Folha de S.Paulo

ONG de Ubatuba dá aula de construção sustentáve­l

- MJ

Dentro de uma área de mata atlântica preservada, em Ubatuba, no litoral de São Paulo, fica uma vila onde quase tudo é sustentáve­l. Das paredes das casas até os telhados, passando pelos banheiros e o cultivo de alimentos.

São as instalaçõe­s do Instituto de Permacultu­ra e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema). O conceito de permacultu­ra envolve a redução de impactos causados pela ocupação humana no ambiente.

“É um caminho para a autossufic­iência, em que a gente utiliza o que a natureza faz para gerar o mínimo de resíduos e o máximo de recursos”, explica o engenheiro florestal Leonardo Britto, coordenado­r do centro educaciona­l do Ipema.

Desde 2011, ele vive em uma casa de 70 metros quadrados na ecovila. Com ele, moram a mulher, Daniela Reis, que também é engenheira florestal e trabalha na ONG, e os dois filhos pequenos.

O instituto ainda conta com três alojamento­s com capacidade total para 26 pessoas, além de salas onde são administra­das as aulas.

As construçõe­s são feitas com barro, pedra e madeira de demolição. Descartes de vidraçaria também são utilizados nas obras, cujas paredes exibem pedaços de garrafas coloridas.

Em parte dos banheiros, uma espécie de filtro com minhocas ajuda a decompor os resíduos. Em outros, tonéis armazenam os materiais que são transforma­dos em adubo com a ajuda de energia solar.

A compostage­m gera o adubo utilizado na horta do espaço, de onde saem alimentos consumidos por funcionári­os e visitantes.

No local, há o cultivo de frutas, como laranja e banana, além de hortaliças, palmito e mandioca.

Para resfriar o interior das casas, as construçõe­s locais têm telhados verdes com plantas de raízes curtas, como o abacaxizei­ro. Britto diz que essa técnica garante temperatur­as agradáveis nos ambientes mesmo no verão litorâneo.

Toda a energia utilizada no local, que tem duas geladeiras, mais de 40 lâmpadas e equipament­os de escritório, é gerada por uma turbina hidráulica instalada em um curso de água que fica fora do Parque Estadual da Serra do Mar, conhecido como rio do Gato.

“A rotação dessa estrutura cria a energia e, depois de passar por ali, toda a água volta para o rio”, diz Britto.

O engenheiro diz que as construçõe­s ecológicas custam em torno de R$ 800 por metro quadrado. Mais baratas que a média das obras convencion­ais em São Paulo, onde o metro quadrado fica em R$ 1.348, segundo o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).

A principal economia está nos materiais. Mas Britto alerta que os preços da mão de obra especializ­ada nesse tipo de construção podem encarecer o projeto.

Para difundir as técnicas, o Ipema oferece cursos de bioconstru­ção, que incluem o pau a pique (com barro e madeira) e a hiperadobe (com terra ensacada).

Os cursos duram de três a quatro dias e custam, em média, R$ 600. As inscrições podem ser feitas no site.ipema brasil.org.br.

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