Apreensão em celas de Dirceu, Geddel e Estêvão derruba cúpula prisional do DF
Ex-senador autorizaria até visitas fora do horário para companheiros como ex-ministro Dirceu
brasília A Polícia Civil do Distrito Federal fez buscas nas celas em que estão presos o exsenador Luiz Estêvão (MDBDF) e os ex-ministros Geddel Vieira Lima (MDB-BA) e José Dirceu (PT-SP), na Penitenciária da Papuda, em Brasília.
Durante a operação, na tarde de domingo (17), foram apreendidos chocolates, pendrives e uma tesoura, atribuídos a Estêvão, além de anotações que teriam sido feitas por Geddel e Dirceu.
Os policiais suspeitam de um suposto esquema de privilégios, envolvendo agentes públicos, aos três internos.
No início da noite desta segunda (18), a operação provocou o afastamento do diretor da Papuda, José Mundim Júnior, e do subsecretário do Sistema Penitenciário, Osmar Mendonça de Souza.
Os dois vão ficar fora de seus cargos ao menos até a conclusão de investigações sobre o envolvimento de agentes públicos na concessão de privilégios aos políticos presos.
Segundo o delegado Thiago Boeing, um dos responsáveis pelo caso, Estêvão atua como o “dono do presídio”.
Durante a ação, foi encontrada uma anotação no caderno de Dirceu, na qual ele registraria a necessidade de autorização do ex-senador para conseguir burlar horário de visitações na Papuda. “Pedir para Luiz Estêvão conseguir a visita de um menor fora do horário” era o teor do manuscrito, afirmou Boeing.
Dirceu, Geddel e Estêvão estão presos em alas do Centro de Detenção Provisória da Papuda, destinado aos chamados vulneráveis, como políticos e ex-policiais.
O ex-senador já é acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) por pagar reforma clandestina no local, em benefício próprio, implantando itens considerados de luxo, como porcelana nos banheiros. No ano passado, numa outra varredura, foram encontrados objetos a ele atribuídos, como uma máquina e cápsulas de café.
A operação, batizada de Bastilha, foi deflagrada durante do segundo tempo do jogo entre Brasil e Suíça, no domingo. Para evitar vazamentos a agentes do sistema penitenciário, foi cercada de sigilo.
Estêvão divide uma das maiores celas do local apenas com Dirceu, situação que é considerada atípica, pois no local caberiam ao menos mais cinco pessoas.
Com a chegada dos policiais, o ex-senador teria pedido para ir ao banheiro, mas a autorização foi negada. Na sequência, teria tentado se desfazer de cinco pendrives, que foram notados e apreendidos.
Na biblioteca da unidade, também foram recolhidas pilhas de documentos com informações pessoais e das empresas de Estêvão. “Mais parecia um escritório dele do que um local de uso comum dos outros presos”, afirmou Boeing.
Na cela de Geddel, ocupada por ele e mais de dez presos, foram encontradas anotações, que ainda serão analisadas.
A Operação Bastilha começou após denúncias de que internos da Papuda estariam fazendo ameaças a juízes e delegados.
A informação não se confirmou, mas foram apurados indícios de tratamento diferenciado aos políticos.
Boeing informou que as autoridades do Distrito Federal não apresentaram justificativa para Estêvão e Dirceu serem mantidos em cela mais vazia e espaçosa que a dos demais internos.
Estêvão está preso na Papuda desde 2016. Ele foi condenado a 31 anos de prisão por corrupção ativa, peculato, formação de quadrilha e uso de documento falso nas obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
O ex-ministro José Dirceu voltou a cumprir pena no local em maio, após o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) confirmar sua condenação a 30 anos e 9 meses de prisão por corrupção na Petrobras.
Os advogados de Estêvão, Marcelo Bessa, e de Dirceu, Roberto Podval, informaram que não se manifestariam. O criminalista Gamil Föppel, que defende Geddel, não respondeu aos contatos da Folha.