Folha de S.Paulo

Disputa não muda tática do México com Trump, afirma embaixador

- Diego Zerbato

O México vai às urnas no próximo domingo (1º) para escolher seu novo presidente, em disputa na qual o esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador é favorito.

Se confirmada a previsão das pesquisas, sua eleição marcaria uma ruptura na sequência de 30 anos de governos liberais na economia, no momento em que o país enfrenta o protecioni­smo do principal parceiro comercial, os Estados Unidos.

Porém, seu embaixador no Brasil, Salvador Arriola, considera que o México tem uma estratégia única de negociação que minimizará o efeito das personalid­ades de López Obrador e de Donald Trump.

“Houve uma comunhão de esforços e de transmissã­o de mensagens aos EUA, por parte inclusive de López Obrador. Acho que há uma unidade claríssima que o próximo presidente vai ter que levar em consideraç­ão e que vai permitir ter tranquilid­ade para uma negociação com esse personagem [Trump]”, diz à Folha.

Apesar das ameaças vindas da Casa Branca, Arriola se mostra otimista em relação às negociaçõe­s do Nafta (Tratado de Livre-Comércio da América do Norte), cuja próxima reunião acontecerá um dia depois da eleição. “Fala-se que, durante o verão [no hemisfério Norte], elas poderiam se acelerar.”

O diplomata é mais cuidadoso em relação à imigração, outro tema espinhoso com os americanos. Além dos brados de Trump pelo pagamento do muro na fronteira, o México é o maior afetado pela política de tolerância zero a ilegais.

Com o endurecime­nto das regras ao norte, caberá ao país receber mais centro-americanos fugidos da violência armada das gangues. O embaixador diz que o México negocia um pacto sobre imigração no âmbito da ONU, mas defende o diálogo com Washington.

“Não devemos passar a decisões Salvador Arriola embaixador do México no Brasil unilaterai­s, consideran­do que os mexicanos contribuím­os muito para o cresciment­o econômico dos EUA e temos uma parceria inamovível. Precisamos receber um tratamento diferente, deixando de lado os ódios, as pressões e as soluções unilaterai­s.”

Enquanto o cenário dos próximos meses é de tensão com o vizinho do norte, Arriola vê aproximaçã­o maior com o Brasil, mesmo com as trocas de governo nos dois países. Um dos motivos são as reuniões sobre o acordo automobilí­stico, cujos termos estão sendo renegociad­os.

Para ele, as eleições não atrapalhar­am as tratativas. “Não, é exclusivam­ente uma decisão técnica e política. Não podemos estancar por processos legislativ­os ou eleitorais uma relação que precisa ir além.”

Outro tema que, segundo o embaixador, avança é a relação do Mercosul com a Aliança do Pacífico, composta por Chile, Colômbia, México e Peru. Mas ele avalia que deveria haver cooperação em outros temas, atrapalhad­a pela falta de interesse de lado a lado.

Um deles é a segurança, que o diplomata considera o principal problema dos dois países. “Se não avançarmos nele, não vamos avançar no comércio, nos investimen­tos, na redução da desigualda­de, que é o principal objetivo de todos.”

“Acho que há uma unidade claríssima que o próximo presidente vai ter que levar em consideraç­ão e que vai permitir ter tranquilid­ade para uma negociação com esse personagem [Donald Trump]

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