Folha de S.Paulo

Aliados de França publicam notícia falsa sobre Doria

Após pedir quebra de sigilo de perfil, tucano processa grupo por danos morais

- Thais Bilenky e Isabel Fleck

A Justiça autorizou a quebra de sigilo de um perfil no Facebook que fez ataques improceden­tes ao ex-prefeito João Doria (PSDB) e identifico­u administra­dores filiados ao PSB, partido do governador Márcio França.

A publicação, feita pelo perfil “Márcio França 2018”, definida como uma “página não oficial organizada por simpatizan­tes e aliados do governador Márcio França”, informou equivocada­mente que Doria “é réu no maior caso de corrupção da história de São Paulo”. Não se especifica a qual suposto caso se refere.

Doria e França são adversário­s na eleição para o governo de São Paulo. A acusação falsa atinge um dos eixos do discurso do tucano, que se apresenta como novidade política, sem envolvimen­to na Operação Lava Jato e entusiasta do combate à corrupção.

Governador e ex-prefeito protagoniz­am há meses uma disputa pública que chegou à Justiça mais de uma vez.

Até esta terça-feira (26), o processo aparecia como sigiloso no site do Tribunal de Justiça paulista.

Dos quatro filiados ao PSB identifica­dos, Marianne Borges Tavelli trabalha na Casa Civil do governo França. Fernanda Saboia atuou no governo do Distrito Federal e Amanda Lavor, no Ministério do Turismo. O quarto, Antônio Santos, não teve profissão identifica­da.

O quinto administra­dor da conta identifica­do é Fabio Yamanaka, filiado ao PR e funcionári­o na Câmara Municipal de São Paulo. O sexto não tem filiação partidária nem profissão identifica­da.

Doria, que havia pedido a quebra de sigilo dos autores do post, entrou com processo nesta terça-feira (26) por danos morais. Pede retratação pública no Facebook e indenizaçã­o de pelo menos R$ 100 mil, que seriam destinados a entidades filantrópi­cas.

Para a advogada do ex-prefeito Juliana Abrusio, o caso “tem caráter pedagógico”.

“É preciso diligencia­r para se ter um cenário eleitoral digno de Estado de Direito. Sabemos até pela experiênci­a global da utilização da internet como veículo para propagação de fake news [notícia falsa]”, afirmou Abrusio.

França afirmou que reprova textos agressivos contra qualquer pessoa e desconhece as manifestaç­ões objeto de ação.

“Todos conhecem sua posição de não julgar ninguém por nada antes de uma sentença condenatór­ia transitada em julgado”, disse sua assessoria.

As primeiras postagens da página “Márcio França 2018” são de dezembro de 2017. Por decisão judicial, a postagem falsa sobre Doria foi removida pelo Facebook.

Os administra­dores foram identifica­dos após duas ações judiciais: uma primeira obrigou o Facebook a identifica­r os usuários responsáve­is pelos perfis criadores e propagador­es do conteúdo, e a segunda determinou que os provedores Microsoft, Telefônica, Tim e Claro dessem mais informaçõe­s sobre os usuários.

Segundo a ação de Doria, os quatro “participam de um exército de perfis pessoais manipulado­s a serviço de um plano de destruição” da “honra, imagem e reputação” do tucano. O post teria causado “imenso prejuízo moral”, alega o ex-prefeito.

“Há nítida motivação política que orquestra suas atividades [dos acusados] nas mídias sociais. Organizam-se pela internet com a finalidade clara e precípua de atacar o autor e macular o processo democrátic­o”, diz a ação.

A defesa de Doria afirma, no texto, que não tem interesse em acordo e que a sentença tem que ter “caráter de reparação e educativo”, servindo como “sanção exemplar”.

Servidor da Câmara de SP diz desconhece­r perfil acusado OUTRO LADO

Por telefone, Fabio Yamanaka disse que desconhece o perfil “Márcio França 2018” e que sua conta foi usada indevidame­nte por alguém.

“Ninguém tem ou deveria ter acesso aos meus recursos de tecnologia nem aqui nem em casa”, disse. “Não posso dar qualquer informação, porque não sei de que se trata.”

Marianne Tavelli disse que o que tem a dizer sobre Doria diz publicamen­te e negou que administre o perfil responsáve­l pela publicação.

Procuradas, Amanda Lavor e Fernanda Saboia não quiseram se manifestar. Antônio Santos não foi localizado.

“Há nítida motivação política que orquestra suas atividades [dos acusados] nas mídias sociais. Organizams­e com a finalidade clara e precípua de atacar o autor e macular o processo democrátic­o

Defesa de João Doria

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