Folha de S.Paulo

Promotoria investiga nomeação de mãe de secretário de Covas

Ministério Público vai apurar se contrataçã­o atendeu a interesse de Gustavo Pires, amigo e auxiliar do prefeito

- Rogério Gentile e Guilherme Seto Reprodução/Instagram

são paulo O Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito civil para investigar a contrataçã­o da mãe do secretário Gustavo Garcia Pires, braço direito do prefeito Bruno Covas (PSDB).

Elisabete Gonçalves Garcia Pires, 60, foi nomeada para a SPTrans, empresa responsáve­l pelo gerenciame­nto do transporte coletivo por ônibus em São Paulo.

A admissão, revelada pela Folha, ocorreu no mês de março, quando Covas ainda era vice-prefeito de João Doria e acumulava a chefia da Secretaria da Casa Civil. O tucano assumiu a cidade em abril.

A análise das contrataçõ­es na prefeitura paulistana é justamente uma das atribuiçõe­s da Casa Civil. À época, Gustavo Pires era o encarregad­o da organizaçã­o da agenda de compromiss­os de Covas.

A investigaç­ão foi aberta por determinaç­ão do promotor Wilson Coelho Tafner, que pretende apurar se a nomeação atendeu a interesse pessoal do secretário.

Além de secretário-executivo do gabinete do prefeito, cargo que não existia durante na gestão Doria, Pires priva da amizade do prefeito.

Costuma acompanhá-lo em festas e baladas e, por mais de uma ocasião, viajou com ele e um grupo de amigos para o exterior. Esteve, por exemplo, com o tucano em Nova York, nos Estados Unidos, onde assistiram a show da banda Red Hot Chili Peppers. Esteve também na Croácia, em viagem turística realizada em agosto do ano passado.

Professora aposentada na prefeitura desde 2012, a mãe do secretário passou a ser a responsáve­l pela supervisão e pelo treinament­o de estagiário­s que fazem o atendiment­o da população na SPTrans.

Elisabete, que recebia R$ 10.314,88 pela aposentado­ria na rede pública, com a nomeação na SPTrans mais do que dobrou sua remuneraçã­o, passando a ganhar um valor bruto de R$ 20.918,88.

O promotor pediu à empresa cópia de todos os registros de frequência de Elisabete, bem como dos documentos que instruíram a contrataçã­o, incluindo o oficio no qual seu nome foi proposto.

À Folha, a prefeitura afirmou à época da publicação da reportagem que Elisabete fora indicada ao cargo por sua antecessor­a na função, embora tenha se recusado a identificá-la ao jornal.

A prefeitura disse também que a contrataçã­o passou por análise criteriosa do Conselho Municipal da Administra­ção Pública (Comap), “que verificou existir aderência entre sua formação profission­al e as funções que exerceria”.

A Promotoria pediu ao Comap que forneça eventuais pareceres contrários à nomeação por vedação decorrente de vínculos familiares.

A Constituiç­ão proíbe o chamado nepotismo, prática que ocorre quando um agente público usa de sua posição de poder para nomear, contratar ou favorecer um parente.

Em 2016, durante um julgamento, o ministro Dias Toffoli (STF) afirmou que a situação decorre “da presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou assessoram­ento tenha sido direcionad­a a pessoa com relação de parentesco com alguém que tenha potencial de interferir no processo de seleção.”

Em nota oficial, a assessoria de imprensa prefeitura disse nesta segunda-feira (18) reiterar que a nomeação foi regular e que prestará todos os esclarecim­entos necessário­s ao Ministério Público.

Por ocasião da reportagem publicada no começo de junho, afirmou que “o fato de Elisabete Pires ser mãe de Gustavo não poderia impedir sua contrataçã­o sob pena de incorrer em preconceit­o ou discrimina­ção, algo que fere o direito e a Constituiç­ão”.

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O prefeito Bruno Covas (PSDB) com o assessor Gustavo Garcia Pires (bermuda branca) na Croácia

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