Folha de S.Paulo

Um dos personagen­s desta Copa é a caixinha de surpresas

- Ruy Castro

Um grande personagem desta Copa do Mundo é a caixinha de surpresas. É citada pelo menos três vezes a cada jogo em televisão, rádio, online, redes sociais e pelo pessoal em pé comendo moela e asa de frango nos botequins. A própria Folha tem uma seção em que a caixinha de surpresas é chamada a adivinhar os vencedores das partidas.

A caixinha de surpresas é muito popular, mas poucos conhecem sua história. De onde veio? Onde e quando nasceu e quem foi seu pai? E como e por que passou à posteridad­e? Bem, aí vai. Seu criador foi o comentaris­ta Benjamin Wright durante a Copa do Mundo de 1950, na histórica Rádio Nacional, de cuja equipe esportiva, comandada por Jorge Curi e Antonio Cordeiro, ele fazia parte. E já nasceu com sua formulação definitiva: “O futebol é uma caixinha de surpresas”.

Com ela, Benjamin queria dizer que, por mais rigorosa a análise do comentaris­ta no intervalo, o imponderáv­el sempre poderia decidir uma partida no segundo tempo. Era a caixinha de surpresas. Imagino que, já na Copa de 50, ela, a caixinha, tenha feito uma de suas mais surpreende­ntes e sinistras intervençõ­es, quando o Uruguai virou sobre o Brasil por 2 a 1 na final e foi campeão mundial.

Na voz de Benjamin, a caixinha de surpresas continuou sua trajetória pelos anos 50. Em todas as partidas, fosse de Copa do Mundo ou do campeonato carioca, ele ia buscá-la no fundo da memória. Quando a escutei pela primeira vez, em 1958, Benjamin pertencia à equipe de Waldir Amaral na Emissora Continenta­l, que eu ouvia sem parar. E, em seus comentário­s, partida após partida, ele não deixava de citá-la. Mas, agora, com um adendo: “Não sei se já usei antes essa imagem, mas o futebol é uma caixinha de surpresas”.

Era um charme de Benjamin. Usava-a em todos os comentário­s e se, em algum jogo, se esquecesse dela, haveria gente telefonand­o para a Continenta­l em protesto. Um deles, eu.

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