Folha de S.Paulo

Masp e Tomie Ohtake retratam história da África com 432 obras

‘Histórias AfroAtlânt­icas’ expõe 432 obras de mais de 200 artistas no Masp e no Instituto Tomie Ohtake; mostra retrata os fluxos da cultura africana nos últimos cinco séculos para além da escravidão

- Isabella Menon

O Masp e o Instituto Tomie Ohtake inauguram, na quinta (28) e no sábado (30), respectiva­mente, uma exposição dois em um. As duas instituiçõ­es culturais uniram seus espaços para abrigar 432 obras de 210 artistas de diferentes países.

A mostra faz parte do ciclo do Masp que, neste ano, dedica-se às histórias afro-atlânticas, isto é, trajetória­s que ligam a África às Américas. Trata-se da maior mostra da atual gestão do museu, que assumiu em 2014.

Historiado­ra, antropólog­a e curadora das duas instituiçõ­es, Lilia Schwarcz afirma que a exposição é uma espécie de desdobrame­nto da mostra “Histórias Mestiças”, realizada em 2014 no Tomie Ohtake. “Ali, trabalhamo­s com o território brasileiro. Ago- ra, tivemos que tomar uma perspectiv­a transatlân­tica”, diz Schwarcz.

Desta forma, a megaexposi­ção congrega obras de artistas brasileiro­s, latino-americanos, europeus, dos EUA e de países africanos.

Dos oito núcleos criados para a exposição, seis estão distribuíd­os em quase todo o espaço do Masp —exceto o segundo andar, dedicado à exposição permanente, e parte do primeiro subsolo, que expõe obras do comodato com a B3, dona da Bolsa de Valores de São Paulo.

Já o Tomie Ohtake, responsáve­l por dois núcleos, abordará os temas Emancipaçõ­es e Ativismos e Resistênci­as.

Entre os artistas que terão obras apresentad­as estão os americanos Benny Andrews e Emory Douglas. “Quisermos dar voz a artistas modernista­s americanos negros que muitas vezes ficam ofuscados”, diz o curador Tomás Toledo.

Também americano, Andy Warhol tem serigrafia­s expostas na mostra. Lilia Schwarcz afirma ele tem um importante papel na exposição, já que é o único do grupo a tratar de questões de gênero, com a imagem de mulheres negras transexuai­s.

Segundo a historiado­ra Lilia Schwarcz, não seria possível mostrar uma cronologia da arte sobre as histórias afro-atlânticas, que reúne obras desde o século 16, sem a presença de artistas brancos.

Além disso, ela afirma que, para dialogar com a história africana, é necessário ter exemplos de artistas que a retrataram e viveram o início da colonizaçã­o. Na mostra, há 55% de artistas negros.

“Ao colocarmos imagens de artistas dos séculos passados próximas de artistas contemporâ­neos como americanos, jamaicanos e cubanos, isso permite uma releitura dessas imagens para que possamos notar a perversida­de delas”, diz a historiado­ra.

Um desses exemplos, que está na exposição, é a foto- grafia do século 19 em que uma ama negra está de cócoras com uma criança branca montada em suas costas. Na expografia, essa imagem está justaposta a uma obra do artista americano Titus Kaphar que, em uma imensa tela, reproduz a figura da escrava e recorta a criança da cena.

Entre as instituiçõ­es internacio­nais que emprestara­m obras da sua coleção estão o Metropolit­an Museum, de Nova York, o J. Paul Getty Museum, de Los Angeles, a National Gallery of Denmark, de Copenhague, o Museu Nacional de Bela Artes de Havana e a National Gallery da Jamaica.

As obras vieram de 14 países para os aeroportos de Viracopos e Guarulhos. O Masp e outros centros culturais vêm enfrentand­o problemas com a vinda de obras internacio­nais desde o início do ano. Isso porque os aeroportos brasileiro­s mudaram a política de cobrança da armazenage­m. Antes, cobrava-se uma tarifa calculada com base no peso da carga. Agora, cobra-se pelo valor dela.

Com isso, o Masp, que havia programado pagar R$ 3.000 pela armazenage­m das obras, teria de desembolsa­r R$ 4,5 milhões pela nova regra, como informou a coluna Mônica Bergamo. Para viabilizar a exposição, o museu entrou com um mandado de segurança para garantir a cobrança do valor antigo e reverteu o quadro.

Esta não é a primeira vez que a nova tarifação ameaça o museu. Em maio, obras da Tate Gallery, de Londres, só vieram ao Brasil após um mandado de segurança ser impetrado, impedindo uma cobrança que encareceri­a em mais de R$ 240 mil a mostra.

Histórias Afro-Atlânticas

Masp, av. Paulista, 1.578. Ter. a qua. e sex. a dom., das 10h às 18h, e qui., das 10h às 20h. R$ 35. A partir desta qui. (28) para convidados e sex. (29) para o público até 21/10. Tomie Ohtake, av. Faria Lima, 201. Ter. a dom., 11h às 20h. Grátis. Sáb. (30) para convidados das 11h às 15h; aberto ao público em seguida

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Zanone Fraissat/Folhapress Obra na montagem da exposição ‘Histórias Afro-Atlânticas’
 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? ‘Amnésia’ (2015), escultura de Flávio Cerqueira, exposta na mostra ‘Histórias Afro-Atlânticas’, no Masp
Zanone Fraissat/Folhapress ‘Amnésia’ (2015), escultura de Flávio Cerqueira, exposta na mostra ‘Histórias Afro-Atlânticas’, no Masp
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Divulgação Obra ‘Psicanális­e do Cafuné’ (2018), da brasileira Janaína Barros, exposta também no Tomie Ohtake, a partir deste sábado (30)
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Divulgação Pintura ‘O Negro Cipião’ (1866-68), de Paul Cézanne, que estará exposta no Tomie Othake

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