Morre Eliezer Batista, criador do projeto Carajás
Duas vezes presidente da mineradora, engenheiro era pai do empresário Eike
O engenheiro Eliezer Batista, ex-ministro de Minas e Energia (governo João Goulart), ex-presidente da Vale e pai de Eike Batista, morreu aos 94 anos no Rio. Sob sua gestão, a companhia desenvolveu o Projeto Ferro Carajás.
rio de janeiro O engenheiro Eliezer Batista, ex-ministro e ex-presidente da Vale, morreu nesta segunda (18), no Rio, aos 94 anos, vítima de insuficiência respiratória aguda, segundo o Hospital Samaritano, onde estava internado.
Eliezer era viúvo da alemã Jutta Fuhrken (1931-2000), com quem foi casado por 50 anos e teve sete filhos, entre eles o empresário Eike Batista. Ele se casou pela segunda vez em 2009, com Inguelore Scheunemann Batista.
Em nota, o presidente Michel Temer disse: “O Brasil perdeu um de seus maiores engenheiros. Eliezer Batista foi um dos responsáveis pelo sucesso da Vale no mundo”.
Foi na minúscula Nova Era (MG), no vale do rio Doce, onde nasceu, em 1924, que conheceu aquela que, nas palavras de Jutta, seria sua amante por toda vida: a Vale, onde trabalhou, com alguns intervalos, entre 1949 e 1997, ano da privatização, e que presidiu por dois períodos.
Com Eliezer, a Vale se transformou de uma pequena mineradora que extraía ferro das montanhas de Minas em uma das maiores do mundo no setor e que já ocupou várias vezes o posto de maior do Brasil em valor de mercado. Em 2018, a empresa obteve receita operacional líquida de R$ 108,5 bilhões e lucro de R$ 17,6 bilhões.
De suas ideias, vistas muitas vezes como megalomaníacas, surgiram marcos do desenvolvimento nacional, como o porto e a siderúrgica de Tubarão (ES) e o projeto Carajás (PA), hoje o principal polo produtor de minério de ferro do Brasil.
Em 1961, foi nomeado presidente da Vale pela primeira vez. Após o golpe de 1964, foi exonerado e quase foi preso.
Aqueles que pediam sua cabeça apresentavam três justificativas: defendia os direitos de seus empregados, para quem construía casas, escolas e hospitais; tinha sido ministro de Minas e Energia de João Goulart; e falava russo —que aprendeu para ajudar no canto gregoriano.
Foi salvo por Augusto Trajano Azevedo Antunes, fundador do grupo Caemi. Amigo do general Castello Branco, Azevedo Antunes o convenceu a retirar Eliezer da lista de cassados. Mas não evitou sua demissão da Vale.
Levou-o então para trabalhar numa das empresas de seu grupo, a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR). De comunista passou a ser tachado de entreguista —a MBR tinha como sócia a americana Hanna Mining.
A birra dos militares com o executivo não durou muito. Em 1968, foi designado presidente da Rio Doce Internacional S.A., subsidiária da Vale com sede em Bruxelas.
Foram 11 anos na Europa. Em março de 1979, foi chamado para uma conversa com o novo presidente da República, general João Figueiredo. “Esqueça o passado, o Brasil precisa de você”, ouviu do general ao ser convidado para reassumir a presidência da estatal.
Figueiredo queria que Eliezer fizesse avançar a exploração das reservas de Carajás.
O projeto de mineração se tornou um de seus grandes orgulhos, apesar das críticas de ambientalistas que o acusavam de destruir a floresta e a quem, em revide, acusava de “ecolatria” —ecologia sem conhecimento científico.
Em 1992, assumiu a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) de Fernando Collor.
Alguns anos depois, já no governo Fernando Henrique, envolveu-se nos debates sobre a privatização da Vale, mas se afastou por discordar do modelo adotado. Defendia o desmembramento da empresa para a venda em blocos.
Eliezer foi acusado de ter entregue a Eike um mapa com as minas que a Vale descartara, para que o filho as explorasse. Especulação que nunca seria provada.
Eike sempre rejeitou qualquer insinuação a esse respeito, argumentando que, em toda a sua carreira, o pai nunca permitira que ele se aproximasse da Vale. Quando o império montado pelo filho começou a se desfazer, Eliezer partiu em sua defesa e disse que ele era mal compreendido. “É uma das pessoas mais generosas que conheço.”