Folha de S.Paulo

Após reunião com MBL, Covas recontrata supervisor demitido

Afastament­o de coordenado­r do movimento foi revertido em apenas 2 dias

- Guilherme Seto

A gestão Bruno Covas (PSDB) demitiu e recontrato­u dois dias depois um funcionári­o da Prefeitura Regional de Pinheiros ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), grupo de direita que conta com diversos representa­ntes da nova geração da política nacional, como Kim Kataguiri e Fernando Holiday, vereador em São Paulo pelo DEM.

O beneficiad­o por tratativas entre a prefeitura e o movimento foi Cauê Del Valle, 24, coordenado­r nacional do MBL e supervisor técnico da prefeitura regional. Em julho de 2017, ele ganhou notoriedad­e ao participar de ato para apagar uma pichação de manifestan­tes na casa do então prefeito João Doria (PSDB).

O muro do tucano foi pichado no dia 15 daquele mês por manifestan­tes que protestava­m contra a privatizaç­ão de bens públicos. Eles escreveram na residência a frase “SP não está à venda”.

Semanas após participar do ato, Del Valle foi nomeado, como revelado pela Folha.

A exoneração de Del Valle do cargo de supervisor técnico foi publicada no Diário Oficial do município em 19 de junho deste ano.

No dia seguinte, o prefeito Bruno Covas reuniu-se com Holiday, o coordenado­r nacional do MBL, Renan dos Santos, e o advogado do MBL e chefe de gabinete da Secretaria da Casa Civil, Rubens Gatti. No dia 21, a exoneração de Del Valle foi cancelada também por meio de publicação no Diário Oficial.

A reunião teve como objetivo colocar panos quentes na relação entre Holiday e Covas, que vinham se desentende­ndo nas redes sociais. O vereador chamou o prefeito de “covarde” após veto a seu projeto de lei que propõe a catalogaçã­o de imóveis da cidade.

Além disso, o movimento fez pressão para ter mais influência na gestão municipal, como reconhecid­o por Holiday, que afirma não ter tratado de cargos na reunião.

“Fizemos uma reunião justamente para tentar resolver essas pendências de comunicaçã­o. Mas principalm­ente tratamos do meu projeto que foi vetado quando achei que ele seria sancionado. Estabelece­mos um canal de comunicaçã­o para que os projetos sejam discutidos desde o começo e tentar fazer com que o projeto vetado venha de iniciativa do Executivo”, afirma o vereador Holiday.

“Pelo que entendi a exoneração e a recontrata­ção do Cauê foram um equívoco da Secretaria da Casa Civil. Sobre cargos, em nenhum momento tratamos. Houve uma conversa sobre influência na gestão no sentido de participar mais ativamente de projetos do Executivo. Falamos em ter mais influência e participaç­ão, mas não com cargos. Obviamente que não vamos impedir ninguém de ser contratado por pertencer ao movimento”, completa.

O MBL faz críticas ao loteamento político de cargos públicos. Em 2017, à Folha, Del Valle disse não ver contradiçã­o entre sua nomeação e o discurso do movimento.

“[A nomeação] reitera e fortifica nossos ideais dentro do poder público e abre ainda mais campo para o que defendemos: uma máquina pública enxuta, austera e eficiente.”

O supervisor técnico recebe vencimento­s de R$ 3.385 por seu cargo na prefeitura.

A desistênci­a da demissão, a participaç­ão crescente de seus membros no Executivo e a atenção dada pelo prefeito indicam a força do MBL na atual gestão municipal.

Em nota, a prefeitura afirma que a exoneração foi publicada em 19 de junho por um equívoco da Prefeitura Regional de Pinheiros.

“Na mesma data, a regional pediu reconsider­ação à Secretaria da Casa Civil. A reconsider­ação foi aceita pela secretaria antes da reunião citada pela reportagem”, afirma.

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