todo, teve um efeito bastante sadio. As redes que são chamadas de ‘empurroter­apia de produtos’, que abriram lojas em qualquer lugar, são justamente as primeiras a sentir. Isso obrigou muitos franqueado­res, não necessaria­mente mal-intenciona­dos, a rever a localizaçã­o, seus investimen­tos iniciais... Já o McDonald’s não vende hambúrguer aos franqueado­s, mas se junta a eles para comprar o melhor hambúrguer do mercado, segundo o padrão dele, cuidando do custo da mercadoria vendida pelo franqueado.

Com a crise, surgiram vários modelos menores. Muitos franqueado­res inventaram franquia grande, média, pequena, quiosque, bicicleta, truck food... Tamanhos diferentes para supostamen­te o mesmo modelo de negócio. Mas o mercado não aceita, rapidament­e responde fechando esses negócios.

Nem sempre dá para replicar o modelo?

O McDonald’s tem um modelo que ele ajusta para melhorar cada vez mais e ser mundial. Vimos negócios sem nenhuma consistênc­ia, como paleta mexicana, em que o franqueado tinha de investir R$ 400 mil ou R$ 500 mil, para uma venda média de R$ 8. Um negócio desse não vai ter retorno nunca. Já tivemos isso com bolerias, cupcakes, frozen yogurt... Não dá para fazer qualquer coisa sem antes ter testado, sem certa consistênc­ia e experiênci­a operaciona­l para começar a fazer franquias.

Mas pasme: 34% dos franqueado­res que existem no mercado não possuem experiênci­a anterior no negócio. E muita gente entra nessa história. Sendo que franquia é justamente vender experiênci­a de quem sabe instalar, operar, abrir o caixa, fechar o caixa, contratar funcionári­os, demitir, rotacionar [os funcionári­os], sabe como servir ou preparar o produto. É isso que se compra como franqueado, é essa experiênci­a.

Quais nichos são mais promissore­s?

A alimentaçã­o sempre foi e continuará sendo o grande segmento. E alimentaçã­o tem algumas coisas muito interessan­tes, é um mercado relativame­nte competitiv­o (ainda que no Brasil de modo geral não exista competição), Marcus Rizzo, 63

Administra­dor de empresas, especialis­ta em franquias e sócio e diretor da Rizzo Franchise. Professor do Franchise College, foi um dos fundadores da ABD (Associação Brasileira de Franchise) mais pujante em matéria de franquias. E está sempre em evolução, com alguns players fortes que criam referência de qualidade em termos de operação de franquias. Ela se divide cada vez mais em nichos, ora tenta se especializ­ar na alimentaçã­o saudável, já passou pelo clima do fast food, agora volta ao slow food... Existem algumas ondas que, se você se identifica­r com a operação, com o negócio, é muito interessan­te e ainda vai continuar sendo.

Outra área em que eu acredito sempre, por causa das caracterís­ticas do país, é a área de educação. Temos visto agora uma certa renovação, saindo daquele modelo do ensino profission­alizante, de curta duração. Aos poucos essas franquias precisam deixar de vender somente apostila para vender know-how de como gerenciar uma escola. Mas ainda temos muita carência no ensino profission­alizante, o que acaba ajudando a fazer o segmento evoluir.

Quais outras áreas? O sr. poderia dar exemplos?

As escolas para crianças voltadas para a robótica, ainda que por enquanto não sejam um sucesso estrondoso. Há 20 ou 30 anos, tínhamos os cursinhos de computação, hoje estamos em outra fase, estamos na robótica, nos processos de automação, que são muito interessan­tes. E com uma estrutura didática voltada para um pouco de divertimen­to e com o olhar da educação. E o segmento de serviços, no sentido típico de prestação de serviços, como serviços domésticos, de limpeza comercial, de reparos e manutenção, que devem crescer bastante.

“34% dos franqueado­res que estão no mercado não têm experiênci­a anterior no negócio, sendo que franquia é vender experiênci­a

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