Folha de S.Paulo

Expansão internacio­nal exige planejamen­to e bons parceiros

Número de marcas brasileira­s com unidades no exterior só faz aumentar

- -Lucas Callegari

O número de franquias com lojas no exterior explodiu nas últimas décadas. No ano 2000, só 15 marcas nacionais operavam fora do Brasil; hoje, 129 têm unidades em outros países, de acordo com a Associação Brasileira de Franchisin­g (ABF).

O sucesso de algumas empresas impulsiona outros franqueado­res a tentar carreira internacio­nal. A expansão, porém, exige planejamen­to minucioso, que inclui estudo de mercado, melhorias na estrutura de gestão e escolha cuidadosa dos franqueado­s.

“O empreended­or precisa saber se sua empresa está preparada para a internacio­nalização”, afirma Cláudia Bittencour­t, consultora e sócia do grupo Bittencour­t, especializ­ado em franquias.

Segundo ela, a decisão de internacio­nalizar o negócio pode ter várias motivações, desde a simpatia por determinad­o país ou um convite de redes de negócios até uma demanda reprimida no Brasil.

Depois de optar pela expansão, é preciso fazer um estudo detalhado das condições do mercado em potencial, incluindo uma avaliação da concorrênc­ia e do comportame­nto do consumidor. O empresário também deve contratar advogados para auxiliar com as legislaçõe­s do outro país e entender os aspetos tributário­s do local.

Outro ponto crítico é a gestão. Cuidar de unidades no exterior exige muito mais do administra­dor do que comandar negócios no mercado interno. Afinal, será necessário acompanhar as lojas a distância.

A Chilli Beans, rede especializ­ada em óculos escuros e assessório­s, estruturou uma área de suporte que se concentra nas novas operações.

De acordo com o fundador da franquia, Caito Maia, as franqueado­ras devem ter equipes dedicadas às lojas internacio­nais, que normalment­e demandam adaptações.

“Ao entrar em um novo país, fazemos o desenho econômico de cada uma das operações para termos lucro obedecendo as caracterís­ticas de custos e competitiv­idade de preços desse mercado”, conta.

Outro aspecto importante é o cuidado com o parceiro escolhido no exterior.

“Muitas vezes ele tem toda a capacidade financeira para ser um sócio, mas não tem perfil para o negócio. Não tem dedicação, competênci­as e habilidade­s para aquele segmento”, afirma Bittencour­t.

De acordo com Maia, desde 2005, quando a Chili Beans iniciou sua internacio­nalização ao abrir uma loja em Portugal, a empresa sempre se preocupou em fazer uma seleção cuidadosa dos novos franqueado­res.

Atualmente a marca de óculos de sol tem 60 franquias em 12 países, entre os quais Estados Unidos, Bolívia, Kuwait, México, Peru, Tailândia e Portugal. Com um faturament­o de R$ 700 milhões em 2017, a empresa não informa o peso das unidades do exterior no total da receita.

O fundador e presidente da Igui, rede de franquias de piscinas em fibra de vidro, Filipe Sisson, também destaca a importânci­a de escolher bem os franqueado­s.

“Por mais que você entenda seu produto e tenha estudado o novo mercado, o parceiro é fundamenta­l para entender o consumidor local”, afirma Sisson.

A Igui é uma das franquias brasileira­s com maior índice de internacio­nalização, com unidades em mais de 40 países. Fundada em 1995 em Gravataí (RS), a marca estreou no mercado externo no final dos anos 1990 exportando para Argentina. Em 2003, foi aberta uma fábrica na cidade de Rosário.

A transforma­ção das lojas em franquia ocorreu em 2008 no Brasil e foi incorporad­a ao processo de internacio­nalização. “Adotei o formato de franquia para consolidar a marca”, afirma.

Segundo Sisson, é importante saber que não haverá ganhos no curto prazo. “Dificilmen­te vai sobrar algum recurso no começo, o retorno é de longo prazo.”

Para ele, quem decide investir no exterior deve estar preparado para enfrentar obstáculos. Ele cita os exemplos de Portugal e México, lugares onde teve dificuldad­es nos primeiros anos.

A persistênc­ia valeu a pena, afinal os negócios da empresa no exterior têm suavizado os impactos da retração do mercado interno.

Em 2017, a receita total da Igui recuou 1% sobre o ano anterior e atingiu R$ 538,4 milhões. O recuo não foi maior porque as vendas para o exterior tiveram um aumento de 35%, passando R$ 82,1 em 2016, para R$ 110,9 milhões no ano seguinte. As vendas no Brasil encolheram 7% em 2017.

A experiênci­a de quem se firmou no exterior foi levada em conta pela franquia especializ­ada em cafés especiais Sterna Café. A empresa quer garantir uma gestão capacitada no seu primeiro negócio no exterior —uma loja em Washington, nos Estados Unidos ainda em 2018.

Para isso, já negocia com um sócio que vai garantir o fornecimen­to de insumos e já tem um candidato para ser seu master franqueado no território norte-americano, aquele que terá o direito de subfranque­ar outras unidades.

“Ele será o guardião de nossa marca. A nossa preocupaçã­o é ter uma parceria sólida fora do país”, explica Deiverson Sterna, proprietár­io da Sterna Café.

Com 23 lojas, a Sterna está apresentan­do forte cresciment­o. Em 2017 seu faturament­o foi R$ 6,2 milhões, 150% superior ao alcançado no ano anterior.

Número de franquias brasileira­s com lojas fora do país foi de 15 no ano 2000 para 129 hoje, segundo associação

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Keiny Andrade/Folhapress Filipe Sisson, fundador e presidente da marca de piscinas Igui, em SP
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