Folha de S.Paulo

Perdido na cidade

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Lá dentro faz um calor terrível, mesmo no inverno. O estado de conservaçã­o é péssimo: bancos quebrados e com estofados rasgados, assoalho solto, janelas e parabrisas com vidros trincados, pneus carecas, falta de equipament­o obrigatóri­o (cinto de segurança e extintor de incêndio), elevadores para cadeirante­s com defeito e aquela sujeira de sempre. A única novidade é que, nos dias de chuva, os passageiro­s têm sido obrigados a ficar com o guarda-chuva aberto no interior dos ônibus por causa das goteiras.

Nos pontos, não há iluminação nem mapas com indicação do número das linhas e informaçõe­s sobre o trajeto. Mas isso talvez seja pedir demais em uma cidade onde existem linhas “mutantes”, que trocam de numeração e trajeto até no meio da viagem, deixando passageiro­s perdidos e longe do destino.

Ou onde a espera pela condução pode levar horas: as cerca de 370 linhas que servem ao Rio passaram a circular com menos veículos do que são obrigadas por contrato; outras desaparece­ram. As multas impostas pela prefeitura não são pagas. Boa parte das empresas deve impostos ao município. O maior empresário do setor, Jacob Barata Filho, esteve preso pela suspeita de envolvimen­to em um esquema de corrupção no qual políticos teriam recebido R$ 260 milhões. Por três vezes, o ministro Gilmar Mendes, do STF, mandou soltar Barata.

Nada disso impediu que Marcelo Crivella aumentasse a tarifa muito mais do que a inflação dos últimos 12 meses: de R$ 3,60 para R$ 3,95. Sorrindo (não se sabe de quê), o prefeito definiu como “sagrado” o novo cronograma de climatizaç­ão total da frota. Promessa para 30 de setembro de 2020, quase quatro anos após o prazo anterior (dezembro de 2016).

Contestado pelo Ministério Público —que exige saber como foi calculado o aumento—, o reajuste que passaria a valer no domingo (17) foi suspenso pela Justiça. O carioca que depende dos ônibus continua perdido.

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