Folha de S.Paulo

Maria-fumaça refaz rota do café do século 19

Expresso turístico percorre trecho de fazendas que liga Campinas a Jaguariúna em locomotiva­s feitas entre 1895 e 1960

- -Mariana Janjácomo

No século 19, os trilhos da extinta Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que ligavam Campinas (SP) a Araguari (MG), levavam locomotiva­s carregadas de café colhido em São Paulo.

Hoje, a viagem de maria-fumaça percorre os 24,5 km entre as cidades de Campinas e Jaguariúna e leva curiosos e saudosista­s. São cerca de 30 mil viajantes por ano nos passeios, que ocorrem apenas aos fins de semana.

Um deles é o gerente de contratos Edilson Ritoni, 48. “É um túnel do tempo, um trajeto cheio de natureza, que realmente faz a gente voltar ao passado”, diz Ritoni, que levou a filha, Letícia, 9, para conhecer o trajeto e andar de trem pela primeira vez.

O percurso dura cerca de três horas e meia e o trem anda a uma velocidade média de 25 km/h. Cerca de 80% do trajeto é em cenário rural, atravessan­do fazendas de cana e de gado. Nos vagões, monitores falam sobre a história da linha, do trem e de cada trecho percorrido.

Cada viagem é feita por 12 vagões de passageiro­s, com capacidade para acomodar 46 pessoas cada um. Os trens têm um banheiro com lavatório e um vagão-restaurant­e, onde são vendidos lanches, salgadinho­s e bebidas.

As locomotiva­s são de diferentes épocas e locais de origem. Algumas vieram da Alemanha, outras, dos Estados Unidos, mas têm aparência semelhante.

São seis estações ao longo do caminho —Anhumas, Pedro Américo, Tanquinho, Desembarga­dor Furtado, Carlos Gomes e Jaguariúna.

Na última delas, o trem permanece por cerca de 40 minutos. Ali, os passageiro­s podem descer e conhecer o local, além de tirar fotos usando roupas de época dentro de um vagão norte-americano restaurado de 1913.

O passeio é de responsabi­lidade da Associação Brasileira de Preservaçã­o Ferroviári­a (ABPF), organizaçã­o fundada em 1977 por um grupo de aficionado­s por ferrovias.

Nessa mesma época, a associação conseguiu a cessão da linha do trem por tempo indetermin­ado. “A ferrovia estava abandonada, tomada pelo ma- to”, lembra Hélio Gazetta Filho, diretor administra­tivo da regional Campinas da ABPF.

O trabalho de recuperaçã­o do trecho demorou quatro anos. Em 1984, circulou o primeiro trem turístico pelos trilhos. Desde então, a associação adquiriu seis locomotiva­s a vapor e três a diesel, que têm a função de auxiliar a operação das marias-fumaça.

As máquinas são trazidas até uma oficina especializ­ada que fica na estação Carlos Gomes, em Campinas, onde são restaurada­s por funcionári­os da associação e voluntário­s.

Como os vagões são antigos, construído­s entre 1895 e 1960, não há peças à venda e todo item necessário para a manutenção das máquinas é construído pela ABPF. A restauraçã­o de uma locomotiva pode custar até R$ 500 mil, segundo Gazetta.

A associação gasta cerca de R$ 200 mil por mês para fazer as manutençõe­s periódicas dos trilhos e dos trens. A verba vem da venda de ingressos para os passeios e de doações.

O próximo projeto da ABPF é recuperar mais uma estação ferroviári­a da região, a Desembarga­dor Furtado.

O passeio completo, com ida e volta, pode ser feito a partir das estações Anhumas, em Campinas, ou Jaguariúna, na cidade homônima. Os ingressos custam R$ 100.

O embarque em Campinas é feito às 10h aos sábados e às 10h10 ou 14h30 aos domingos. Neste domingo (17), por conta do jogo da seleção brasileira contra a Suíça pela Copa do Mundo, haverá apenas uma partida, às 11h.

Uma outra opção de percurso, mais curta, vai e volta das estações Anhumas ou Jaguariúna até a estação Tanquinho, em Campinas, e dura uma hora e meia. Custa R$ 80.

Os ingressos para o passeio podem ser adquiridos pelo site www.mariafumac­acampinas.com.br ou nas bilheteria­s da estações Anhumas e Jaguariúna.

Os vagões são de diferentes épocas, construído­s entre 1895 e 1960, e sua restauraçã­o pode custar até R$ 500 mil

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Fotos Divulgação Uma das marias-fumaça que percorrem os trilhos entre Campinas e Jaguariúna, no interior de São Paulo
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Casa que abriga os palestrant­es dos cursos de sustentabi­lidade do Ipema; à direita, aula de permacultu­ra em uma das salas da instituiçã­o
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O interior de um dos 12 vagões que compõem o comboio e que levam até 46 turistas cada um
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