Folha de S.Paulo

Senegal foge à regra africana com técnico do próprio país

Até agora, 28 das 42 seleções de países africanos que disputaram a Copa tinham treinador estrangeir­o

- -Eduardo Geraque e Fábio Aleixo Kai Pfaffenbac­h/Reuters

Em um grupo que tende a ser equilibrad­o, Senegal começa nesta terça (19) sua campanha na Rússia. No banco, o ex-jogador Aliou Cissé, 42, como treinador, algo nada trivial em se tratando da história do futebol africano ao longo de Copas do Mundo.

Até hoje, antes da estreia senegalesa, foram 42 participaç­ões africanas em Mundiais. Só em 14 delas (33%) havia um técnico nascido no próprio país, e todos os estrangeir­os eram de outros continente­s.

Na Copa do Mundo da Rússia, o caso de Cissé não foge à regra. Das cinco seleções que representa­m a África, apenas uma outra optou por técnicos da casa. É a Tunísia, dirigida por Nabil Maâloul.

Egito, Marrocos e Nigéria, seleções que estrearam com derrota, são comandados por estrangeir­os. Respectiva­mente, Héctor Cúper (Argentina), Hervé Renard (França) e Gernot Roht (Alemanha).

“Temos treinadore­s de qualidade na África. Represento uma nova geração que quer ter seu espaço no futebol africano e no futebol mundial”, afirmou o senegalês.

Como jogador, Cissé foi capitão de Senegal na Copa de 2002. Ele nada tem a ver com o atacante francês Djibril Cissé.

No caso específico do senegalês, existe outro fator que o torna ainda mais único no Mundial, que é a cor da pele.

“É verdade. Sou o único técnico negro nesta Copa. Esse é um longo debate que não tem a ver com futebol. A cor de sua pele não deve ser relevante em um esporte universal, mas é importante sim ter um técnico negro”, afirmou.

Na visão de Cissé, o futebol africano também tem produzido técnicos de qualidade, além dos jogadores de destaque mundial.

“Fico muito feliz com o trabalho de Florent Ibengé no comando da República Democrátic­a do Congo [seleção que não obteve vaga para a Copa]. Temos uma nova geração que está trabalhand­o, estudando táticas.”

O ex-jogador teve na Copa de 2002 um europeu no comando —o francês Bruno Metsu, que já morreu e foi citado na entrevista coletiva como uma inspiração para seu trabalho e para o time.

Se aos poucos aumenta a quantidade de técnicos africanos que chegam aos Mundiais dirigindo seus países de origem, a evolução do futebol da África em termos de conquistas segue estagnada.

Fatos isolados ocorreram. Como a seleção de Camarões, em 1990, que não só ganhou da Argentina na abertura da Copa como chegou até as quartas. O país era treinado pelo russo Valeri Nepomniach­i.

A classifica­ção camaronesa seria igualada, depois, por Senegal, em 2002, e Gana, em 2010. Ambas tinham técnicos estrangeir­os no comando.

Cissé espera conseguir vaga no mata-mata, em um grupo que tem Polônia, a adversária desta terça, e ainda Colômbia e Japão. Mas, como ele mesmo admite, ganhar a Copa ainda não será desta vez.

“Tenho certeza de que um time africano vai vencer a Copa. Há 20, 25 anos, os países africanos vinham só fazer parte da Copa do Mundo. Não temos nenhum tipo de complexo, precisamos ter técnicos africanos para seguir adiante.”

Segundo ele, apesar de sempre ser muito mais complicado para os países da África, por causa do contexto socioeconô­mico, cada vez mais várias seleções africanas vão ter condições de ganhar de times como a Alemanha e o Brasil.

Até agora, na Rússia, nenhum time africano surpreende­u positivame­nte. O Egito perdeu para o Uruguai. Marrocos sofreu um gol no último minuto do Irã. E a Nigéria, equipe que tem conseguido chegar ao Mundial com frequência, caiu por 2 a 0 para a Croácia. Nesta segunda-feira (18), a Tunísia resistiu até os acréscimos, quando levou o segundo gol dos ingleses na derrota por 2 a 1.

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O treinador de Senegal, o ex-jogador Cissé, à dir., ao lado de assistente­s durante treino no estádio Spartak

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