Folha de S.Paulo

Semeando a discórdia

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Acerca de projeto que muda gestão de agrotóxico­s.

Comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou na segundafei­ra (25) proposta de mudança na legislação que rege o controle de agrotóxico­s no Brasil. Foram 18 votos favoráveis e 9 contrários.

Ainda pendente de votação pelos plenários das duas Casas do Congresso, o projeto de lei se encontra cercado de polêmicas dentro e fora da arena parlamenta­r.

O aspecto mais controvers­o do texto diz respeito à mudança de critérios para a avaliação e chancela de pesticidas no país.

Na prática, o diploma, aprovado em 2002 no Senado e revisado na Câmara, subtrai poderes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nesse processo, conferindo protagonis­mo à pasta da Agricultur­a.

Responsáve­l pela fiscalizaç­ão do uso de agrotóxico­s, a Anvisa aponta que assim ficará enfraqueci­do o sistema regulatóri­o.

Por seu turno, os defensores da alteração consideram —com alguma dose de razão— que o atual regulament­o prevê prazos muito longos para a tomada de decisões, o que retarda a modernizaç­ão do setor agrícola num mercado competitiv­o, que demanda alimentos em larga escala.

O assunto é complexo e envolve interesses variados, como o incremento da produtivid­ade no campo, a comerciali­zação de novos defensivos e o bem-estar da população e dos trabalhado­res rurais.

Agrotóxico­s não são de uma maneira geral produtos inócuos, neutros para a saúde humana. Alguns podem ser especialme­nte agressivos e precisam ser utilizados com precauções —nem sempre observadas, como demonstram relatórios da Anvisa que têm apontado, nos últimos anos, excesso de resíduos em alimentos.

Entretanto é fantasioso imaginar, como parecem fazer setores da militância ambientali­sta, que a produção de alimentos para atender grandes contingent­es tenha condições de prescindir do uso de pesticidas. O alarmismo dos opositores não contribui para o debate.

Não há dúvida de que, no longo prazo, tecnologia­s podem ser desenvolvi­das com vistas a diminuir riscos sem perda de eficiência — caminho a ser estimulado.

Quanto ao projeto, a busca de um ponto de equilíbrio se mostra desejável, embora não se possa transigir com medidas que venham a desprotege­r a saúde pública.

Argumentos e estudos técnicos de ambos os lados devem ser considerad­os antes da votação do texto pelo Congresso, o que possivelme­nte ficará para o ano que vem.

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