Folha de S.Paulo

‘Felipão russo’ vira esperança para anfitriã

Com bigode, estilo durão e respostas atravessad­as ao estilo do brasileiro, técnico ganha confiança após golear sauditas

- RÚSSIA EGITO 15h, no estádio São Petersburg­o Na TV: Globo, SporTV, Fox Sports -Fábio Aleixo Marcelo Machado de Melo/Fotoarena/Folhapress

Bigode, estilo durão quase como de um sargento, respostas atravessad­as a jornalista­s, algumas piadas e sorrisos para tentar quebrar o clima de tensão e a responsabi­lidade de não fazer feio à frente da anfitriã do Mundial.

A descrição podia muito bem se aplicar a Luiz Felipe Scolari na Copa de 2014. Mas ela se refere a Stanislav Tchertches­ov, 54, técnico da Rússia.

“Eu nunca trabalhei com o Felipão, mas dá para ver que ele é bravo, assim como Tchertches­ov é. Mas é o jeito dele e procuramos entender. É um grande treinador e não está na seleção por acaso”, disse o lateral Mario Fernandes.

Ex-goleiro e integrante da seleção russa na Copa de 1994, Tchertches­ov entrou no Mundial em casa sob pressão, críticas e o temor de ser eliminado ainda na primeira fase.

E não à toa. O retrospect­o da Rússia sob seu comando é fraco. Até a Copa, em 20 jogos oficiais, haviam sido nove derrotas, seis empates e apenas cinco vitórias.

Ele assumiu o comando do time nacional após a Eurocopa de 2016 em substituiç­ão a Leonid Slutski e não conseguiu dar uma identidade à seleção. Tanto que, para a Copa, mudou o esquema de cinco defensores para quatro.

“Ninguém entende muito bem seu discurso, suas escolhas e o tom que adota para falar”, analisou o jornalista Mikhail Goncharov, do jornal Sport Express.

“Entre os jornalista­s, ele não é querido. Ele não consegue explicar nada. Parece que sabe tudo e não precisa dar satisfaçõe­s, que a seleção é só dele”, analisou Grigori Telingater, do site Championat.

No primeiro jogo, conseguiu acalmar um pouco os ânimos com a goleada por 5 a 0 sobre a Arábia Saudita.

Nesta terça (19), uma vitória contra o Egito deixará os anfitriões muito perto das oitavas. Precisarão apenas que os sauditas não vençam o Uruguai na quarta (20).

A seleção africana terá em campo Mohamed Salah, que, em recuperaçã­o de uma lesão no ombro sofrida na final da Liga dos Campeões, não atuou na derrota por 1 a 0 para o Uruguai na estreia.

Avançar da fase de grupos seria um feito e tanto para a Rússia, que desde a dissolução da União Soviética —em 1991— disputou três Mundiais e jamais avançou a um matamata. No Brasil, não venceu nem sequer um jogo.

A confiança do país aumentou após a estreia. Levantamen­to divulgado nesta segunda-feira (18) pelo Centro de Pesquisas de Opinião Pública da Rússia mostra que 64% dos entrevista­dos pretendem assistir aos jogos da seleção local na Copa. Antes do início, eram apenas 52%.

Ao mesmo tempo em que é questionad­o pelos jornalista­s por suas escolhas e até se envolveu em polêmica antes do Mundial ao deixar fora da lista o experiente volante do Spartak Moscou Denis Glushakov —que era tido como um dos líderes da seleção—, Tchertches­ov ganhou uma campanha nacional de apoio.

O apresentad­or Ivan Urgant, um dos mais famosos da TV russa, lançou o slogan “Bigodes da Esperança”. Claro, em referência à marca carateríst­ica de Tchertches­ov.

E a moda pegou. Em duas semanas, já são 20 mil postagens no Instagram de pessoas de todas as idades com bigodes, verdadeiro­s ou falsos.

“O ânimo dentro da seleção está muito bom. Todos estão se sentindo confortáve­is. Tivemos uma grande vitória na estreia, são três pontos importante­s, mas isso já é parte do passado”, disse Tchertches­ov, que era todo sorrisos na entrevista coletiva antes da partida desta terça.

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O técnico Tchertches­ov

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