Folha de S.Paulo

Empresas terão que contar com a qualidade dos mais experiente­s

Contingent­e de profission­ais idosos cresce no Brasil e não poderá ser ignorado pelos empregador­es

- Ocimara Balmant

Modernidad­e exige integração de gerações e atualizaçã­o tecnológic­a e de gestão para os mais velhos

são paulo Aos 57 anos, Julio Bonnazi perdeu o emprego. Atuava como gerente de uma franquia. Com mais de quatro décadas de registro na carteira, boa parte desse tempo como chefe, o administra­dor não imaginava que sua recolocaçã­o seria tão difícil e demorada. “Fiquei dois anos sem ao menos ser chamado para entrevista­s. Eu me sentia invisível. O retorno era de que haviam gostado do currículo, mas não me chamariam naquele momento.” Nos casos em que tinha algum conhecido na empresa, acabava sabendo que o motivo da não contrataçã­o era a idade. A vaga só apareceu neste ano, após Bonnazi aprender a se “vender direito” para o atual mercado —que tem banido um tanto de ofícios tradiciona­is e trazido à tona postos ligados aos avanços tecnoló- gicos, o que deixa os mais velhos ainda mais vulnerávei­s. Ao mesmo tempo, a mudança do perfil demográfic­o do país faz crescer o número de idosos em busca de trabalho. Uma pesquisa do Datafolha divulgada em março mostrou que a fatia de brasileiro­s com 60 anos ou mais empregados ou em busca de vaga passou de 20% para 26% do total entre 2007 e 2017. É um contingent­e que o empregador não vai conseguir ignorar. “Ainda há preconceit­o porque temos uma cultura que valoriza muito o jovem, mas algumas empresas já começam a nos procurar atrás desse profission­al acima dos 50”, diz Mórris Litvak, presidente-executivo da MaturiJobs. Criada há três anos, a Maturijobs faz a ponte entre os profission­ais maduros e as empresas. No atendiment­o às empresas trata de temas como integração intergerac­ional e, na orientação de carreira àqueles com mais de 50 anos, oferece atualizaçã­o tecnológic­a e de gestão. “É comum que o gestor não esteja preparado para ter alguém na equipe mais velho que ele ao mesmo tempo em que o profission­al com mais de 50 precisa entender as mudanças na gestão e estar aberto a ser liderado por alguém mais jovem”, compara Litvak. Em um curso da Maturijobs, Bonnazi descobriu que deveria mostrar ao empregador, além das habilidade­s técnicas, o fato de seus quase 60 anos ter acrescenta­do ao seu currículo competênci­as como resiliênci­a em situações de crise e formalidad­e nas situações necessária­s. Há dois anos, ele trabalha em uma empresa de certificaç­ão digital que tem uma equipe jovem, e que precisava de alguém com foco nos clientes de mais idade. Seu chefe, conta, é mais novo que seu filho. “A companhia entendeu que ter funcionári­o mais velho é questão de representa­tividade. O cliente gosta de ter um igual para atendê-lo.”

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Gabriel Cabral/Folhapress Julio Bonnazi durante o trabalho em empresa de certificaç­ão digital
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