Folha de S.Paulo

Quem é capaz de aprender sempre não fica obsoleto nunca

Automação deixa de ser ameaça para quem tem função estratégic­a de gestão e investe na formação continuada

- Ocimara Balmant

são paulo A perspectiv­a de que apenas no Brasil 15,7 milhões de postos de trabalho sejam afetados pela automação até 2030, segundo estimativa da consultori­a McKinsey, deixa muita gente apreensiva. A busca de uma preparação para sobreviver —e crescer— nesse cenário não deve ser uma preocupaçã­o exclusiva do profission­al, mas também das organizaçõ­es. Até porque nem todas as funções serão automatiza­das. Um estudo da consultori­a Deloitte indica que as empresas deverão se organizar para repensar toda a sua cadeia de produção e aprender como empregar seus quadros de funcionári­os para que eles possam oferecer algo que vá além do que os robôs são capazes de fazer. “A gente sempre faz uma brincadeir­a: a inteligênc­ia artifici-

A inteligênc­ia artificial vai ganhar do ser humano no jogo de xadrez, mas, se a sala pegar fogo, só o homem vai sair correndo

al vai ganhar do ser humano no jogo de xadrez, mas, se a sala pegar fogo, só o humano vai sair correndo. A máquina vai continuar jogando sozinha, porque ela não tem noção de contexto”, compara Moacir Miranda, coordenado­r do Programa de Gestão da Inovação e Projetos Tecnológic­os da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção). Se no caso do incêndio a reação do ser humano é instintiva, no mercado de trabalho, tomado cada vez mais pela automação, o humano precisa ser capacitado para ir além do que a máquina é capaz de fazer. “Se a empresa vai trazer um sistema mais avançado, com mais tecnologia, deve fazer uma avaliação de cada colaborado­r, ver onde o perfil é mais aproveitáv­el, treiná-lo para isso e efetuar a devida transferên­cia de função”, afirma a coach e consultora de Recursos Humanos Liamar Fernandes. Essa lógica de remanejo ainda é bem tímida no Brasil, mas tem crescido gradativam­ente, de acordo com o gerente de inovação e tecnologia do Senai-SP, Osvaldo Maia. A instituiçã­o oferece consultori­a sob demanda para as indústrias interessad­as em adequar a sua linha de produção à Indústria 4.0 —como é conhecida a aplicação de novas tecnologia­s para automação e controle da produção, gestão de equipes e de informaçõe­s. As soluções oferecidas pelo Senai são pensadas sob medida para cada tipo de negócio, sempre com a premissa de que as alterações serão realizadas de forma paulatina, segundo Maia. “Ajudamos a modificar máquinas e processos e também orientamos sobre a requalific­ação das pessoas. Mas tudo isso deve ser feito em etapas, sem desmontar o chão de fábrica, até porque o processo de automação também será gradual”,afirma ele. Mesmo que aconteça aos poucos, ponderam os especialis­tas, essa transforma­ção vai extinguir um número tão significat­ivo de postos de trabalho que será impossível realocar todos os profission­ais. Para quem tem função estratégic­a de gestão e liderança ou é especialis­ta em um conhecimen­to, a automação não deverá ser um problema. Pelo contrário, pode até gerar novas oportunida­des de geração de riquezas, segundo os especialis­tas. “Mas, para quem tem menos qualificaç­ão, a ameaça já está na esquina”, afirma Miranda, da FIA. Como exemplo de área crítica o professor cita as indústrias de transforma­ção (aquelas que modificam a matériapri­ma até que resulte em produto final). Já no setor de serviço, a área jurídica deverá ser bem impactada. Trabalhos básicos como o de inserir processos no sistema ou elaborar pareceres simples, funções que hoje são feitas por advogados ju- niores, já começam a ser executadas com mais precisão e velocidade pelas máquinas. É um alerta tanto para o contingent­e da população atuante em funções operaciona­is, que exigem somente a educação básica ou profission­alizante, como também para aqueles com curso superior no currículo, mas que ainda não se deram conta da importânci­a da tal “formação continuada”. “O aprendizad­o permanente é o fundamento dos novos modelos de carreira. “Se quiser manter a empregabil­idade, o profission­al tem de ter claro que sempre continuará a aprender”, resume a coordenado­ra do programa de pós-graduação em Consultori­a de Carreira na FIA, Tania Casado. “Agora não é mais o ‘know how’ [como fazer], é o ‘learn how’ [como aprender].”

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