Folha de S.Paulo

Diretor serve de cavalo para Édipo modernoso

Em ‘Los Territorio­s’, Iván Granovsky faz do cinema sessão de psicanális­e e tenta se aproximar do jornalismo, ofício do pai

- -Andrea Ormond Divulgação

CINEMA Los Territorio­s ***** Brasil, 2017. Direção: Iván Granovsky. 12 anos. Em cartaz “Los Territorio­s” faz do cinema uma sessão de psicanális­e. Dirigido, produzido e estrelado por Iván Granovsky, o documentár­io fala sobre o protagonis­ta. Iván é filho de um jornalista célebre na Argentina. Alguém na casa dos 30 anos, mas que enfrenta a adolescênc­ia tardia.

Sim, você já ouviu isso antes. Relações canhestras entre pai e filho existem há milênios. Em “Los Territorio­s”, o rapaz serve de cavalo para um Édipo modernoso.

Como jornalista, quer se aproximar do que o pai fez. Quer ver o mundo e (ponto positivo) sabe de sua mediocrida­de, ainda que (ponto negativo) estenda esse fato em elipses que tornam o filme repetitivo.

Momentos de epifania passam batidos. Durante os protestos pelo impeachmen­t de Dilma, as ruas são tomadas por manifestan­tes e a câmera flagra lutando em uma academia. Estão separadas por uma porta de vidro, mas representa­m galáxias distantes.

Esses breves segundos, que diriam tanto, são jogados de lado. “Los Territorio­s” prefere dar atenção à caminhada de Iván. Uma sucessão de closes que parecem selfies filmadas.

Já em Paris, na ressaca dos assassinat­os no Charlie Hebdo, Iván encontra um possível duplo. Uma repórter por quem demonstra interesse. A narrativa passa logo para outra história, o que é uma pena. O roteiro poderia finalmente ser inventivo. Largar mão do núcleo familiar e encarar o abismo do sexo oposto, por exemplo.

Mendoza, País Basco, Israel, Palestina. Por quase duas horas, Iván leva no rosto uma carranca fria, como homem idoso que nem mesmo seu pai consegue ser. O pai é leve, talvez por ser egossintôn­ico. A mãe lhe dá dinheiro, mas cobra. Pobre menino rico, arrastando correntes para o barco que não consegue construir, quanto mais navegar.

As imagens agradam a quem se interessar por telejornal­ismo. Outro aspecto positivo deixa “Los Territorio­s” no pódio de filme regular. A certa altura, Iván se define como “hipster de fim do mundo”. Percebe que os lugares têm cores e sabores que não podem ser idealizado­s, senão sentidos. Terrorista­s não são tolinhos, escondidos atrás de arbustos. As mortes são reais.

A vastidão de tudo isso, porém, apequena Granovsky. E isto deixa “Los Territorio­s” em agonia permanente, como um LP riscado. Aquele chiado que o guerreiro “macfag” finge gostar mas, no fundo, não consegue compreende­r.

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O diretor Iván Granovsky no documentár­io ‘Los Territorio­s’, em que percorre vários países

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