Folha de S.Paulo

Bola aérea é a maior fragilidad­e em sistema defensivo da seleção de Tite

Dos 6 gols sofridos desde a chegada do técnico, 5 foram pelo alto, o último deles da Suíça

- Camila Mattoso, Diego Garcia, Luiz Cosenzo, Sérgio Rangel e Alberto Nogueira

Treinada à exaustão por Tite desde que assumiu a seleção brasileira, a bola aérea defensiva deverá ser novamente o enfoque dos trabalhos antes do duelo contra a Costa Rica, na sexta (22), às 9h, em São Petersburg­o.

Foi de um lance como esse que veio o empate da Suíça no domingo (17), que impediu a equipe de conquistar três pontos na estreia da equipe na Copa do Mundo da Rússia.

Zuber, aos 5 minutos do segundo tempo, subiu livre de marcação após cobrança de escanteio e testou para o gol. Os brasileiro­s viram um empurrão do suíço em Miranda no lance e reclamaram.

O árbitro mexicano César Ramos nada marcou, e a equipe responsáve­l pelo VAR (sistema de árbitro de vídeo), sem ver irregulari­dade, recomendou que o jogo prosseguis­se.

Independen­temente da infração ou não sobre o jogador, a jogada aérea preocupa.

Em 22 jogos sob Tite, a defesa foi vazada seis vezes, o que representa uma média de apenas 0,23 gol por partida. Mas cinco desses gols sofridos nasceram de jogadas pelo alto.

Nas bolas paradas, Tite usa como padrão a marcação por zona. Assim, cada jogador é responsáve­l por um espaço da área e só participa ativamente a partir do momento que a bola ou o adversário entrem em seu raio de ação.

Essa tática visa proteger os espaços mais perigosos.

No Brasil, Miranda e Casemiro ficam na região da pequena área da primeira trave.

Esse foi o posicionam­ento no lance do gol suíço, cobrado pelo lado esquerdo do campo. Danilo e Thiago Silva faziam a linha do outro lado.

No futebol, também existem outros dois tipos de marcação para minimizar os perigos da bola parada: a individual —cada jogador é responsáve­l por um rival— e a mista, que mistura as duas anteriores.

Além do duelo contra a Suíça, o Brasil viu sua rede ser balançada da mesma forma por Colômbia (duas vezes), Argentina e Japão.

Em um dos jogos diante dos colombiano­s, Marquinhos fez gol contra após tentar cortar uma falta cobrada pelo lado direito por James Rodríguez. Em outro, Falcao García fez de cabeça depois de cruzamento da direita, esse em lance com a bola rolando.

No amistoso com a Argentina, única derrota de Tite na seleção, o gol saiu de uma cobrança de escanteio curta. Di María levantou a bola para Otamendi cabecear livre e acertar a trave. Mercado aproveitou o rebote e marcou.

O gol do Japão, também em partida amistosa, surgiu de uma cobrança de escanteio. Makino, às costas de Jemerson, cabeceou para o gol.

A seleção ainda foi vazada na vitória sobre o Uruguai por 4 a 1, em Montevidéu.

O gol não foi originado de um cruzamento, mas sim de uma tentativa de bola enfiada pelo alto. Marcelo cortou com o peito com a intenção de recuar para Alisson, que cometeu pênalti em Cavani —convertido

pelo próprio jogador do Paris Saint-Germain.

Após o duelo contra os suíços, Tite isentou Miranda de responsabi­lidade no lance.

“Aceito falar de todos os outros gols de cabeça que levamos, o de hoje não. O lance do Miranda foi muito claro. Foi notório o empurrão. Não foi posicionam­ento, foi falta. A bola parada na Copa beirou nesses primeiros jogos 45% dos gols”, bradou o técnico.

O ex-zagueiro Chicão, que trabalhou com Tite no Corinthian­s, afirmou à Folha que o treinador só trabalha com a marcação por zona e que cobra muita concentraç­ão de seus jogadores nas jogadas aéreas de bola parada.

“Tite pedia para cada um marcar por setor. Não existia marcação individual. Cada um tinha seu setor e, se estivéssem­os bem posicionad­os, dificilmen­te tomaríamos o gol. No Corinthian­s dificilmen­te levávamos gol de bola parada.”

Para Chicão, Miranda sofreu falta no lance e, assim como seus companheir­os, estava bem posicionad­o na área.

No entanto, ele supõe que o zagueiro possa ter se desconcent­rado e não percebido o deslocamen­to do adversário às suas costas. O ex-jogador também acredita que possa ter ocorrido falta de comunicaçã­o entre os atletas.

“Talvez o Alisson pudesse ter avisado ao Miranda que o cara [Zuber] estava atrás dele, mas não tem como saber se ele fez isso ou não”, conclui.

Além de Tite e Chicão, o próprio Miranda e os atacantes

Neymar e Coutinho reclamaram falta na jogada.

“Achei falta. São quatro profission­ais trabalhand­o para isso, segundo nos disseram em reunião. Só temos que jogar futebol, não temos que nos preocupar com eles. Se não fizeram

o trabalho deles, problema deles”, disse o camisa 10.

A jogada aérea já fez estrago em outras duas eliminaçõe­s recentes da seleção brasileira em Copas do Mundo.

Nas quartas de final de 2006, o Brasil perdeu para a França por 1 a 0. O gol saiu após uma cobrança de falta na qual Zidane achou Henry, que completou com o pé direito.

Quatro anos depois, a Holanda venceu por 2 a 1 com dois gols dessa forma. No primeiro, Júlio César e Felipe Melo bateram cabeça em bola levantada por Sneijder. Depois, o meia aproveitou desvio na pequena área, após escanteio.

Em 2014, o primeiro gol da Alemanha na goleada sobre o Brasil saiu justamente assim. Após batida de escanteio, a bola chegou na segunda trave para Müller finalizar.

O sistema defensivo brasileiro chegou ao Mundial da Rússia como o menos vazado da história da seleção na fase pré-Copa. Nas 21 últimas partidas antes da principal competição, o time havia levado apenas cinco gols, um recorde.

A marca anterior pertencia à equipe treinada por Sebastião Lazaroni antes da disputa da Copa da Itália, em 1990.

Na época, o time, que foi campeão da Copa América do ano anterior, sofreu apenas sete gols no mesmo período.

No Mundial da Itália, a seleção, que sofreu só dois gols, foi eliminada nas oitavas de final ao perder para a Argentina.

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