Revolução industrial 4.0 exige de administradores um novo repertório
Academia ainda prepara quadros para atuar em nível operacional, em descompasso com a realidade
são paulo O que fazer para garantir o emprego quando cem mil novos formados na sua profissão são colocados no mercado todos os anos, ao mesmo tempo em que sabese que muitas das atribuições da área serão substituídas por recursos de inteligência artificial na próxima década? É para esse quadro que administradores devem estar prontos, caso não queiram deixar o diploma na gaveta. Não é preciso sair da área, mas é urgente mudar a lógica tradicional que ainda dita a grade curricular da maioria dos cursos de administração, avisam os especialistas. “A academia oferece formação cartesiana e fragmentada, que a remete à Revolução Industrial 1.0, quando estamos na era da revolução industrial 4.0. É um descompasso brutal e que precisa ser ajustado”, afirma Mauro Kreuz, diretor da Câmara de Formação Profissional do Conselho Federal de Administração. O mercado pede profissionais com visão aprofundada das questões geopolíticas que influenciam a gestão, e o ensino segue formando quadros para atuar em níveis operacionais e, portanto, expostos aos riscos da automação. Gestão de finanças e de agenda e controle de estoque já podem ser feitos por máquinas atualmente. O que aparentemente é uma fraqueza da área, no entanto, pode ser convertida como oportunidade –para usar termos caros à própria carreira. É que nesta revolução 4.0 — que prega automatização marcada por convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas—, terá espaço o profissional com capacidade de liderança, inovação e de trabalho em equipe. E o campo da administração é fértil para essa formação. “O curso tem o potencial de formar profissionais que dominam as ferramentas do mundo digital, mas usam a criatividade para apoiar as organizações no desenvolvimento de novos modelos, novos serviços e novas posturas. Isso é nuclear nessa nova configuração do trabalho, muito mais global”, diz Renato Guimarães, coordenador da graduação da FGV-EASP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo).
É a tônica que a FGV tem trabalhado tanto na formatação do currículo –com foco na internacionalização– como nas conversas do dia a dia com os alunos. “Eles chegam apreensivos. A ideia de fazer carreira em uma grande organização deixou de ser a visão hegemônica do sucesso. Mostramos como eles podem empreender ou ter uma oportunidade em um negócio menor que aposta na inovação”, diz Guimarães. Os alunos entenderam o recado. Aluno do 8º semestre de administração, Victor Manuel Coimbra Antonio também cursa sistemas de informação e é cofundador na FGV de um centro de pesquisas que leva tópicos de inteligência artificial ao mundo acadêmico. O grupo, de 14 estudantes, ensina programação básica para ajudar os colegas a entrarem no mercado da administração, em projetos de machine learning e big data. São ferramentas que, se bem utilizadas, trarão benefícios como maior transparência e, logo, menos possibilidade de corrupção em organizações públicas e privadas. “Temos tecnologias, comoas de block chain [tipo de base dedados distribuída que guarda registro de transações eé à prova de violação], que podem ser utilizadas para intermediar transações. Um contrato inteligente sem risco de alguém fraudar, ou fazer caixa dois”, explica Coimba. Uma pequena mostra de que o papel do administrador não será mais coletar dados, analisar e tomar decisão, mas sim melhorar acoleta, otimizara análise e decidir .“É só um exemplo de como novas tecnologias podem abrir portas para cargos que nem temos ideia que existirão.”