Tensão entre Facebook e empresas de mídia se agrava
Novo algoritmo, que pode classificar notícias indevidamente como conteúdo político, gerou críticas
As empresas de notícias têm um relacionamento complicado com o Facebook há muito tempo. Mas as tensões se tornaram mais claras nas últimas semanas, quando criticaram abertamente o gigante da tecnologia por novas regras que definiram como prejudiciais ao jornalismo.
A mais recente crítica veio na quinta-feira (14), quando Mark Thompson, presidente-executivo da The New York Times Co., acusou o Facebook de apoiar involuntariamente “os inimigos do jornalismo de qualidade”, ao usar algoritmos que podem classificar notícias indevidamente como conteúdo político partidário.
Thompson estava falando em uma mesa-redonda em Nova York da qual também participou Campbell Brown, vice-presidente de parcerias noticiosas mundiais do Facebook.
Brown defendeu a regra que o Facebook adotou em resposta a críticas sobre a manipulação de sua rede durante eleições.
Ele mencionou a importância de proteger as eleições e disse que os problemas relacionados a anúncios políticos eram “algo que nos preocupa profundamente”.
Ao criticar o Facebook, Thompson mostrou dois anúncios que o The New York Times adquiriu recentemente na plataforma e que foram classificados como conteúdo político.
Um deles promovia um artigo noticioso sobre a conferência de cúpula entre o presidente Donald Trump e o líder norte-coreano, Kim Jongun. Ao definir o artigo como conteúdo político, disse Thompson, o Facebook estava obscurecendo a distinção entre reportagens sobre política e política em si.
O outro anúncio promovia o NYT Cooking, o site de culinária do jornal, e mostrava uma imagem editada de um bolo de pistache e água de rosas. Não havia indicação sobre o motivo para que o algoritmo o caracterizasse como conteúdo político.
As tensões entre o Facebook e as empresas de notícias vêm crescendo desde pelo menos o mês de janeiro, quando a rede social mudou seu algoritmo, de maneira a destacar mais as postagens de amigos do usuário e reduzir a ênfase do conteúdo noticioso.
No mês passado, com o crescimento da pressão sobre o papel do Facebook na eleição americana de 2016, a empresa revelou que criaria um arquivo, aberto a buscas pelo público, sobre anúncios que seus algoritmos caracterizassem como políticos.
Além disso, Mark Zuckerberg, o presidente-executivo da empresa, anunciou que sua empresa começaria a classificar os provedores de conteúdo noticioso pelo critério de “confiabilidade”.
“Não quero que confiança seja um concurso de popularidade decidido pelos usuários do Facebook”, afirmou Lydia Polgreen, editora-chefe do HuffPost.
As empresas de notícias vêm protestando contra a inclusão de seus anúncios no mesmo arquivo reservado à propaganda política.
O Facebook concordou em criar uma distinção entre o conteúdo noticioso e anúncios políticos, mas ainda não criou um arquivo separado.
Decisões como essas inflamam as tensões com empresas de notícias, disse Jason Kint, presidente da Digital Content Next, entidade que representa organizações de notícias e entretenimento.
Ainda que o Facebook continue a ser um veículo importante, seu poder diminuiu. De acordo a Chartbeat, uma empresa de análise de dados, o tráfego que o Facebook encaminha às empresas de notícias caiu 15% nos últimos 12 meses. No caso do Google, o tráfego cresceu em 20%, de agosto para cá.