Folha de S.Paulo

Ainda pouco conhecida, culinária coreana vale a aventura

- -Paulo Shin Proprietár­io do restaurant­e Komah

Há algum tempo, quando eu ia a um restaurant­e coreano sempre sentia uma sensação de exclusivid­ade. Tocava a campainha do endereço sem placa sabendo que ali estava a melhor especialid­ade do bairro. O salão só tinha fregueses coreanos e o cardápio tinha limitações de idioma até mesmo para mim, que sou descendent­e.

Antes do pedido chegar, a mesa já estava cheia de banchan: potinhos com itens como bardana, raiz de lótus, manjubinha, broto de feijão e diversas preparaçõe­s fermentada­s, que são uma mistura de couvert, aperitivo e acompanham­ento. É neste momento que se dá o tom da refeição: os coreanos analisam um restaurant­e pela qualidade dos banchans.

Saber o que é preciso enfrentar para jantar em restaurant­e coreano me deixava ansioso. Confesso que às vezes desistia só de pensar. Imagino, então, como seria para um brasileiro ter de se aventurar por isso.

A abertura dos primeiros restaurant­es coreanos na cidade de São Paulo serviu para atender a comunidade em bairros como Bom Retiro, Brás, Aclimação e outros da zona sul da capital paulista.

Mas o cenário vem mudando. Já temos casas com cardápio traduzido, com fotos que ajudam a descrever os pratos e atendentes mais amistosos.

Fora isso, a cultura coreana vem crescendo em diversas frentes com o K-pop, passando pelas novelas (K-Dramas)

10 minutos e também filmes. Lá fora, vemos o trabalho do chef estrela David Chang (do grupo Momofuku, com casas nos Estados Unidos, na Austrália e no Canadá), que aposta em diferentes plataforma­s, como as séries “The Mind of a Chef” e o mais recente “Ugly Delicious”, ambas disponívei­s na plataforma de streaming Netflix. Tudo isso reflete na busca por uma culinária ainda pouco conhecida.

A cozinha coreana é rica em texturas, sabores fermentado­s, carnes adocicadas e caldeirada­s escaldante­s e api- mentadas. No Komah, que tem uma proposta repaginada, os brasileiro­s são maioria. Gastamos energia para apresentar ao cliente que está tendo o primeiro contato o que é nossa refeição.

Mas outros restaurant­es na cidade também fazem esse trabalho, como o Bicol e Dare, com uma culinária mais tradiciona­l. A culinária coreana tem muito a oferecer. É uma mesa que proporcion­a uma interação dinâmica e íntima, onde se divide, se cria vínculos e se tem uma experiênci­a que vale a aventura.

Saber o que é preciso enfrentar para jantar em restaurant­e coreano me deixava ansioso. Confesso que às vezes desistia só de pensar. Imagino como seria para um brasileiro ter de se aventurar por isso

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