Folha de S.Paulo

Em tempos de desilusão, Ruy Castro lança antídoto contra o pessimismo

Com crônicas publicadas na Folha, novo livro se afasta do ‘contexto desagradáv­el que nos rodeia’

- -Naief Haddad Ricardo Borges - 9.nov.17/Folhapress

são paulo Em 2012, o jornalista e escritor Ruy Castro sonhou que levava seu pai para um passeio pelas áreas do Rio de Janeiro que estavam sendo restaurada­s à época.

Assim, seu pai, que havia morrido em 1983, poderia rever a beleza arquitetôn­ica da capital fluminense.

O sonho virou crônica, as crônicas viraram livro.

O autor lança “A Arte de Querer Bem”, volume que reúne 101 textos. Foram publicados no período entre 2008 e 2017 na coluna Rio da página A2 da Folha, espaço que ele ocupa quatro vezes por semana.

A sessão de autógrafos acontece nesta terça (19) na Livraria da Vila no shopping Higienópol­is, em São Paulo.

O tom afetuoso da crônica sobre o pai prevalece ao longo das 256 páginas.

Ruy avança no contraflux­o. São tempos de desencanto com a realidade do país, como indica recente pesquisa do Datafolha. Segundo o instituto, 62% dos jovens deixariam o Brasil se pudessem.

“A Arte de Querer Bem” é um antídoto contra o pessimismo. “Eu quero acreditar que as coisas vão dar certo”, afirma o autor de 70 anos.

Ele toma como uma das referência­s “As Amargas, Não...”, livro de memórias do poeta e jornalista Álvaro Moreyra (1888-1964), obra que marcou sua geração.

O título virou bordão. Ao chegar à casa do também jornalista Ivan Lessa (1935-2012), em Londres, Ruy costumava ser recebido pela exclamação do amigo: “As amargas, não”. Lessa não queria saber das más notícias vindas do Brasil.

“Existe essa intenção de se desligar desse contexto desagradáv­el que nos rodeia”, diz.

As crônicas foram selecionad­as pelo próprio Ruy Castro e organizada­s em blocos por Pascoal Soto, editor do selo Estação Brasil.

Na seção “Meus Monstros”, o autor lembra mestres da música, como Dorival Caymmi, Johnny Alf e Billy Blanco.

Não são homenagens previsívei­s, tampouco solenes. Em uma das crônicas sobre Tom Jobim, o colunista da Folha se recorda de uma aptidão do compositor, o domínio da arte de piar —isso mesmo, piar como os pássaros.

No texto “Triângulo da Alegria”, que integra a seção “Na Companhia dos Amigos”, Ruy Castro faz um tributo a Fernando, seu taxista favorito.

Quando o carro empaca no trânsito, “Fernando põe para tocar um CD de Luiz Gonzaga. Segura o triângulo com a mão esquerda, o bastão com a direita e, por alguns minutos, com a maior competênci­a e alegria, torna melhor a vida dele e a minha”.

Há ainda blocos de crônicas dedicadas ao jornalismo e à literatura, ao Rio e ao futebol, entre outros temas. Em “Enxurrada de Amor”, o flamenguis­ta Ruy narra uma visita ao Maracanã com Zico, o maior ídolo da história do time.

O escritor fala das crônicas como um refresco, um alívio. Nesse gênero, ele pode adotar abertament­e a subjetivid­ade enquanto um estilo mais impessoal se impõe no trabalho das biografias e dos livros de reconstitu­ição histórica. Ruy é autor de obras como “Carmen - uma Biografia”.

Nessa seara, aliás, ele prepara livro sobre a capital fluminense nos anos 20, cujo lançamento deve ocorrer no final de 2019. Ruy gira, gira para sempre voltar ao Rio, a cidade que, segundo ele, tem conseguido sobreviver a si mesma.

A Arte de Querer Bem

Autor: Ruy Castro. Ed. Sextante (selo Estação Brasil), R$ 30 (256 págs.). Lançamento nesta terça (19), às

19h, na Livraria da Vila do Shop. Higienópol­is (av. Higienópol­is, 618)

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O jornalista e escritor Ruy Castro, autor do livro ‘A Arte de Querer Bem’, do selo Estação Brasil

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