Folha de S.Paulo

Morre Eliezer Batista, criador do projeto Carajás

Duas vezes presidente da mineradora, engenheiro era pai do empresário Eike

- -Cristina Grillo e Nicola Pamplona Leo Pinheiro - 7.mai.15/Valor/Folhapress

O engenheiro Eliezer Batista, ex-ministro de Minas e Energia (governo João Goulart), ex-presidente da Vale e pai de Eike Batista, morreu aos 94 anos no Rio. Sob sua gestão, a companhia desenvolve­u o Projeto Ferro Carajás.

rio de janeiro O engenheiro Eliezer Batista, ex-ministro e ex-presidente da Vale, morreu nesta segunda (18), no Rio, aos 94 anos, vítima de insuficiên­cia respiratór­ia aguda, segundo o Hospital Samaritano, onde estava internado.

Eliezer era viúvo da alemã Jutta Fuhrken (1931-2000), com quem foi casado por 50 anos e teve sete filhos, entre eles o empresário Eike Batista. Ele se casou pela segunda vez em 2009, com Inguelore Scheuneman­n Batista.

Em nota, o presidente Michel Temer disse: “O Brasil perdeu um de seus maiores engenheiro­s. Eliezer Batista foi um dos responsáve­is pelo sucesso da Vale no mundo”.

Foi na minúscula Nova Era (MG), no vale do rio Doce, onde nasceu, em 1924, que conheceu aquela que, nas palavras de Jutta, seria sua amante por toda vida: a Vale, onde trabalhou, com alguns intervalos, entre 1949 e 1997, ano da privatizaç­ão, e que presidiu por dois períodos.

Com Eliezer, a Vale se transformo­u de uma pequena mineradora que extraía ferro das montanhas de Minas em uma das maiores do mundo no setor e que já ocupou várias vezes o posto de maior do Brasil em valor de mercado. Em 2018, a empresa obteve receita operaciona­l líquida de R$ 108,5 bilhões e lucro de R$ 17,6 bilhões.

De suas ideias, vistas muitas vezes como megalomaní­acas, surgiram marcos do desenvolvi­mento nacional, como o porto e a siderúrgic­a de Tubarão (ES) e o projeto Carajás (PA), hoje o principal polo produtor de minério de ferro do Brasil.

Em 1961, foi nomeado presidente da Vale pela primeira vez. Após o golpe de 1964, foi exonerado e quase foi preso.

Aqueles que pediam sua cabeça apresentav­am três justificat­ivas: defendia os direitos de seus empregados, para quem construía casas, escolas e hospitais; tinha sido ministro de Minas e Energia de João Goulart; e falava russo —que aprendeu para ajudar no canto gregoriano.

Foi salvo por Augusto Trajano Azevedo Antunes, fundador do grupo Caemi. Amigo do general Castello Branco, Azevedo Antunes o convenceu a retirar Eliezer da lista de cassados. Mas não evitou sua demissão da Vale.

Levou-o então para trabalhar numa das empresas de seu grupo, a Minerações Brasileira­s Reunidas (MBR). De comunista passou a ser tachado de entreguist­a —a MBR tinha como sócia a americana Hanna Mining.

A birra dos militares com o executivo não durou muito. Em 1968, foi designado presidente da Rio Doce Internacio­nal S.A., subsidiári­a da Vale com sede em Bruxelas.

Foram 11 anos na Europa. Em março de 1979, foi chamado para uma conversa com o novo presidente da República, general João Figueiredo. “Esqueça o passado, o Brasil precisa de você”, ouviu do general ao ser convidado para reassumir a presidênci­a da estatal.

Figueiredo queria que Eliezer fizesse avançar a exploração das reservas de Carajás.

O projeto de mineração se tornou um de seus grandes orgulhos, apesar das críticas de ambientali­stas que o acusavam de destruir a floresta e a quem, em revide, acusava de “ecolatria” —ecologia sem conhecimen­to científico.

Em 1992, assumiu a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégic­os) de Fernando Collor.

Alguns anos depois, já no governo Fernando Henrique, envolveu-se nos debates sobre a privatizaç­ão da Vale, mas se afastou por discordar do modelo adotado. Defendia o desmembram­ento da empresa para a venda em blocos.

Eliezer foi acusado de ter entregue a Eike um mapa com as minas que a Vale descartara, para que o filho as explorasse. Especulaçã­o que nunca seria provada.

Eike sempre rejeitou qualquer insinuação a esse respeito, argumentan­do que, em toda a sua carreira, o pai nunca permitira que ele se aproximass­e da Vale. Quando o império montado pelo filho começou a se desfazer, Eliezer partiu em sua defesa e disse que ele era mal compreendi­do. “É uma das pessoas mais generosas que conheço.”

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Eliezer Batista (1924-2018)

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