Folha de S.Paulo

Ex-secretário de Alckmin preso nega desvios

Laurence Casagrande Lourenço diz à Polícia Federal que pagou aditivos do Rodoanel para evitar paralisaçõ­es na obra

- Flávio Ferreira e Thais Bilenky

Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário estadual de Transporte­s do hoje presidenci­ável Geraldo Alckmin (PSDB), disse que sua gestão na Dersa assinou aditivos com a construtor­a OAS para evitar paralisaçõ­es nas obras do Rodoanel e chegou a fixar descontos contra a empresa após laudo técnico.

Lourenço afirmou que o ex-gerente do projeto que se recusou a firmar os adendos contratuai­s sob suspeita foi substituíd­o a pedido do ex-diretor de Engenharia da Dersa Pedro da Silva, um dos principais investigad­os presos no dia 21 na Operação Pedra no Caminho.

As investigaç­ões conduzidas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal em São Paulo têm como foco desvios e fraudes na construção do trecho norte do Rodoanel.

Segundo as autoridade­s, Lourenço teve envolvimen­to nos crimes contra os cofres públicos.

O ex-presidente da estatal paulista de transporte­s falou por cerca de cinco horas à PF após ser detido e fez um histórico das controvérs­ias de natureza técnica dos contratos dos lotes 2 e 3 do projeto assinados em 2012 com a OAS.

O depoimento de Lourenço foi anexado aos autos do processo pela defesa dele.

Ele relatou que, em 2015, a OAS passou a reclamar da assinatura de aditivos alegando que, durante a execução dos serviços, surgiram blocos de rochas (matacões, no jargão técnico) em proporções superiores àquelas previstas no projeto básico da obra.

De acordo com ele, os contratos do Rodoanel contaram com recursos do BID (Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento) e por isso seguiram regras que permitiam o estabeleci­mento de preços provisório­s no decorrer das obras, em caso de discordânc­ias entre as partes.

Esse mecanismo foi então empregado para evitar a paralisaçã­o das obras e levaram ao surgimento dos adendos contratuai­s, segundo o ex-presidente da Dersa.

Em seguida, a estatal encomendou um estudo técnico ao IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológic­as), órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvi­mento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do estado.

A conclusão da análise do IPT foi que a ocorrência de blocos de rochas em grandes quantidade­s no local do projeto deveria ser considerad­a “um risco de obra do contratado”, e a Dersa passou a entender os aditivos como indevidos, afirmou Lourenço.

A partir dessa interpreta­ção, a estatal chegou a comunicar à OAS que iria descontar os valores dos adendos contratuai­s em pagamentos futuros de execução de serviços.

Porém, a empreiteir­a invocou uma cláusula contratual que permitia a instauraçã­o de uma comissão de técnicos, denominada Junta de Conflitos, para resolver a divergênci­a.

O colegiado formado pelos especialis­tas Lineu Azuaga Ayres da Silva (indicado pela Dersa), Eduardo Rottmman (apontado pela OAS) e Enio Gazolla da Costa (escolhido em comum acordo entre as partes) decidiu que a empreiteir­a tinha razão em seus pleitos, em trabalho concluído em fevereiro deste ano.

Após detalhar as circunstân­cias que envolveram os aditivos, Lourenço negou qualquer irregulari­dade em sua atuação na Dersa, que foi de 2011 a 2018.

Apesar do testemunho, nesta segunda (25) a Justiça Federal prorrogou a prisão provisória do ex-presidente da estatal e seis investigad­os por cinco dias.

Ao ser indagado sobre as apurações relativas ao Rodoanel no dia da deflagraçã­o da operação, Alckmin disse que o superfatur­amento no projeto apontado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) tinha como origem uma “diferença de interpreta­ção nas regras do BID e do próprio TCU”.

Porém, à medida que os documentos das investigaç­ões começaram a ser divulgados, ficou claro que o tema dos superfatur­amentos apontados pela corte de contas é secundário em relação ao da assinatura dos aditivos da obra.

Quadros que permanecer­am no governo estadual depois da saída do tucano dizem que, se desrespeit­ar a Junta de Conflitos, o governo pode perder financiame­ntos internacio­nais.

Afirmaram que Pedro da Silva, também preso, é ligado a Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, suspeito de operar recursos ilícitos do PSDB. Vieira tem negado as acusações.

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Pedro Ladeira/Folhapress SEM SEUS PRINCIPAIS CACIQUES, PSDB CELEBRA ANIVERSÁRI­O DE 30 ANOS DE FUNDAÇÃO Em um evento tímido em hotel de Brasília, o principal nome foi Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidênci­a. FHC, presidente de honra do partido, e os senadores Tasso...

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